Dormir bem e respirar são duas atividades vitais para o bom funcionamento do nosso organismo. Roncos, que diminuem a qualidade do sono, e repetidos períodos sem respirar enquanto dorme são os sintomas mais característicos da síndrome da apneia obstrutiva do sono, doença que obstrui as vias aéreas – narinas, garganta, boca e traqueia – enquanto dormimos.
Na prática, um paciente com apneia do sono fica sem respirar – e consequentemente oxigenar o sangue – várias vezes enquanto dorme. Com isso, os níveis de dióxido de carbono no organismo se elevam e podem desencadear uma série de problemas, como complicações cardiovasculares e até um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Otorrinolaringologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Bruna Kobe define a doença como “um colapso repetitivo das vias aéreas superiores”. Ela explica que existem três tipos: a apneia obstrutiva, a central e a mista.
— É um distúrbio do sono que pode ser oriundo de problemas no sistema nervoso central ou por causas obstrutivas das vias respiratórias, quando há repetidos colapsos da via aérea superior. É a parada completa da respiração durante o sono — explica.
Casos de apneia central do sono têm como ponto de partida uma falha no tronco cerebral. Com a elevação dos níveis de dióxido de carbono no organismo, ocasionada pela falta de respiração, o cérebro emite sinais para que os músculos pratiquem uma respiração mais profunda, o que altera o ritmo com que o paciente aspira o oxigênio e torna a oxigenação do sangue mais lenta.
Um dos principais sinais da apneia do sono é o ronco. Quando o barulho não é contínuo, indica pausas na respiração e aponta um possível quadro da doença. Apesar disso, Bruna ressalta que nem todas as pessoas que roncam necessariamente têm apneia do sono e afirma que a intensidade do barulho também não é um indicador da doença.
— Pacientes com apneia obstrutiva do sono são aqueles que roncam todas as noites, mas que além disso, entre roncos, fazem paradas da respiração, um período de silêncio absoluto entre um ronco e outro. Nestes momentos não ocorre nem a entrada e nem a saída de ar do organismo, diminuindo a oxigenação do corpo.
Além do ronco – que muitas vezes passa despercebido pelo paciente – há outros sintomas que podem indicar a doença. Confira sinais da apneia do sono:
- Ronco com pausas entre um e outro
- Sonolência ao acordar pela manhã: — a pessoa tem um sono que não repara o organismo, então dorme “sem querer” durante uma aula, na recepção de um consultório ou até durante atividades mais importantes como ao dirigir — explica Bruna.
- Dores de cabeça ao acordar
- Acordar sozinho no meio da noite com falta de ar, causado pelas longas pausas na respiração
- Pressão alta de difícil controle mesmo com medicamentos e acompanhamento médico
Diagnóstico e tratamento
Mais frequente em homens e pessoas acima dos 60 anos, a doença também atinge crianças e adultos com pré-disposição. Há fatores de risco que aumentam a possibilidade de desenvolver um quadro de apneia do sono, como sobrepeso e obesidade, e doenças que obstruem as vias aéreas.
— Pessoas com peso 10% acima do considerado ideal têm risco aumentado em seis vezes de ter apneia obstrutiva do sono. Alterações craniofaciais, como retrognatia, que é ter o queixo mais “para dentro” e a hipertrofia de amigdalas e adenoides (carnes esponjosas do nariz) são fatores de risco — conta.
Dados do Manual MSD estimam que, pelo menos, um bilhão de pessoas no mundo sofrem com a apneia do sono. O diagnóstico da doença ocorre com o exame do sono, quando o paciente dorme uma noite inteira em uma clínica sob observação médica que avalia alterações cardiovasculares, de oxigenação no sangue e o número das pausas de respiração.
O resultado da polissonografia, como o exame é conhecido, indica se o paciente tem apneia do sono leve (até 15 pausas), moderada (até 30), ou grave, quando há mais de 30 momentos durante o sono em que a respiração é interrompida. A avaliação é multidisciplinar, além do otorrinolaringologista, um médico pneumologista e até dentistas podem auxiliar no diagnóstico e tratamento.
Outro método é o exame de videoendoscopia, quando o médico otorrino insere uma microcâmera pelo nariz do paciente e realiza todo o caminho percorrido pelo ar. Bruna explica que o exame é indolor e demora cerca de três minutos.
— Conseguimos ver se tem algum desvio de septo, por exemplo, avaliamos se amigdalas são muito grandes ou retroprojetadas, podemos encontrar sinusites e até tumores, que podem ser o que causa essas pausas na respiração durante o sono. Dói menos que o exame da covid-19, por exemplo — conta.
O tratamento padrão é através da máquina CIPAP, que faz pressão positiva de ar nas vias aéreas do paciente. No entanto, há casos em que a doença pode ser solucionada com uma cirurgia, como para corrigir um desvio de septo, por exemplo. A otorrinolaringologista ressalta que o primeiro passo, em qualquer tratamento da doença, é a higiene do sono com reeducação alimentar e perda de peso.
— O paciente dorme com essa máquina, que fica jogando o ar para dentro do corpo através de uma máquina. Onde a pessoa for dormir, tem que levar a máquina. É o único tratamento que comprovadamente cura 100% dos roncos. Existem também opções de tratamento com aparelhos intraorais, feitos por dentistas, em casos de pacientes com língua grande ou retroprojetada, ou que promovem algum grau de avanço mandibular, por exemplo — detalha.
De acordo com Bruna, manter-se saudável e com o peso adequado, evitar bebidas alcoólicas, cigarros e remédios sedativos aumentam as chances de não ter apneia do sono.
*Produção: Lucas de Oliveira