Seja água com gás ou refrigerante, as bebidas gaseificadas fazem parte do dia a dia de muitas pessoas e costumam dividir opiniões: há quem deteste e diga que todas fazem mal à saúde e há quem defenda o consumo moderado. Por isso, é comum encontrar na internet boatos relacionados a essas bebidas — como o que afirma que Coca-Cola com abacaxi eliminaria pedra nos rins e na vesícula, um rumor já checado e desmentido por GaúchaZH.
Também circula pelas redes a informação de que o consumo das bebidas com gás pode gerar descalcificação óssea. Charles Lubianca Kohem, médico reumatologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), assegura que a afirmação não é verdadeira e que os fatores comportamentais que comprovadamente interferem na qualidade dos ossos são, sobretudo, o tabagismo e o álcool.
— Pessoas que fumam e bebem muito podem desenvolver a osteopenia, que é a perda de massa óssea que pode levar à osteoporose (doença que compromete a resistência dos ossos e aumenta o risco de fraturas espontâneas) — explica Kohem.
Para o traumatologista do Hospital Independência Maurício Longaray, o boato é embasado em um comum "experimento", onde é possível observar a corrosão do osso, após colocá-lo de molho em um copo com Coca-Cola. O médico esclarece que a experiência funciona por causa da acidez do refrigerante e garante que a descalcificação ocorreria inclusive se o osso fosse colocado na água mineral com PH abaixo de sete, já que isso a torna mais ácida.
— Com essa informação, as pessoas extrapolam e pensam que isso vai acontecer dentro da gente (caso bebam água com gás ou refrigerante). Mas temos um sistema digestivo com uma mucosa que é feita para receber o ácido, temos mecanismos internos para regular isso e proteger o osso — salienta.
Longaray exemplifica o preparo do corpo citando o prato preferido de muitos gaúchos:
— Quando comemos churrasco, nosso PH baixa para quase dois para podermos digerir. O próprio estômago produz o ácido clorídrico para fazer a digestão, então o aparelho digestivo equilibra isso, tira a acidez e ela não vai direto para os ossos.
Além disso, o sangue, os rins e os pulmões trabalham para fazer o equilíbrio entre ácido e base e não expor os tecidos à alta acidez.
Causas da descalcificação
Os especialistas destacam que a saúde do osso está relacionada à genética e ao histórico familiar da pessoa, bem como à ingestão de cálcio durante a infância e a adolescência, que é quando ocorre o processo de calcificação. O problema de baixa massa óssea pode ocorrer em pessoas que são muito magras e, geralmente, afeta mais as mulheres do que os homens — principalmente depois da menopausa.
O nível de vitamina D, a alimentação, o sistema endócrino e a falta de exercícios físicos também podem estar vinculados à descalcificação.
— Exercícios com resistência, como a musculação, são bons para manter o cálcio no osso. Por isso, são recomendados para idosos. Além da ida regular ao médico, a prática de exercícios é muito benéfica para não haver descalcificação — ressalta o traumatologista Maurício Longaray.
E no geral, bebidas gaseificadas são maléficas à saúde?
Veridiana Maffassiolli, coordenadora do serviço de nutrição do Hospital Divina Providência, explica que os refrigerantes fazem mal à saúde por causa da grande quantidade de açúcar, conservantes e corantes presentes em sua composição.
— O refrigerante não tem nenhum valor nutricional, o que significa que o corpo não tem nenhum benefício com o consumo dele — afirma Veridiana.
Ao comparar a água gaseificada com o refri, a nutricionista garante que o melhor é a água por não conter açúcar, sendo importante consultar o rótulo da bebida, pois algumas marcas têm mais sódio do que as outras. No entanto, a sem gás ainda deve ser a primeira opção a ser considerada:
— Mesmo que a pessoa tome água com gás, é preciso intercalar com água natural e ingerir no mínimo dois litros ao longo do dia.
*Produção: Jhully Costa