O início do ano sinalizou o agravamento de um problema que se arrasta há anos no sistema de saúde na Capital. Há superlotação em diferentes hospitais da Capital, e neste ano o assunto virou pauta de busca por uma solução conjunta com o Estado. Uma das soluções sinalizadas é diminuir o fluxo de pessoas que moram fora de Porto Alegre, mas que se dirigem até o município para buscar atendimento. Desde 2022, metade das pessoas atendidas em hospitais de alta complexidade são moradores da Região Metropolitana ou do Interior.
Dos 25.186 pacientes atendidos entre janeiro e março deste ano, 52% residem fora de Porto Alegre. Entre os três primeiros meses de 2022 e 2023, o número de moradores da Região Metropolitana e Interior atendidos era de 49% e 51% respectivamente. Os dados foram Acessados por GZH, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Em 2019, antes do período de pandemia de covid-19, o número de atendimentos nas instituições de saúde que atendem alta complexidade, entre os meses de janeiro e março, era de 50% para moradores da Capital, Região Metropolitana e Interior. Segundo o secretário municipal da Saúde, Fernando Ritter, o impacto da crise no sistema de saúde dos municípios vizinhos e também do Litoral Norte contribuiu para que o total de acolhimentos de pessoas vindas de fora de Porto Alegre ultrapassasse o de pessoas que residem na cidade.
— O agravamento e os problemas nos hospitais da Região Metropolitana e Litoral acabou afetando ainda mais o sistema, que vem com essa dificuldade desde anos anteriores. Quem tá vindo aqui, vem para procurar um hospital de alta complexidade com a esperança de conseguir algo melhor. Elas não estão conseguindo nestas cidades. Com isso, o sistema de saúde de Porto Alegre sobrecarrega e começa a ter essa superioridade nos números de quem vem de fora — destaca.
Ritter destaca que considerando os dados de atendimentos em hospitais de média complexidade, o cenário muda. Até março, mais de 45 mil pessoas foram atendidas, com a maioria sendo moradora da Capital.
— Se continuar desse jeito, pois, considerando dados gerais, incluindo todo o sistema, com hospitais de média complexidade também, temos 45 mil atendimentos. Se seguir assim, vamos passar o número de 183 mil pacientes atendidos até o final do ano — completa o secretário.
O Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC) e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), são as instituições que, desde 2022, mais receberam pacientes durante o período de janeiro a março. Em 2024, dois em cada três dos dos casos foram atendidos pelas duas instituições.
Alvorada e Viamão são as cidades que mais demandaram acolhimento. Parte do problema enfrentado pelos dois municípios passa pelo fato de a Fundação Universitária de Cardiologia (FUC), que administra os hospitais dos municípios, entrar em recuperação judicial. Em Alvorada, a Associação Beneficente João Paulo II, do Recife, assumiu a administração do local no dia 1º de abril. Já Viamão, mesmo com a garantia do Ministério Público (MP), o hospital da cidade ainda corre o risco de encerrar os serviços de urgência, emergência e saúde mental.
Gravataí, Cachoeirinha e Guaíba completam a lista de cinco municípios que mais encaminham moradores para atendimento. Camaquã, no Sul do Estado, e Tramandaí, no Litoral Norte, são as cidades de fora da Região Metropolitana que mais demandam leitos nos hospitais de alta complexidade da Capital.
Os dados obtidos pela reportagem de GZH também constataram que as especialidades de oncologia, obstetrícia, gastroenterologia, cardiovasculares e cardiológicas foram as que mais registraram atendimentos até o momento. Segundo Ritter, no entanto, há outra preocupação.
— O Estado alegou que era sazonal, mas não é assim. Quando chegar o inverno, a preocupação ainda vai aumentar, porque no momento, os problemas respiratórios ainda não apresentaram crescimento preocupante. Depois, esses números devem aumentar ainda mais. Vamos para mais um ano de aumento de pacientes vindos da Região Metropolitana e interior — apontou Ritter.
Na última quarta-feira (3), o governo estadual e a prefeitura de Porto Alegre definiram um conjunto de medidas para desafogar hospitais da Capital. O objetivo da ação, que teve início nesta sexta (5), é que as pessoas retornem aos municípios de origem. No entanto, nada muda em relação aos casos considerados graves e complexos. A medida tem três eixos principais, com foco no curto prazo.
Segundo o município, já está definido o caso de um paciente internado no Cristo Redentor que será transferido para o Hospital de Viamão. O processo já foi autorizado. São ao menos 32 pacientes que estão aptos a deixar a capital para ser atendido em sua cidade de origem. A maioria deles vem de municípios da Região Metropolitana, como Alvorada, Cachoeirinha, Viamão e Canoas.