Uma alimentação baseada em produtos prontos para o consumo é a realidade de muitos brasileiros. O nutricionista e educador físico Samuel Pompeu, 35 anos, se propôs a consumir apenas alimentos ultraprocessados por 30 dias, evitando frutas e vegetais. O objetivo do experimento era comprovar os efeitos que o excesso de industrializados pode trazer à saúde.
Ele relatou que, durante o período, sentiu dores de cabeça, de estômago e azia diariamente. O nutricionista também teve pioras significativas em alguns índices, medidos por exames de sangue feitos no início e no final do desafio. O colesterol teve um aumento de 20% em 30 dias, enquanto o TGO e TGP, indicadores que medem possíveis danos ao fígado, aumentaram em 75% e 400%, respectivamente. Além disso, o profissional engordou 4,5kg e aumentou medidas.
— Essa ideia já existia há mais de 10 anos, quando acompanhei um personal trainer norte-americano que ficou seis meses comendo de maneira exagerada. Eu nunca tinha colocado em prática porque seis meses é um tempo considerável. A chance de você desenvolver uma doença de forma definitiva existe, e eu não queria correr esse risco. Fazendo isso por um mês, eu já imaginava que as diferenças não seriam tão significativas, mas consegui ver alguns efeitos — relata ele.
Natural de São José dos Campos, em São Paulo, o nutricionista registrou todo o processo nas redes sociais. Em um dia comum do desafio, ele consumia embutidos, biscoitos, salgadinhos e refrigerantes. Às vezes, mostrava um prato de arroz e feijão. Para encaixar na proposta, comia um ovo frito feito com uma grande quantidade de óleo ou uma linguiça como acompanhamento.
O especialista relata que queria experimentar o estilo de vida que muitas pessoas dizem ter. Segundo ele, não é raro que os pacientes confessem que consomem ultraprocessados em todas as refeições e que sentem dores e incômodos diários, além de queixas constantes de desânimo, cansaço e indisposição. Pompeu explica que, muitas vezes, as pessoas não entendem que esses efeitos estão relacionados a uma alimentação de baixa qualidade nutricional.
— Não fiz nada mais do que os estudos científicos já estão falando há muito tempo, só que a maioria das pessoas não tem acesso. Dessa forma mais didática, mais engraçada, que eu fiz, relatando meu dia a dia, consegui atingir muita gente que não fica lendo matéria na internet ou estudo científico. Eu não criei nada, só demonstrei os efeitos negativos que a ciência já diz que existem — afirma.
Próxima etapa
Pompeu garante que foi fácil se acostumar com o estilo de vida adotado. Os ultraprocessados, apesar de não serem saudáveis, costumam ser agradáveis ao paladar. Depois dos 30 dias, que encerraram em 28 de novembro, o nutricionista voltou à dieta anterior ao experimento, mais saudável e balanceada.
— Senti essa dificuldade um pouco maior de voltar à rotina do que em outras vezes, que fiquei três ou quatro dias viajando, comendo errado, e depois voltei para a dieta. Com um mês fora da dieta, eu senti uma dificuldade maior com alimentos que têm açúcar, por exemplo. Refrigerante era uma coisa que eu não consumia e eu acabei criando um pouco de dependência, sinto vontade. E chocolates, que acabei comendo todos que tinha em casa — afirma.
A segunda parte do experimento consiste em seguir uma dieta saudável por 30 dias. A ideia é ver se, nesse período, será possível recuperar um pouco do prejuízo dos ultraprocessados e melhorar o resultado dos exames de sangue, além de perder peso. Mas Pompeu garante que, caso não seja possível, não ficará preocupado, pois sabe que continuará com um estilo de vida saudável e que os resultados positivos virão com o tempo.
De forma geral, ele avalia a experiência como interessante. Para o nutricionista, o processo foi importante para motivar mais pessoas nas redes sociais, para divulgar informações sobre os malefícios dos industrializados e entender melhor a realidade dos pacientes que consomem ultraprocessados em excesso.