Informações sobre medicamentos e suas composições não faltam na internet. Em pouco tempo, surgiram mensagens afirmando que paracetamol contém o vírus Machupo, que remédios vendidos em farmácias contêm fenilpropanolamina (substância banida do Brasil há 18 anos) e que vacinas causam autismo – todas elas desmentidas, inclusive pelo Ministério da Saúde. Como se não bastasse, há mais uma mensagem do tipo circulando no WhatsApp e em posts no Facebook, afirmando que a dipirona – que, de acordo com a mensagem, é importada da Venezuela – tem o vírus Marburg, causador da febre hemorrágica de Marburg. Será que isso é verdade?
Para fins de comparação, a mensagem sobre o paracetamol conter o vírus Machupo tem trechos exatamente iguais aos da que diz que a dipirona contém o vírus Marburg, como: "É um medicamento novo, muito branco e brilhante". Ou seja, é provável que um texto tenha sido copiado do outro e que o local de onde ele é importado e o nome dele tenham sido alterados. Só com essas informações já podemos imaginar que a mensagem é falsa, mas não acaba por aí. Há uma outra parte da mensagem que diz que "os médicos comprovam que o medicamento contém o vírus", mas que médicos são esses? Quais são os nomes deles? Onde trabalham? Onde estão suas pesquisas comprovando a veracidade do texto? Informações como essas são essenciais quando o assunto é saúde, porém, nenhuma delas é respondida.
Logo que a mensagem começou a circular, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – também responsável pela regulamentação de medicamentos vendidos em território brasileiro – se posicionou, afirmando que a informação não é verdadeira e que não deve ser compartilhada. Segundo o órgão, para ser comercializado no Brasil, um medicamento precisa estar registrado junto à agência. Antes deste registro ser feito, há uma verificação para comprovar a segurança e a eficácia do produto. Além disso, somente medicamentos produzidos em fábricas que tenham sido inspecionadas e que obedeçam às normas de boas práticas e fabricação podem ser comercializados.
– O processo de fabricação dos medicamentos é regulamentado pelos órgãos de fiscalização de cada país. No Brasil, a Anvisa certifica as indústrias farmacêuticas para que possam comercializar os medicamentos, garantindo a qualidade dos produtos disponibilizados à população – explica Leonel Almeida, coordenador da área de assistência farmacêutica da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre.
– É importante que as pessoas tenham consciência de que há uma agência regulamentadora responsável pelos produtos que são vendidos. No site da Anvisa, é possível ver todas as informações sobre qualquer medicamento – acrescenta.
Outra questão a ser considerada é o fato de que as principais formas de contágio da febre hemorrágica de Marburg são por meio de fluidos corporais e contato direto com pessoas, animais, equipamentos ou objetos contaminados pelo vírus. De acordo com o Conselho Federal de Farmácia (CFF), para ser vendido, um medicamento passa por diversos testes de controle microbiológico e físico-químico, sendo assim, não há possibilidade alguma de que um medicamento seja o transmissor de doenças causadas por vírus ou bactérias.
O que é o vírus de Marburg?
O vírus de Marburg é originário da África, onde foi identificado pela primeira vez em 1967. Da mesma família do Ebola, a Fivoliridae, o Marburg é um vírus raro e severo, que provoca febre hemorrágica e afeta humanos e primatas. Um surto grave da febre, envolvendo dois grandes centros, Marburg (mesmo nome dado à doença), na Alemanha, e Belgrado, na Sérvia, levou ao reconhecimento inicial do vírus. O surto foi associado a laboratórios que realizavam pesquisas com macacos verdes importados da Uganda. A doença é transmitida por sangue, líquidos biológicos, secreções, tecido humano ou animal infectados. Atualmente, é encontrado em países do Sul da África.