A vista agradável e a brisa marítima são ótimas justificativas para você se exercitar na beira da praia. Seja no calçadão ou na orla, aproveitar o verão para adquirir novos hábitos saudáveis, ou mesmo mantê-los, pode ser uma boa pedida. Mas se você é da turma que chega à praia e não quer ouvir falar em sapatos fechados, vá com calma. Nem todas as atividades podem ser feitas com os pés descalços.
Apesar de absorver mais o impacto em relação a outros tipos de solo, a areia tem algumas desvantagens quando o assunto é a prática de atividades físicas. Como proporciona maior contato do pé com o terreno, exercitar-se descalço pode levar a lesões em função do atrito ou mesmo contusões, alerta o presidente da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (Sbrate), Fábio Krebs.
Outro ponto contra é que o nosso litoral não é plano. Muitas vezes, há desníveis que não favorecem a atividade e podem levar a desequilíbrio e torções.
– Isso faz com que a corrida ocorra em plano inclinado, o que sobrecarrega mais um lado do que o outro – destaca o médico, que também é presidente do Comitê de Trauma Esportivo da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot).
Para o especialista, a recomendação é utilizar sempre proteção nos pés:
– Não indico corrida descalço. Usar o tênis é mais proveitoso e benéfico. Protege os pés e sobrecarrega menos joelhos, quadril e coluna.
A mesma regra é seguida pela bacharel em Educação Física Elaine Zanoni, colaboradora do SESC Tramandaí. Ela recomenda sempre o uso de calçados leves, preferencialmente sem cadarços, e que permitam a transpiração dos pés.
– Além dos objetos que podem ser encontrados na areia como tampinhas de garrafas, cacos de vidro e conchas, pode haver lesões nos tornozelos, nos joelhos e nos quadris – diz Elaine.
Já o médico do esporte André Mattos aponta algumas vantagens em praticar atividades físicas sem tênis. Como a tendência é passar o ano inteiro com os pés calçados, estruturas como arcos, músculos, dedos e até mesmo o tornozelo acabam enfraquecidas. Ao estimulá-las em terrenos arenosos, essas regiões são fortalecidas.
– Como geralmente usamos calçados o dia todo, os pés ficam mais relaxados, pois os músculos não precisam trabalhar muito para estabilizar o corpo. Então, fazer exercícios recreativos na praia descalço pode ser útil para o fortalecimento e a prevenção de lesões nessas estruturas – explica o Mattos.
Maior resistência muscular e cardiorrespiratória
Não são só os pés que saem fortes. Exercitar-se em terrenos instáveis, como a areia fofa, aumenta a resistência muscular e cardiorrespiratória, além de promover um gasto calórico maior.
– O tempo de atividade na areia costuma ser menor. São práticas muito mais indicadas para preparação de pessoas que precisam de resistência aeróbia e muscular – lembra Elaine.
Uma revisão de estudos publicada em 2013 no Journal of Sports Science elencou uma série de vantagens das práticas na areia em comparação com as feitas na grama. Conforme o artigo, elaborado por pesquisadores australianos, o treino na areia proporciona alto gasto calórico e menor impacto – o que reduziria os danos musculares e as dores. A pesquisa também cita os benefícios da prática para a reabilitação e a recuperação pós-trauma.
Ainda que possa oferecer vantagens, as atividades na areia devem ser feitas com cautela e bom senso. Avalie bem o terreno e o momento em que vai realizar o exercício para ver se é melhor usar ou não um par de tênis. Além disso, evite se exercitar descalço na areia se tiver algum problema de sensibilidade ou deformidade nos pés que afete a biomecânica da marcha.
Atento a essas questões, a dica de ouro é não ficar parado. Procure a atividade que mais lhe agrade e coloque-a em prática – com moderação.
Tênis ou descalço?
Frescobol
Duas raquetes de madeira e uma bolinha fazem a diversão de muitas pessoas na beira da praia. Como é considerada uma atividade recreativa, pode ser praticada sem tênis.
– Recreação e brincadeira podem ser feitas sem calçados. Mesmo assim, há risco de lesão ou cortes. Atividade física é aquela direcionada, que tem um objetivo – explica a bacharel em Educação Física Elaine Zanoni.
De acordo com o presidente da Sbrate, Fábio Krebs, por não exigir tanta movimentação, essa atividade não acarreta grandes problemas se feita sem tênis.
Corrida e caminhada
Krebs não recomenda a prática sem proteção de um tênis, o que, segundo ele, reduz os riscos de lesões. A indicação é utilizar calçados leves, que permitam a transpiração. O médico do esporte André Mattos destaca que há grupos de estudos em Harvard que se dedicam a pesquisar os benefícios da corrida com os pés descalços. Entretanto, ainda não há evidências contundentes que afirmem que correr sem tênis é melhor.
Vôlei e futevôlei
Também consideradas atividades recreativas, elas podem ser feitas de pés descalços. Claro que é bom se certificar de que a área não tem cacos de vidro nem tampinhas de garrafas antes de iniciar o exercício. Pessoas com sobrepeso devem ficar atentas principalmente para movimentos de saltos que, mesmo com a absorção de impacto pela areia, podem provocar lesões.
Principais cuidados para...
Atletas de “fim de semana”
No verão, muita gente que fica parada durante a semana inteira resolve passar o sábado e o domingo praticando esporte na praia. Apesar de a prática de atividades físicas ser benéfica para o corpo, ela pode trazer prejuízos quando ocorre de forma esporádica. O exercício pode gerar uma sobrecarga cardiológica e metabólica em quem não está acostumado ao esforço. Em alguns casos, é capaz até de causar morte súbita.
– São raros, mas deve servir de alerta – afirma o médico do esporte André Mattos.
Lesões também são favorecidas pela atividade intensa sem treinamento prévio. A bacharel em Educação Física Elaine Zanoni lembra que é bastante comum aparecerem dores nos joelhos e tornozelos após atividades esporádicas.
– Comece aos poucos uma caminhada. Exercícios como polichinelo ou flexão também podem ser feitos. O ideal é procurar um profissional da área para receber orientações. Não dá para correr 30 minutos direto porque vão aparecer problemas depois – diz a profissional.
Praticantes de atividades em férias
Tudo bem que férias são sinônimo de descanso, mas o ideal é não parar as atividades físicas. Mas, se a sua ideia de veraneio consiste em ficar de pés para o ar, saiba que isso não vai provocar grandes perdas ao corpo.
Períodos curtos de pausa, de até 30 dias, não interferem nos marcadores de força ou de capacidade cardiorrespiratória. Apesar disso, quando há um intervalo nos treinamentos, pode, sim, haver perda de massa muscular.
– Indivíduos treinados, ao retornarem para as atividades, conseguem rapidamente recuperar a massa muscular perdida nas férias. Estudo recente mostrou que a memória muscular permanece – afirma Mattos.
Ao retornar para as atividades habituais, o mais recomendado é recomeçar de forma mais moderada.
Não custa lembrar!
Exercícios ao ar livre também podem provocar insolação quando feitos em horários inadequados. Por isso, proteja-se com filtro solar, óculos e bonés e evite atividades entre 10h e 16h.