Um artigo do Instituto de Câncer e Ciências Genômicas da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, publicado no portal The Conversation, mostra que houve grande aumento dos casos de câncer de garganta nas últimas décadas, causados pelo papilomavírus humano (HPV). Sexualmente transmissível, o microrganismo viral é o principal causador da doença de colo de útero e uma das razões por infecções no fundo da boca, provocadas principalmente pela prática do sexo oral — motivo pelo qual o assunto tem se propagado na internet.
Segundo o médico Konrado Massing Deutsch, do Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o HPV é uma família viral extensa, que contém mais de cem tipos diferentes, numerados por HPV 1, HPV 2, HPV 3, assim por diante. Esses vírus podem causar verrugas na pele ou nas genitais dos seres humanos, na maioria das vezes de forma benigna. Mas também existem as manifestações malignas, que podem atingir as regiões do colo do útero, a vagina, o ânus e a própria garganta, no fundo da boca.
— As pessoas vão ter contato com o vírus por meio de outras pessoas infectadas. Seja por um aperto de mão, se tiver verruga no local, mas também por conta de mucosas. Aí entra o contato sexual, um beijo e o sexo oral. Qualquer um dos cem tipos de HPV pode ser contraído dessa forma — disse o médico.
Nos casos cancerígenos, normalmente proferidos pelo HPV 16, a doença não fica exposta. Inclusive, pode ser ser carregada por vários anos e décadas, aparecendo somente mais tarde.
— Posso contrair o vírus e não acontecer nada, posso carregá-lo por um tempo e depois eliminá-lo, sem eu nem mesmo saber, simplesmente por não aparecer nenhum sintoma. As vezes, a eliminação é natural do corpo humano, a partir dos mecanismos de defesa. Mas, nesse período, posso transmitir para outra pessoa. A doença pode se desenvolver como maligna 20 ou até 30 anos depois — afirmou Deutsch, ao também ressaltar que a doença não tem tratamento e depende do próprio organismo.
A tese predominante na publicação do The Conversation é de que a maioria das pessoas que praticam o ato sexual que envolve a estimulação da genitália de uma pessoa por outra usando a boca e a garganta, contrai infecções por HPV, mas não necessariamente serão prejudicadas. Mesmo assim, muitas pessoas não conseguem se livrar da infecção e, assim, o vírus acaba se replicando e se integrando em posições aleatórias no DNA do hospedeiro, algumas das quais podem fazer com que as células se tornem cancerígenas.
Sexo oral vira principal fator para câncer de garganta
Durante um longo período, os cânceres na garganta foram associados ao consumo de tabaco e álcool. Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, 70% de orofaringes diagnosticadas em território norte-americano estão relacionadas ao papilomavírus humano. Uma das razões apontadas pela ciência para o crescimento no número de infecções relacionadas à prática sexo oral na América do Norte é, justamente, a queda dos casos de câncer de orofaringe tipicamente originadas por tabagismo e etilismo.
No Brasil, não há um dado oficial quanto ao números de casos. Porém, diferentes hospitais trabalham com estatísticas próprias. No Hospital de Clínicas de Porto Alegre, segundo análise de Deutsch, 25% dos cânceres de orofaringe se devem ao HPV, os demais 75% têm relação com álcool e tabaco.
— Mas isso vem aumentando. As pessoas cada vez fumam menos e (dessa forma) há menos contribuição do cigarro nesse conta. Há 10 anos atrás esse numero era menor e no futuro vai aumentar, vai chegar ao 70%. — previu o médico.
O médico ainda ressalta que, em sua clínica privada, o número é contrário ao do Clínicas, hospital que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ele, 75% dos pacientes com plano de saúde e que possuem o problema em questão nunca fumaram nem beberam.
Calendário de vacinação contra a HPV
Na rede pública, o cronograma de vacinação contra o papilomavírus ocorre para crianças e adolescentes de nove a 14 anos. O antígeno do vírus é feito para recombinantes do tipo 6, 11, 16 (o mais perigoso) e 18.
É necessário completar duas doses, conforme a situação vacinal. Recomenda-se que a segunda deva ser realizada seis meses após a primeira aplicação.
*Produção: Nikolas Mondadori