Beber água é fundamental para o bom funcionamento do organismo – isso, todo mundo já sabe. Mas anda circulando, desde outubro de 2015, uma nova dica na internet sobre o assunto – que, por sinal, é bem curiosa. A mensagem alerta para um conselho “valioso”: “Beber água antes e durante o tingimento dos cabelos sem eliminar a urina evita câncer de bexiga”. Segundo o texto, a ação evitaria que o chumbo presente nas tintas ficasse armazenado na bexiga, o que causaria o câncer. Será que isso é verdade?
É BOATO!
“É uma interpretação muito superficial sobre a cinética do chumbo no organismo”, alertou, em nota, o Ministério da Saúde. “Este ato pode ainda levar maior quantidade de chumbo aos tecidos mineralizados, favorecendo seu acúmulo em ossos e dentes, em vez de contribuir com a sua eliminação de fato”, continua o comunicado.
Assim como os outras mensagens que circulam na internet disseminando informações mentirosas, essa não cita dados básicos como o nome da médica que deu o “conselho”, a cidade em que aconteceu a conversa e o nome do hospital do câncer. Portanto, beber água durante o tingimento dos cabelos não evita o câncer de bexiga.
– Nem de bexiga, nem em outro órgão. As tinturas de cabelos atuais não utilizam compostos químicos carcinogênicos – esclarece o oncologista Alan Azambuja, do Hospital Mãe de Deus.
O médico acrescenta que o câncer de bexiga está relacionado ao tabagismo, e não às tintas de cabelo:
– O fumo aumenta 30 vezes as chances de se ter a doença. Além do cigarro, outros fatores como genética, consumo de produtos químicos e infecções aumentam os riscos de desenvolver esse tipo de câncer.
A boa notícia: se você recebeu a mensagem e seguiu o “conselho” sem desconfiar de sua veracidade, não precisa se preocupar.
– Beber água é muito positivo para a saúde, contribui para o sistema digestivo e renal, melhora a qualidade da pele, permite uma reposição de sais minerais e contribui para o controle de peso – enumera Azambuja.
Tinturas causam outros danos?
As tinturas capilares não causam danos à saúde, mas podem provocar alergias. É o que explica o médico Giovanni Di Gesu, especialista da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai):
– Após a década de 1980, foi restringida em tinturas de cabelo a presença de algumas substâncias químicas com maior potencial tóxico, o que minimizou possíveis agravos à saúde. Alguns estudos científicos realizados no passado, com resultados controversos, não confirmaram uma associação do costume de tingir o cabelo com doenças mais graves. No entanto, as reações irritativas ou alérgicas podem ocorrer com certa frequência, mesmo em pessoas habituadas ao uso regular do produto.
As irritações alérgicas estão ligadas a substâncias como hidroquinona, cloreto de cobalto, sulfato de níquel e parafenilenodiamina, que têm potencial de provocar reações muito intensas – ainda assim, só restritas à pele. Coceira, queimação e edema podem surgir mesmo após várias horas da aplicação.
– Além disso, podem surgir vermelhidão, vesículas ou pequenas bolhas no couro cabeludo, na região do pescoço, nas orelhas, na face e no colo – aponta Di Gesu.