A pandemia de coronavírus trouxe muitas dúvidas e preocupações à sociedade — o que contribui para a propagação de notícias falsas sobre a doença. Recentemente, circulam pelas redes sociais duas mensagens que dão dicas de como prevenir e combater a covid-19.
Uma delas afirma que o ato de bochechar ou gargarejar enxaguante bucal protege contra o vírus e evita a transmissão quando a pessoa já está infectada. Já o outro texto diz que manter a garganta úmida, bebendo água a cada 15 minutos, previne a doença. Mas, de acordo com especialistas ouvidos por GaúchaZH, as afirmações não são verdadeiras.
Para o médico infectologista Sidnei dos Santos Júnior, do Hospital Divina Providência, não há embasamento científico na primeira mensagem. Segundo ele, o componente mais importante dos enxaguantes bucais é o triclosan, que não tem eficácia antiviral e, portanto, não tem ação contra o coronavírus.
Diego Falci, infectologista do Hospital Moinhos de Vento (HMV), acredita que a mensagem seja guiada pela ideia de que o álcool — substância contida em alguns enxaguantes — possa ter efeito contra o vírus. Ele afirma que, mesmo que o vírus seja extremamente sensível ao álcool, o ato de utilizar o antisséptico não vai curar uma pessoa infectada.
— Na pessoa doente, ocorre replicação viral constante e intensa, em diferentes células na orofaringe e nasofaringe. Dessa forma, um simples gargarejo não vai eliminar o vírus das células desse paciente. Isso não é considerado um tratamento nem diminui a transmissão da doença — garante o médico.
Falci ressalta que a situação é completamente diferente quando utilizamos o álcool para higienizar as mãos que podem ter contato com uma superfície contaminada:
— Se o vírus está na mão da pessoa, ele ainda não iniciou seu ciclo de infecção, ele não está causando a doença. Então, se a pessoa higieniza a mão com álcool, álcool gel ou água com sabão, ela consegue eliminar o vírus antes de se contaminar.
Hidratação não "limpa" o vírus das células
Em relação a segunda mensagem, que afirma ser importante molhar a garganta porque o vírus "vai direto para o estômago, e não há bactéria ou vírus que resista ao suco gástrico", e que "se a garganta estiver seca, o vírus vai para o esôfago e, dali, para os pulmões, onde ocorre a dificuldade em respirar", Sidnei salienta que manter-se hidratado é um hábito de vida saudável, mas explica que a água não tem propriedade de prevenir a infecção por coronavírus:
— A ocorrência de infecção depende da capacidade do vírus aderir e adentrar às nossas células. Essa capacidade é maior do que a da água de "lavá-lo" da nossa garganta. Mesmo que seja ingerida uma grande quantidade de água, não é possível retirar o vírus das células.
Falci acrescenta:
— Há diversas informações erradas, inclusive de anatomia. Por exemplo, o que liga a orofaringe aos pulmões não é o esôfago.
Além disso, o infectologista ressalta que, em alguns pacientes, a doença causa sintomas como náusea e vômito. Ou seja, o vírus também infecta as células do trato gastrointestinal, o que derruba a afirmação de que o suco gástrico é capaz de matar o vírus.
*Produção: Jhully Costa