Sobram lamentos sobre os transtornos provocados pelo clima do inverno no Rio Grande do Sul. Entre eles, além das paredes e dos pisos que vertem água e das roupas no varal que jamais secam, estão os mais incômodos e potencialmente graves: estamos na época do ano em que há maior incidência de doenças respiratórias, como gripe, pneumonia, bronquiolite, sinusite e rinite. Haja saúde.
Adoecemos mais agora devido a três fatores principais. Em primeiro lugar, o frio e a umidade são propícios ao surgimento de sintomas respiratórios, como tosse, falta de ar, catarro, chiado no peito e coriza, que se manifestam de maneira mais forte em quem já tem alguma enfermidade respiratória. Outro fator importante é que as condições climáticas propiciam a proliferação de germes, mofo, vírus e bactérias, o que está diretamente ligado ao terceiro aspecto – as pessoas passam mais tempo em ambientes fechados, tentando se aquecer, e, em consequência, há menor ventilação em casas, salas de aula, escritórios e ônibus, onde a presença de um único doente pode contaminar inúmeros presentes.
– Quem não tem doença respiratória prévia também pode desenvolvê-la. Febre, tosse e catarro são sintomas que devem fazer a pessoa evitar ir ao trabalho ou a outros locais onde pode ocorrer a transmissão de viroses e bactérias. Se durarem mais de dois, três dias, é sinal de coisa séria – alerta o pneumologista Adalberto Rubin, chefe do Serviço de Pneumologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
O pneumologista José Chatkin, professor da Escola de Medicina da PUCRS e coordenador do Serviço de Pneumologia do Hospital São Lucas da PUCRS, alerta que os males dos meses gelados tendem a ser mais sérios para crianças e idosos. Entre os pequenos, o sistema imunológico ainda não está maduro, principalmente ao longo do primeiro ano de vida, e, nos mais velhos, as defesas já começam a falhar.
– Se somarmos a isso alguns fatores que contribuem para que as defesas não funcionem, como tabagismo, uso de medicamentos imunossupressores (que alteram a imunidade) e doenças crônicas, a situação fica bem mais difícil – diz Chatkin.
O quadro clínico na velhice pode não ser tão claro como nos adultos, destaca o professor. Uma gripe ou uma pneumonia talvez fique mais “escondida” no idoso, e só um exame médico detalhado é capaz de revelar o real diagnóstico por trás de uma perda de apetite ou de um estado geral mais atrapalhado. O paciente de mais idade perde a força para tossir e não consegue expectorar. No caso de crianças de até cinco anos, sintomas que devem levar os pais a procurar atendimento imediato, no posto de saúde ou em emergências, são febre alta (acima de 38ºC) e frequência respiratória aumentada (respirar com dificuldade). Adultos que tiverem tosse e expectoração purulenta, com ou sem febre, precisam ser avaliados para que se comprove ou descarte um início de pneumonia.
– Isso é importante, principalmente, se o paciente é fumante ou ex-fumante. A possibilidade de uma complicação grave é alta – acrescenta o professor da PUCRS.
Como medida preventiva, a vacinação é uma das mais eficazes. Pais costumam seguir o calendário previsto para os bebês no primeiro ano, com os reforços subsequentes, mas os idosos acabam sendo frequentemente negligenciados, comenta Chatkin. Homens e mulheres acima de 60 anos necessitam receber as doses contra a gripe e a pneumonia, mas também as contra coqueluche e sarampo, que podem complicar bastante a saúde respiratória nessa faixa de idade. A vacina antipneumocócica, que combate a pneumonia, tem duas apresentações: a pneumo 13 e a pneumo 23. Os números se referem aos números de sorotipos de pneumococo (bactéria), ou seja, a doença é a mesma, mas o germe desencadeador pode provir de várias famílias. Mais potente, a 13-valente abrange os sorotipos mais agressivos. Em princípio, pode ser aplicada uma única vez e, conforme as condições imunológicas da pessoa, ser repetida em cinco anos. A 23-valente – única disponível na rede pública – tem duração limitada, e são necessárias reaplicações anuais. O pediatra deve orientar o esquema vacinal das crianças.
