Cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, identificaram um mecanismo envolvido no impacto negativo do funcionamento da autofagia, processo de descarte de substâncias pelas células do corpo. O processo é comum a diversas doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, e acarreta na formação de placas de proteínas no cérebro. As informações são do jornal O Globo.
Conforme a publicação, após a descoberta do mecanismo envolvido na disfunção da autofagia, pesquisadores testaram medicamentos originalmente criados para tratar a infecção pelo HIV em animais que apresentavam modelos de demência semelhantes à doença de Alzheimer. Esses medicamentos agem especificamente no receptor CCR5, relacionado ao mecanismo identificado.
O estudo foi publicado na quinta-feira (27) pela revista científica Neuron. Os cientistas concluíram que os indivíduos que receberam o fármaco, em estágios iniciais da doença, apresentaram uma diminuição nas placas de proteína e melhor desempenho em testes de memória em comparação com aqueles que não foram tratados.
Esse achado levou os pesquisadores a considerar a possibilidade de que medicamentos capazes de interromper o funcionamento do CCR5 possam ser úteis para prevenir ou atrasar a progressão de doenças neurodegenerativas.
Esses fármacos já existem, porém pensados para um diagnóstico completamente diferente: a infecção pelo HIV. Isso porque o vírus utiliza justamente o CCR5, que atua como uma espécie de interruptor, para entrar na célula e infectá-la. Os poucos casos de cura do HIV, por exemplo, foram de pacientes que receberam um transplante de medula óssea de doadores com mutações genéticas que levam o corpo a não produzir a CCR5.
Em 2007, um remédio chamado maraviroc, desenvolvido pela Pfizer, foi aprovado para o tratamento do HIV em países como Estados Unidos e Brasil por atuar justamente nesse receptor CCR5. No ano passado, um estudo publicado na revista científica Nature já havia mostrado que o fármaco restaurou a perda da memória em camundongos mais velhos. Imaginava-se que o efeito é relacionado ao aumento de expressão do CCR5 que acontece durante o envelhecimento.
Agora, o novo trabalho mostra que ele pode ser benéfico também para atuar no aumento consecutivo do CCR5 decorrente da atuação das micróglias em doenças neurodegenerativas.