“ChatGPT, que horas eu preciso acordar para completar meus ciclos de sono se eu for dormir às 22h?”. Este é um dos exemplos de questionamentos que usuários do TikTok têm relatado fazer à inteligência artificial, buscando melhor aproveitamento das horas de descanso. Porém, apesar de parecer factível, especialistas destacam que o cálculo não é tão simples.
Os ciclos do sono existem, mas pesquisadores do tema indicam que o tempo de duração não é o único fator que determina sua qualidade. De acordo com o presidente da regional do Rio Grande do Sul da Associação Brasileira do Sono (ABS), Antônio Rocha, a arquitetura do sono é mais complexa:
— Muitas coisas surgem na internet como algo milagroso. A área do sono não foge disso. Mas o ser humano muda, e uma noite é diferente da outra. Temos estágios de sono, e ninguém faz uma onda perfeita baseada somente no fator tempo. Questões como exposição solar inadequada e à claridade artificial podem causar desequilíbrio, por exemplo.
Outra ressalva feita pelo neurologista e coordenador do Laboratório do Sono da Santa Casa de Porto Alegre, Fernando Stelzer, é que a duração dos ciclos não é constante em uma noite, podendo variar de uma hora a 90 minutos aproximadamente. Além disso, os ciclos mudam conforme o passar do tempo.
— O fator que mais influencia o nosso sono é a idade. Uma pessoa de 25 anos não vai ter o mesmo padrão de sono que alguém de 70. Se isso não for considerado, não é possível avaliar. (...) Trabalhamos com um número muito grande de variáveis para a inteligência artificial, que é universal, calcular individualmente para alguém — comenta, lembrando que a quantidade de vezes em que se desperta durante a noite, o ambiente do sono e o uso de medicamentos também entram nessa equação.
O fator que mais influencia o nosso sono é a idade.
FERNANDO STELZER
Neurologista e Coordenador do Laboratório do Sono da Santa Casa de Porto Alegre
Quando surgem os argumentos de que a estratégia funciona, Rocha esclarece que o resultado pode estar associado à falta de horas adequadas de sono experimentada por parte da população.
— Muitas pessoas vivem uma privação de sono de maneira crônica. Se nesses vídeos e publicações estão recomendando pelo menos cinco ciclos de sono, o equivalente a uma média de sete horas e 30 minutos, elas podem acabar dormindo mais do que estão acostumadas normalmente. Por isso, um descanso mais eficiente faz com que as pessoas acreditem que foi apenas por ter acordado após o fechamento do ciclo — sintetiza.
Stelzer analisa que a recente tendência está relacionada a um modismo, com a intenção de chamar a atenção de quem quer dormir menos do que o indicado, de sete a nove horas para adultos.
— Para saber a quantidade de horas ideal para alguém, a pessoa deve ir dormir no momento em que começar a sentir sono e acordar espontaneamente. Isso deve ser feito com regularidade, por pelo menos duas semanas a um mês, que aí se perceberá o número adequado — conclui.
Exames como a polissonografia tipo 1 também são citados pelos especialistas como formas de monitoramento mais adequado do sono de um indivíduo.
Hábitos saudáveis para uma boa noite de sono
- Ir para a cama com sono
- Manter uma rotina regular no horário de deitar e levantar
- Manter o quarto escuro e silencioso à noite
- Caso haja necessidade de levantar durante a noite, procure usar lâmpadas adequadas, evitando luz branca ou azul
- Manter a temperatura do quarto confortável para iniciar e manter o sono
- Evitar o uso de medicações para o sono sem prescrição médica
- Melatonina pode ter benefícios para algumas pessoas, mas o médico deve ser consultado
- Manter os animais que atrapalham o sono fora do quarto de dormir
- Não usar telas – como assistir TV, usar smartphones, ler e-mails – de uma a duas horas antes de dormir
- Evitar alimentação pesada próximo do horário de dormir
- Evitar o uso de bebida alcoólica e alimentos ou bebidas que contenham cafeína próximo do horário de dormir
- Praticar exercícios físicos regularmente, mas não próximo do horário de deitar
- Evitar tabagismo
Fonte: Associação Brasileira do Sono, Associação Brasileira de Medicina do Sono e Associação Brasileira de Odontologia do Sono