Uma nova vacina contra a infecção pelo papilomavírus humano (HPV) chegou ao Brasil recentemente e está disponível para aplicação na rede privada. Chamado de Gardasil 9, o imunizante desenvolvido pela farmacêutica MSD oferece proteção contra nove subtipos do vírus — cinco a mais do que a vacina quadrivalente aplicada no Sistema Único de Saúde (SUS).
A nova vacina inclui os subtipos 31, 33, 45, 52 e 58 do HPV, além dos subtipos 6, 11, 16, 18 da versão oferecida na rede pública. A infecção pelo HPV está entre as infecções sexualmente transmissíveis (IST) mais comuns no Brasil e no mundo.
Dados do Ministério da Saúde estimam que haja entre 9 e 10 milhões de pessoas infectadas pelo HPV no Brasil e que surjam 700 mil novos casos de infecção por ano. O vírus é responsável por provocar verrugas genitais, além de ser o principal fator associado a câncer de útero, da vulva, da vagina e do ânus.
De acordo com a farmacêutica, estudos indicam que esses cinco novos subtipos são responsáveis por um acréscimo de 20% dos casos de câncer de colo de útero (além dos 70% causados pelos quatro subtipos contidos na vacina quadrivalente), sendo os nove subtipos da vacina responsáveis por 85% dos casos de câncer vaginal.
Em comparação com a vacina quadrivalente, a fórmula nonavalente, conforme o laboratório, oferece um escudo mais abrangente para os principais cânceres relacionados ao HPV: aumenta em 5% a proteção para o câncer vaginal, entre 10% e 15% para o de vulva e de 20% a 35% para o anal. Para o câncer de colo de útero, o principal relacionado ao vírus, a vacina que abrange quatro subtipos do HPV protege 70%, e a versão para nove subtipos, 90%.
A nova vacina, vendida em clínicas particulares por R$ 950, em média, é indicada para meninos e meninas, homens e mulheres de nove a 45 anos. Para meninas e meninos de nove a 14 anos, o esquema vacinal é de duas doses, com seis meses de intervalo.
Já a partir de 15 anos, recomendam-se três doses, sendo a segunda dois meses após o início do esquema vacinal, e a terceira, seis meses depois (esquema zero-dois-seis meses). Imunossuprimidos (pacientes com deficiências no sistema imunológico) de nove a 45 anos, independentemente da idade, devem receber três doses, também no esquema zero-dois-seis meses.
A vacinação é muito mais efetiva quando realizada na infância. Marina Della Negra, médica infectologista e diretora médica da área de vacinas da MSD, explica que a resposta imunológica do organismo até os 14 anos é superior à resposta obtida após os 15 anos.
— O ideal, para qualquer vacina, é dar antes do contato com a doença. Neste caso, é importante também dar a vacina antes do início da vida sexual — acrescenta Marina.
Questionado por GZH, o Ministério da Saúde informou que não há, neste momento, previsão de inclusão da vacina nonavalente no Programa Nacional de Imunizações (PNI). Em nota, a assessoria de imprensa da pasta destacou a importância da vacina quadrivalente: "Tem comprovadamente impacto na prevenção dos principais subtipos de alto risco de HPV (16 e 18), que podem resultar em cânceres em mulheres e homens, especialmente o câncer de colo do útero. Além de conter os subtipos 6 e 11, prevalentes nas infecções que levam a verrugas genitais. O 16 e o 18 representam cerca de 70% de todos os casos de câncer do colo do útero em todo o mundo".
"Altas coberturas da vacina quadrivalente terão um impacto muito maior do que a ampliação da proteção por tipo de vacina, lembrando que o Brasil, em conjunto com outros países do mundo, se comprometeu, junto a Organização Mundial da Saúde (OMS), alcançar até 2030 coberturas vacinais iguais ou acima de 90% para possibilitar a eliminação do câncer de colo de útero", diz o ministério.