Principais doenças respiratórias de inverno
Asma
O que é: estreitamento das vias aéreas (brônquios) causado pela compressão dos músculos que as envolvem. Histórico familiar de alergias respiratórias (asma ou rinite) pode estar entre as causas.
Sintomas: falta de ar, chiado e sensação de aperto no peito, tosse seca. A bronquite tem sintomas parecidos.
Tratamento: a asma não tem cura, mas pode ser muito bem controlada à base de inaladores e antialérgicos. O paciente tem que seguir o tratamento prescrito pelo médico e tomar cuidados em relação ao ambiente. Podem ser gatilhos para uma crise asmática: poeira, mofo, ácaros, pólen, bichos de estimação (pelos, descamação da pele do animal, saliva, urina e outros tipos de excreções), infecções virais como a gripe, fumaça de cigarro, poluição e exposição ao ar frio.
Gripe
O que é: infecção aguda causada pelo vírus influenza que acomete todo o sistema respiratório. O influenza tipo A é o mais perigoso e o que mais mata.
Sintomas: febre alta (acima de 38ºC), dores musculares, tosse, congestão e fadiga.
Tratamento: com medicamentos antivirais, como o Tamiflu, e para combater os sintomas (antitérmicos e analgésicos). Repousar é fundamental.
Bronquite
O que é: causada por alergias e/ou infecções por vírus, provoca irritação das vias respiratórias. É comum na infância.
Sintomas: tosse e chiado no peito.
Tratamento: atacam-se os sintomas com antialérgicos e broncodilatadores.
Bronquite crônica
O que é: causada por fatores como o tabagismo, que estimulam a proliferação de secreção e provocam o entupimento das vias respiratórias.
Sintomas: tosse com muito catarro e falta de ar. É permanente, cessando apenas com o abandono do cigarro.
Tratamento: parar de fumar, praticar atividade física, fazer inalação com bombinha e nebulização.
Brionquiolite
O que é: quadro agudo, com estreitamento das vias aéreas, desencadeado por vírus (principalmente, o vírus sincicial respiratório, VSR) em crianças de até 12 anos.
Sintomas: tosse, chiado e falta de ar.
Tratamento: feito com broncodilatadores e antivirais. Nos casos mais graves, pode ser indicada a internação do paciente e a prescrição de antibióticos.
Sinusite
O que é: pode ser de origem bacteriana (que provoca mais sintomas) ou viral, aguda (a crise é tratada e passa) ou crônica (a enfermidade volta de tempos em tempos). Quem tem rinite está mais propenso por ser mais sensível e produzir mais secreção, onde a bactéria se prolifera.
Sintomas: secreção amarela no nariz, pressão na face, dor de cabeça e tosse.
Tratamento: se a sinusite for bacteriana, utilizam-se antibióticos e descongestionantes. No caso da viral, recomendam-se antialérgicos e medicamentos para aliviar os sintomas.
Pneumonia
O que é: doença causada por uma bactéria que entra nos pulmões.
Sintomas: febre alta, tosse e dor no peito para respirar.
Tratamento: com antibiótico e medicamentos para os demais sintomas (antitérmicos e analgésicos). Dura, no mínimo, sete dias.
Enfisema pulmonar
O que é: cistos de ar que se formam dentro do pulmão e pioram a respiração. Cerca de 90% dos casos são decorrentes do tabagismo, enquanto os outros 10% têm origem genética.
Sintomas: muita falta de ar e dificuldade para realizar atividades corriqueiras, como caminhar, tomar banho, arrumar a cama e limpar a casa. Os sintomas costumam aparecer quando a enfermidade já está em estágio avançado.
Tratamento: com inaladores e oxigênio. Quem fuma deve abandonar o hábito.
Fontes: pneumologista Adalberto Rubin e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia