Ao passar por uma dor de garganta ou gripe forte, é comum receber indicações de remédios caseiros e milagrosos: mel com limão, com hortelã, com própolis, com alho... Não importa a combinação, o mel é figura frequente nas famosas receitas da vovó. Na internet, há diversas dicas sobre quais doenças ele pode curar e como preparar a solução adequada para cada uma delas. Uma mensagem que circula nas redes sociais diz que, além de nunca estragar, o mel é capaz de curar quase todas as doenças – de problemas no coração até picadas de inseto. Mas será que isso é verdade?
As dicas do texto não passam de mais um boato espalhado nas redes. Por conta de sua composição – rica em açúcar e pobre em água, que impede a proliferação de microrganismos –, o mel tem mesmo um prazo de validade longo, mas não indefinido: ele precisa ser consumido em até dois anos, de acordo com determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
– A estimativa é feita em termos de segurança. O mel pode absorver água, causando fermentação e oxidação, o que altera cor, sabor e elimina algumas de suas propriedades – explica o pesquisador Cristiano Menezes, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Ou seja, não podemos dizer que o mel nunca estraga, pois isso vai depender das condições às quais ele foi submetido. É importante deixá-lo sempre fechado, em um ambiente seco.
– Isso não significa que, após os dois anos, você precisa jogar o mel fora. Mas é importante ficar atento à aparência e ao sabor – recomenda Menezes.
O pesquisador explica que o mel é um alimento funcional, ou seja, tem benefícios, mas não deve ser tratado como um remédio:
– Alguns tipos têm efeito cicatrizante. O comum, que utilizamos no Brasil, tem propriedades antibióticas que ajudam em dores de garganta, gripe e fortalecem o sistema imunológico. Mas curar doenças, o mel não cura.
A mensagem que circula nas redes diz que o mel cura quase todas as doenças, o que já deve ser motivo de desconfiança.
– Essa informação é, no mínimo, bem pretensiosa. Não há comprovação científica de que o mel ou qualquer outro alimento possa curar alguma doença – explica a coordenadora médica do Serviço de Endocrinologia do Hospital Mãe de Deus, Melissa Barcellos Azevedo.
A especialista destaca que grande parte das doenças que estão presentes no mundo ocidental não tem cura. São problemas como colesterol e diabetes, que podem ser controlados para que não evoluam. Ter uma alimentação saudável, manter o peso em dia e praticar atividades físicas são fundamentais para a prevenção.
– Os principais males que atingem a população mundial são crônicos, e não transmissíveis. Não há relação com o mel e, sim, com em manter ou não uma alimentação saudável – diz Melissa.
Não acredite em receitas milagrosas
O texto traz diversas receitas, todas falsas: “Faça uma pasta de mel com canela e coma com pão todos os dias no café da manhã, isso reduzirá o colesterol das artérias e prevenirá problemas do coração”. “Misture mel, água morna e canela em pó, faça uma pasta e esfregue-a sobre o local em que o inseto picou. A dor e a coceira irão desaparecer em um ou dois minutos”.
De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, nenhuma das recomendações trazidas no texto tem embasamento científico. O dermatologista Rodrigo Duquia, da Santa Casa de Porto Alegre, alerta sobre os riscos de procurar resolver os problemas dermatológicos com buscas simples pela internet:
– Não é indicado usar o mel como nenhum tratamento dermatológico. Às vezes, as pessoas querem resolver o problema rápido e acabam seguindo as informações que são divulgadas em sites pouco confiáveis. Dependendo do que se passa no local ferido, a situação pode até piorar.
Ou seja: assim como legumes, frutas, verduras, ou qualquer outro alimento natural, o mel tem propriedades positivas que podem trazer benefícios, mas não é capaz de curar doenças.