Estamos no Outubro Rosa, mês de conscientização sobre o câncer de mama e, neste período, as mensagens sobre o tema se multiplicam nas redes sociais – o que torna ainda mais importante o cuidado para não cair na armadilha das notícias falsas. Um texto que circula pela internet, por exemplo, diz que os sutiãs são vilões da saúde da mulher e podem ser responsáveis por causar câncer de mama. Será que isso é verdade?
A mensagem tem diversas características que já devem ser motivo de desconfiança: o conteúdo é alarmante, não mostra fundamento científico ou médico, não cita as fontes e tem diversos pedidos para que seja compartilhada.
A informação de que sutiã causa câncer, apesar de falsa, tem uma origem: em 1995, os pesquisadores Sydney Ross Singer e Soma Grismaijer publicaram um livro chamado Dressed to Kill (Vestida para matar, em tradução livre), dizendo que a peça comprimia os seios, impossibilitando a drenagem linfática e causando acúmulo de líquidos que favoreceriam a formação do câncer. Até hoje, não há nenhum estudo científico capaz de comprovar a relação entre sutiã e câncer de mama. Os especialistas ouvidos por GaúchaZH afirmam que as suposições trazidas no livro são equivocadas e sem sentido.
– Dizer que sutiã causa câncer de mama é quase a mesma coisa que dizer que isqueiro causa câncer no pulmão. Fazem parte do mesmo universo, mas não são os responsáveis pelo problema – afirma a mastologista Betina Vollbrecht, do Hospital Mãe de Deus e do Hospital São Lucas da PUCRS.
A única função do sutiã é dar conforto às mulheres nas atividades diárias. Procurar o melhor modelo para seu tipo de corpo e utilizar o tamanho correto é o ideal. Se a peça tem hastes de ferro ou não, se as alças são grossas ou finas ou se há ou não enchimento não faz diferença alguma para a saúde – nenhuma desses fatores vai causar câncer, esclarecem os médicos.
– O único incômodo que os sutiãs podem proporcionar é dor, e isso só acontece quando a mulher usa o tamanho inadequado. Mas câncer, com certeza, eles não causam – afirma Betina.
Usar sutiã não provoca câncer, mas há outros fatores que estão relacionados ao desenvolvimento de um tumor maligno na região dos seios. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 30% dos casos de câncer de mama poderiam ser evitados com a adoção de práticas saudáveis.
– Sedentarismo, ingestão de álcool e obesidade são alguns dos fatores que podem aumentar o risco de desenvolver a doença. Assim, praticar atividades físicas, ter uma alimentação balanceada e controlar o peso ajudam a evitar o problema – aconselha o mastologista Rogério Grossmann, do Hospital Santa Rita.
Há também os fatores genéticos e hereditários, que correspondem a aproximadamente 10% dos casos. Ou seja, mulheres que têm histórico da doença na família estão mais propensas a desenvolver o tumor. Gravidez e menopausa tardia, bem como nunca ter tido filhos ou amamentado aumentam as possibilidades de ter da doença. Especialistas acreditam que isso está relacionado ao fato de que a gestação e a amamentação retardam a ovulação e, consequentemente, diminuem os níveis de hormônios presentes no corpo. Quanto maior é o número de ovulações, maior é o risco de desenvolver células mutantes, por causa do altos níveis de estrogênio. A idade também é um fator de risco. A maior parte dos diagnósticos acontece entre as mulheres com mais de 55 anos.
Portanto, atenção: sempre que vir qualquer informação sobre saúde circulando nas redes sociais, faça pesquisas em sites médicos confiáveis, converse com especialistas e procure estudos científicos que possam comprovar o que está sendo dito. As chances de recuperação são maiores quando o câncer de mama é identificado logo em sua fase inicial e boatos podem prejudicar o diagnóstico.