Como ter saúde e esperança em tempos difíceis? A reposta para esta pergunta foi debatida por quatro especialistas da área da saúde nesta terça-feira (25), em evento realizado no Teatro da Unisinos, em Porto Alegre. Para J.J. Camargo, Emílio Moriguchi, Dvora Joveleviths e Fernando Lucchese, o segredo para conseguir superar a tragédia no Rio Grande do Sul é a solidariedade.
A palestra organizada pela Academia Sul-Riograndense de Medicina (ASRM), com apoio de instituições como a Ikigai Senior Living, Wexo, Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA) e Unisinos, tinha como objetivo juntar grandes figuras da medicina gaúcha para compartilhar histórias sobre a tragédia vivida pelo Rio Grande do Sul em maio. O evento beneficente arrecadou recursos para o Instituto Cultural Floresta, destinados a auxiliar as vítimas da enchente. A presidente da ASRM, Miriam Oliveira, defendeu a importância do debate sobre resiliência e bem-estar durante esse período.
— A esperança é um pedaço da saúde — afirmou Miriam, no discurso de abertura.
O evento foi mediado pelo professor Gilberto Schwartsmann, membro da ASRM e da Academia Rio-grandense de Letras (ARL). Em um primeiro momento, os quatro especialistas relataram experiências e fizeram reflexões sobre a calamidade no Estado. Depois, a plateia foi convidada a compartilhar histórias e fazer perguntas para os palestrantes.
Confira os ensinamentos para ter saúde e esperança em tempos difíceis
Aprender no improviso
J.J. Camargo, cirurgião torácico, professor emérito da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e colunista da Zero Hora, abriu a roda de conversa contando causos vivenciados durante a tragédia do Rio Grande do Sul no mês passado. O médico pontuou a importância de aprender com as experiências, sejam elas positivas ou negativas.
— A tragédia tem a característica do improviso. Ninguém esperava que isso fosse acontecer, não com essa intensidade. E o improviso tem um valor didático impressionante, porque ele não permite encenação, não há como ensaiar a atitude diante de uma coisa inesperada — disse.
Ser solidário
Para Emílio Moriguchi, membro da ASRM e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o maior ensinamento desse período, que ele considerou pior do que a pandemia de covid-19, foi sobre o poder da solidariedade. O médico, que atuou em abrigos de desalojados, relatou histórias de movimentos de ajuda ao próximo que conheceu enquanto trabalhava como voluntário. Segundo Moriguchi, o momento foi propício para aprender que a união faz a força.
— Eu tenho bastante esperança de que essa corrente do bem, da solidariedade, vai nos salvar daqui para frente.
Ajudar com o coração
Os especialistas também responderam perguntas da plateia. Em uma delas, Moriguchi e o diretor dos hospitais São Francisco, Santo Antônio e Nora Teixeira da Santa Casa de Porto Alegre, Fernando Lucchese, deram dicas sobre como voluntários, mesmo sem treinamento específico, poderiam ajudar os afetados pela enchente. Lucchese ressaltou que o principal conselho é ajudar quem está perto. Para ele, é essencial que os voluntários se disponibilizem a ser um ombro amigo para quem precisa.
— A gente não precisa ter formação, tem que ter coração — concluiu Moriguchi.
Compartilhar histórias
Dvora Joveleviths também contou algumas das suas experiências como voluntária em abrigos da Capital. A hepatologista e professora da Faculdade de Medicina da UFRGS relatou que ficou otimista com a bondade do povo brasileiro. Para ela, continuar compartilhando histórias da enchente e de movimentos solidários é essencial.
— A gente vai conseguir corrigir todos os erros que apareceram agora, porque tu não vai ficar inerte. Aí a importância é de ter a memória. Eu acho que a gente tem que ter a memória do que aconteceu para que não aconteça mais e para poder corrigir.
Ter espiritualidade
A mensagem do diretor dos hospitais São Francisco, Santo Antônio e Nora Teixeira da Santa Casa de Porto Alegre, Fernando Lucchese, foi de esperança. O especialista acredita que manter a fé em dia é a melhor forma de passar por momentos difíceis. Ele citou a música Louvação, de Elis Regina e Jair Rodrigues, que diz que quem espera sempre alcança. Para ele, a espiritualidade é fundamental nesse processo.
— Quem ajuda, entrega um pacote de esperança. A espiritualidade entrega um caminhão de esperança. São os mecanismos de transporte da esperança. Mas a gente precisa ter um caminho. Esperança é a visualização do caminho. Se você tem um caminho, você nunca caminhará sozinho. Sempre vai haver gente caminhando por você.