O governo federal deve decidir pela volta ou não do horário de verão até a próxima semana, conforme o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, informou nesta terça-feira (8). Silveira indicou que a retomada pode ser evitada neste ano. Além dos impactos econômicos, a medida também pode gerar alguns efeitos na saúde.
A principal implicação da troca de horários incide sobre o sono. O organismo tem um ritmo biológico sincronizado com a luz solar e o escuro – o chamado ritmo circadiano, com um padrão de sono e vigília, estudado pela cronobiologia, esclarece Eduardo Garcia, pneumologista e médico do sono da Santa Casa de Porto Alegre. Ao escurecer, a tendência é sentir mais sono, e ao clarear, acordar.
A troca de horários, em certa medida, é semelhante a casos de jet lag, em que a troca de fuso horário em viagens, no início, costuma atrapalhar o sono.
— As pessoas que têm uma boa disciplina de sono podem sentir a diferença. Quem costuma dormir, digamos, 22h, e acorda às 7h, agora essas 22h vão mudar, vai ter um adiantamento de horário — explica.
O organismo se adapta, e a situação não costuma se prolongar por muito tempo – por volta de dois dias a, no máximo, uma semana. Boa parte das pessoas pode nem perceber. Para pessoas mais sensíveis, pode resultar em:
- Dificuldade inicial do sono
- Irritabilidade
- Sonolência diurna
- Falta de foco
- Mau humor
A mudança também tem um efeito psicológico sobre o impacto no sono. A preocupação, em geral, recai mais sobre crianças, idosos e pessoas com distúrbios de sono, principalmente insônia. Pessoas vespertinas ou matutinas, que dormem mais tarde ou cedo, podem também sentir essa diferença, e o processo de ajuste do sono sofre um pouco mais. Porém, nada é irreversível, ressalta o médico.
Hormônios
O sono também atua na regulação da produção de hormônios, cuja secreção é determinada pelo ritmo circadiano. Vários têm o pico de secreção nas primeiras horas do amanhecer, perto da hora de despertar, como o hormônio do crescimento, o cortisol, o hormônio tireoestimulante, conforme Rogério Friedman, médico endocrinologista do Hospital Moinhos de Vento.
— O nosso horário de verão implica uma diferença muito modesta, de uma hora apenas. E para a maior parte das funções orgânicas, não chega a ter impacto significativo, porque não é como o sujeito que muda de continente e tem o efeito dos fusos horários, muito distantes um do outro. Aqui, qualquer impacto, se houver, vai ser muito pequeno e praticamente impossível de medir. Não tem nenhum impacto real na saúde hormonal — ressalta.
O horário de verão existe por questões econômicas, e, do ponto de vista da saúde, é quase inócuo e é irrelevante, do ponto de vista de Friedman.
Alimentação
O horário de verão pode afetar hábitos alimentares – também há aqui relação com o sono. Algumas pessoas postergam a hora do jantar, devido à claridade. Porém, comer e deitar não é um hábito bom, pois pode favorecer apneia do sono, ronco ou refluxo gastroesofágico, que podem afetar o sono. O ideal é esperar pelo menos três horas antes de deitar.
— Se tiver uma alimentação mais copiosa, com mais gordura, carne ou bebida alcoólica, o ideal é dar até mais tempo. Há pessoas que têm hábitos de comer mais cedo, dormir cedo, e vão sentir um pouco isso. Vai ter de haver algum ajuste — afirma Garcia.
Recomendações para o sono
O médico recomenda, principalmente para pessoas com alguma dificuldade para dormir e no período de troca de horários, seguir medidas de higiene do sono, como manter o mesmo horário de dormir e evitar telas e lâmpadas LED uma hora antes de deitar – já que a incidência de luz na retina envia uma mensagem para o cérebro, dizendo que não se deve dormir.
Outras recomendações incluem tomar cuidado, sobretudo em atividades de precisão, e, para quem sente sono, procure dormir mais cedo e tentar compensar as horas.
— Porque o problema de sono hoje, que é o que se está falando mais, é que ele está muito pervertido pelo uso de smartphone, telas, a juventude está dormindo, às vezes, quatro horas em uma noite. Não é um problema novo. O horário de verão é mais um tempero dentro de uma condição que já está ruim, que é o sono na atualidade — destaca Garcia.