Vacina contra o HPV já existe no SUS
Desde 2014, o PNI disponibiliza a vacina HPV4, que protege contra os subtipos 6, 11, 16 e 18. Inicialmente, o imunizante foi integrado à rede pública para meninas de 11 a 13 anos e, posteriormente, foi sendo estendido de forma progressiva para outras faixas etárias. Em 2017, os meninos passaram a ser contemplados. Desde 2022, a vacina consta como rotina do calendário nacional de imunização para crianças e adolescentes de nove a 14 anos de ambos os sexos.
A principal diferença entre a nova vacina e a já disponibilizada pelo SUS é o fator de proteção, já que a Gardasil 9 previne contra cinco subtipos a mais.
Por causa disso, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) emitiu uma nota técnica recomendando o imunizante como preferencial por aumentar a proteção contra as doenças associadas ao HPV. Entretanto, a entidade científica destacou que a nonavalente não diminui a importância da quadrivalente, oferecida pelo PNI, uma vez que a vacina protege contra o HPV16 e o 18, os principais tipos subtipos de HPV associados ao câncer.
— Aumentar a proteção é importante na esfera individual, mas, em questão de saúde pública, a vacina que já temos é excelente. A quadrivalente continua sendo o carro-chefe, principalmente porque, em termos de saúde pública, você tendo uma vacina que tem possibilidade de evitar 70% dos casos de câncer de colo de útero é maravilhoso — afirma Juarez Cunha, presidente da SBIm.
Além do incremento de proteção, o médico ressalta que outra vantagem da nonavalente é a ampliação da faixa etária que pode receber a vacina, visto que, no SUS, o imunizante é restrito a jovens ou a adultos imunossuprimidos. No sistema público, a quadrivalente pode ser aplicada neste público em pessoas de nove a 26 anos ou de nove a 45 anos de idade — a depender da causa da imunossupressão.
Segundo a SBIm, quem já recebeu a vacina quadrivalente, ou ainda a bivalente, e deseja ampliar a proteção por meio da aplicação da nonavalente deve aguardar 12 meses após o término do esquema de vacinação para, então, receber o novo imunizante.
Estudo da Fundação do Câncer divulgado no fim de março aponta que todas as capitais e regiões brasileiras estão com a vacinação contra o HPV abaixo da meta estabelecida pelo Programa Nacional de Imunizações e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O que é o HPV?
Vírus transmitido pela relação sexual ou pelo contato direto com pele ou mucosas (oral, genital ou anal) infectadas de homens e mulheres, o HPV é responsável pela quase totalidade dos casos de câncer do colo do útero, por mais de 90% dos casos de câncer anal e por 63% dos cânceres de pênis, além de parte de outros tipos de tumores, como os de garganta, vulva e vagina.
Cerca de 80% das mulheres sexualmente ativas são contaminadas com o vírus em algum momento da vida. Na maior parte das vezes, essa infecção não provoca nenhum sintoma e é eliminada naturalmente pelo organismo.
A infecção por HPV é causa necessária para o desenvolvimento do câncer do colo do útero. As infecções que persistem estão relacionadas a 12 tipos considerados oncogênicos, especialmente os HPV 16 e 18, e têm maior risco de progressão para lesões que, se não identificadas, confirmadas e tratadas, podem evoluir para câncer.
O câncer de colo de útero
Excetuando-se o câncer de pele não melanoma, o câncer de colo de útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina (atrás do câncer de mama e do colorretal), e a terceira causa de morte de mulheres por câncer no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Também de acordo com o Inca, o número de casos novos de câncer de colo de útero no Brasil, de 2023 a 2025, deve chegar a 17 mil por ano no país.
O Sul está em quarto lugar no ranking nacional das regiões em relação à taxa bruta de incidência de câncer do colo do útero por região: são 14,55 casos por 100 mil mulheres, atrás do Sudeste, com 12,93 casos por 100 mil mulheres. A região com maior incidência de casos é o Norte, com 20,48 por 100 mil mulheres.