Ronco, dificuldade para dormir e despertares noturnos são queixas comuns entre pessoas que sofrem alguma doença ou distúrbio do sono. Durante a noite, o corpo realiza as principais funções reparadoras, tornando o horário de repouso essencial para a saúde física e mental. Celebrado nesta sexta-feira (15), o Dia Mundial do Sono chama atenção para o cuidado com essas condições.
A Associação Brasileira do Sono realiza, até domingo (17), em todo o país, a Semana do Sono 2024 com o tema Oportunidade de sono a todos para saúde global. A ideia do evento é chamar atenção para as desigualdades da saúde do sono. É por isso que, no sábado (16), a ABS Regional Sul fará uma ação pública no Arco da Redenção, das 9h às 13h. Os interessados poderão conversar com especialistas, gratuitamente, para saber mais sobre doenças do sono e a importância de dormir com qualidade.
Os distúrbios do sono mais comuns são a apneia, a insônia e síndrome das pernas inquietas. O Ministério da Saúde considera, ainda, outras duas condições na lista das mais populares: sono insuficiente e o atraso de fase de sono. Todas essas doenças podem diminuir a qualidade do sono, causando cansaço físico e mental, irritabilidade e dificuldade de concentração, por exemplo.
Apneia obstrutiva do sono
A apneia obstrutiva do sono, doença caracterizada pela obstrução da via aérea na região da garganta durante o sono, é considerada preocupante. A condição leva a uma parada da respiração que dura alguns segundos. Responsável por causar o ronco, a apneia pode acontecer várias vezes durante a mesma noite.
— Entre cinco e 15 apneias por hora, é considerado um quadro leve. Entre 15 e 30, é moderado. E, acima de 30 apneias por hora, representa uma situação mais acentuada. Idosos e pessoas com sobrepeso costumam ter essa condição com frequência.
Nos casos leves, perder peso já pode ajudar a resolver — pontua o médico do sono Denis Martinez, da Clínica do Sono.
Além da idade e do peso, o sexo também influencia. Segundo Martinez, a apneia é mais comum em homens, mas nos últimos anos, mais mulheres têm procurado ajuda para solucionar o problema. Quanto mais grave o quadro, mais o paciente acha que dorme bem — acrescenta.
Martinez conta que os pacientes costumam aparecer no consultório por causa dos cônjuges, que, por dividirem a mesma cama, acabam tendo o seu sono perturbado pelos roncos.
Além da perda de peso, as opções de tratamento podem incluir exercícios com fonoaudiólogo, medicações para casos leves, utilização de dispositivos que aumentam o calibre da via aérea e, até mesmo, cirurgias. O CPAP, aparelho que envia fluxo de ar para as vias respiratórias e impedem que elas fechem, é uma das alternativas frequentemente recomendadas para pacientes com quadros mais graves.
Insônia
O paciente com insônia costuma ter três tipos de queixa: dificuldade para começar a dormir, para manter o sono ou o despertar mais cedo do que o planejado. Se esses sintomas aparecerem ao menos três vezes por semana por três meses ou mais, se caracteriza um quadro de transtorno de insônia crônica. A doença causa dificuldades ao longo do dia, que vão desde humor mais ansioso e irritadiço até pouca vontade de interação social, diminuição do rendimento no trabalho e nos estudos, por exemplo.
— Uma das hipóteses para explicar a insônia é a conhecida como 3Ps. Predisponente, ou seja, fatores que favorecem o desenvolvimento da insônia. Mulheres e pessoas entre 20 e 40 anos, com história familiar de insônia estão incluídas neste grupo (costumam ter mais esse quadro). Precipitante, que é um evento dramático na vida da pessoa que pode engatilhar a doença, como ficar desempregado ou a condição de saúde de algum parente próximo. E perpetuante, com crenças e hábitos pouco saudáveis para o sono, que é o que pode tornar a doença crônica — afirma o neurologista e coordenador do Laboratório do Sono da Santa Casa de Porto Alegre, Fernando Stelzer.
A falta de higiene do sono pode fazer com que a insônia deixe de ser um sintoma pontual e vire uma doença crônica. Isso significa que se deitar sem estar com sono, assistir à televisão ou mexer no celular antes de dormir e usar a cama para outros fins que não descansar podem impactar diretamente na qualidade do sono e, consequentemente, na gravidade da situação.
— O principal tratamento é o suporte psicológico mesmo. A primeira escolha é a terapia cognitiva comportamental para insônia (TCCI), mas o psicólogo que não é especialista nisso também pode tratar a insônia. Pode-se fazer uso de remédios, mas eles vão apenas tratar o sintoma, e não a causa — defende Stelzer.
Síndrome das pernas inquietas
Já na síndrome das pernas inquietas, o paciente costuma se queixar de sentir uma aflição entre o joelho e o tornozelo que só melhora ao mexer a perna. Esta sensação geralmente ocorre de tarde ou à noite, quando a pessoa está em repouso, sentada ou deitada. Os sintomas melhoram com o movimento, como caminhar, alongamento, ou mesmo com massagem. Segundo o especialista, a condição costuma ser confundida com outras condições, como ansiedade e, até mesmo, neuropatia do diabetes, que pode causar sensação de formigamento nos membros inferiores.
— A síndrome das pernas inquietas é a doença mais comum da qual ninguém nunca ouviu falar. Apesar do nome não ser conhecido, ela é bem comum, com estudos mostrando frequência de cerca de 6,5% entre os brasileiros. Nessa situação, em que a sensação só melhora ao mexer a perna, a pessoa tem dificuldade de pegar no sono e, em alguns casos, se movimenta muito durante a noite e, com isso, o sono fica picotado — explica.
A doença melhora com a prática de exercícios físicos e com melhoria em alguns hábitos de vida, como a diminuição no consumo de cigarro e bebida alcóolica. Em casos em que os sintomas são mais frequentes ou intensos, é necessário tratamento com medicações, que pode incluir reposição de ferro ou uso de medicações psicoativas.
*Produção: Yasmim Girardi