Giovanna Botelho da Costa, nove anos, teve “aula” de matemática com Billi, um cão da raça fox paulistinha.
— Se perguntar quanto é dois mais dois, ele vai dar quatro latidos. Ele sabe também fazer raiz quadrada, eu ainda não sei — disse a menina, moradora de Campo Bom, no Vale do Sinos.
Billi é uma das estrelas da pet terapia do Instituto do Câncer Infantil (ICI), onde a abordagem é usada como ferramenta auxiliar no tratamento de crianças que frequentam o local.
Na tarde de segunda-feira (12), Zero Hora acompanhou uma das sessões: além de Billi, Napoleão, um cão de quatro anos e sem raça definida, foi o responsável por interagir com os pequenos.
— Ele obedece às pessoas e não morde: é muito gentil e educado — elogiou Valentina Cezar de Miranda, nove anos, moradora da Capital.
As duas crianças frequentam o ICI há anos. Quando era bebê, Giovanna foi diagnosticada com um tumor maligno no rim, o que motivou cirurgias e quimioterapia. Segundo a mãe dela, Viviane Botelho, 48 anos, a menina leva “uma vida normal”: frequenta o centro por conta do dentista e faz avaliações médicas regulares.
Valentina teve de enfrentar tumores por conta da neurofibromatose, um conjunto de doenças genéticas que afeta principalmente a pele e o sistema neurológico.
Desde 2016, a menina recebe acompanhamento de profissionais do ICI, com atividades nas áreas de fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia. No momento, ela faz revisões a cada seis meses para monitorar os tumores, pois não foi possível a cirurgia de remoção, conforme a mãe da menina, Aguida de Miranda, 38 anos.
Benefícios da pet terapia
Segundo Lauro José Gregianin, médico oncologista pediátrico do instituto, a abordagem auxilia na adaptação da criança à rotina do tratamento, em especial nos casos que exigem assistência de longo prazo.
— Vários estudos mostram uma diminuição de estresse entre os pacientes oncológicos que convivem com um pet. Há um aumento de dopamina e serotonina, que são substâncias associadas ao bem-estar. Eles se distraem, exercem atividades físicas e ficam mais alegres — pontua.
Roberta Marques Medeiros, psicóloga do ICI, diz que a presença de animais domésticos também ajuda na capacitação de pacientes, familiares e profissionais à rotina médica:
— Através do lúdico, da brincadeira e da troca com o pet, a criança vai construindo confiança e segurança. Isso é importante durante todo o tratamento. Para nós, como equipe, também traz alegria e leveza.
O projeto pet terapia do instituto começou há sete anos e ocorre uma vez por mês. A parceria é com o adestrador Jone Batista Cardoso, responsável por “ensinar” a matemática ao fox paulistinha.
— Crianças tristes devido ao tratamento e à doença entram na brincadeira. Todos são atingidos pela alegria, disposição e espontaneidade deles (cães). Isso acaba suavizando todo o tratamento. É sempre um sucesso — pontua.
Sobre o Instituto do Câncer Infantil
O ICI é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos. O centro disponibiliza uma equipe multidisciplinar, nas áreas de serviço social, médica, nutrição, apoio pedagógico, psicologia, odontologia, fonoaudiologia, psicopedagogia, educação física e fisioterapia.
Também desenvolve projetos de pesquisas científicas dedicados ao avanço de novos tratamentos para o câncer infantojuvenil. Com 418 voluntários, o instituto fez 24,6 mil atendimentos em 2023, com pacientes de 153 municípios gaúchos.