É comum encontrar pela internet mensagens com receitas milagrosas para a cura do câncer. Não importa qual seja o tipo da doença, você vai encontrar uma suposta “solução milagrosa”. A verdade é que maioria delas já foi desmentida por especialistas. Ainda assim, elas surgem cada vez mais – e são cada vez mais compartilhadas nas redes sociais. O escolhido da vez é o chá de folhas de graviola, que, segundo texto e áudio compartilhados nas redes, cura qualquer tipo de câncer. Será que, desta vez, é verdade?
O texto, acompanhado de um áudio, é um daqueles que, a princípio, confundem quem o recebe, já que traz como informação o nome e o CRM (número de identificação no Conselho Nacional de Medicina) do médico que supostamente dá a dica. Se a mensagem tem uma fonte confiável, de um profissional da área, posso confiar, certo? Errado. As fake news podem ir um pouco mais adiante quando se trata de desinformar e enganar a população.
O médico Rafael Onuki Sato, citado na mensagem, é de fato oncologista, mas nunca gravou um áudio dizendo que a graviola ou o chá feito de suas folhas são capazes de curar qualquer tipo de câncer. O que aconteceu foi que alguém com más intenções gravou a mensagem e a atribuiu ao médico. Em seu Facebook, para esclarecer toda a confusão que havia se criado, Onuki escreveu o seguinte comunicado:
“Informo com veemência que não sou eu o autor, divulgador ou que tenha qualquer ligação com o áudio referido. Gostaria também de enfatizar que, na qualidade de cirurgião oncológico, sou totalmente contra o conteúdo veiculado no áudio, e para referências futuras, contra qualquer tipo de medicina alternativa ao tratamento convencional como substituição ao tratamento do câncer, a menos que devidamente testada e aprovada por órgãos competentes e com extensos trabalhos científicos e pesquisas.”
Quando se fala de tratamento de qualquer tipo de doença, é preciso que existam estudos científicos que comprovem sua eficácia. No caso da graviola ou do chá das folhas do fruto, isso não existe, então esse método não pode ser um tratamento ou uma solução.
– Não há dúvidas de que muitos medicamentos surgiram após a suspeita de que alguma substância da natureza é capaz de contribuir com o tratamento do câncer. Mas, para que seja provado que tem impacto relevante contra a doença, são necessários testes e pesquisas científicas – esclarece o oncologista Stephen Stefani, do Hospital Mãe de Deus.
– Existe uma distância muito grande entre o potencial benéfico de alguma substância identificada na natureza e o resultado que a torna clinicamente relevante. Chamamos isso de medicina científica – acrescenta.
Em relação a tratamentos, duas coisas devem ser observadas: existem aqueles que são clinicamente estudados e cientificamente testados, e há também os não convencionais que, na maioria das vezes, são baseados na ingestão de algum composto natural, como é o caso da graviola.
– Há o que chamamos de efeito placebo, que ocorre quando o paciente acredita tanto naquele tratamento que o organismo passa a responder de alguma forma, fazendo com que, do ponto de vista dele, isso signifique uma melhora. Mas, na verdade, não fará nem bem, nem mal – diz o oncologista clínico Carlos Eugênio Escovar, da Santa Casa.
É importante saber: métodos não convencionais nunca podem ser utilizados de forma exclusiva. O tratamento convencional, prescrito e indicado pelo médico responsável por cada caso, deve ser seguido sem interrupções, a menos que ele passe outra instrução.
– É dever do profissional orientar, esclarecer, ter paciência e empatia para explicar que somente o uso de tratamentos alternativos não será capaz de curar a doença. Pessoas que enfrentam doenças graves ficam vulneráveis, e é natural que acreditem em soluções milagrosas para o problema – afirma Escovar.
Pessoas que estejam enfrentando um câncer ou qualquer outro tipo de doença precisam sempre ter o médico responsável como referência. Jamais se deve parar por conta própria um tratamento indicado pelo profissional da saúde ou começar outro sem a recomendação do mesmo. O médico é a pessoa mais habituada ao caso do paciente que atende, e somente ele saberá indicar o que faz bem ou não em cada situação.