A quantidade de informação disponível nas redes sociais sobre a prática de atividades físicas deixa muitas pessoas em dúvida sobre o que é verdade e o que é boato. Por isso, há quem desconfie, por exemplo, da existência de uma alergia ao exercício e considere somente uma desculpa para fugir do treino.
De acordo com Taciana Dal'Forno Dini, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio Grande do Sul, a alergia existe e recebe o nome dermatológico de urticária colinérgica. Ela afirma que o problema é uma reação da pele ao aumento da temperatura corporal, que também pode ocorrer depois de um banho quente ou de um estresse emocional.
A médica dermatologista do Hospital Moinhos de Vento (HMV) Mariele Bevilaqua explica que, durante a realização da atividade física, o organismo libera uma substância que promove a dilatação dos vasos sanguíneos da pele e das mucosas. Com essa dilatação, podem ocorrer lesões vermelhas e salientes que coçam, assim como o inchaço das mucosas (lábios, por exemplo).
Geralmente, as lesões são localizadas no pescoço, no tronco ou na raiz dos membros, e podem aparecer instantaneamente ou em alguns minutos e horas. Duram até 24 horas e tendem a regredir à medida que o estímulo for interrompido. São mais comuns em adolescentes e adultos jovens.
— Na maioria das vezes, os sinais iniciam na adolescência, quando as pessoas começam a praticar exercícios. Existe uma predisposição genética, mas pode ser que a pessoa nunca tenha tido e desenvolva ao longo da vida essa hipersensibilidade, não necessariamente na primeira vez que faz uma atividade física — esclarece Mariele.
Taciana ressalta que a reação também está associada a outros fatores de alergia, como dermatite atópica, rinite alérgica e asma, ou seja, pacientes alérgicos têm mais tendência a desenvolver a urticária colinérgica. Em relação à prevalência estimada, a médica afirma que é entre 4% e 11% da população geral — o que, segundo ela, não é uma prevalência tão baixa.
Diagnóstico e tratamento
Para diagnosticar o problema, é preciso fazer uma consulta com dermatologista. Mariele conta que, nesse momento, é realizado o exame físico das lesões e, dependendo do tipo de urticária identificada, são feitos alguns testes e exames de sangue.
— Muitas vezes, os pacientes não têm lesão no momento da consulta, então eles trazem fotos ou vídeos, é uma coisa que ajuda — recomenda.
Apesar de ser uma urticária crônica, fazendo com que os pacientes tenham os sintomas todas as vezes em que ocorre o aumento da temperatura corporal, é possível tratar o problema com medicamentos que bloqueiam o processo inflamatório. Por isso, não é necessário parar de fazer exercícios. Mas a dermatologista reforça a importância de avaliar a gravidade do problema com um profissional:
— O paciente pode fazer tratamento, tomar a medicação antes do exercício, mas é preciso avaliar o risco, pois elas (as urticárias) podem ser leves, moderadas e intensas. Nos casos intensos, os pacientes podem ter até uma reação anafilática, que pode levar a uma parada respiratória, por causa do exercício, então, nesse caso, convém evitar a prática.
*Produção: Jhully Costa