O Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas, no bairro Independência, em Porto Alegre, chegou 172% da capacidade de ocupação dos leitos clínicos da emergência nesta segunda-feira (29). Isto é, 31 pacientes foram internados ao mesmo tempo no setor com capacidade para somente 18 leitos. Também há superlotação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica, que atingiu 13 pacientes onde a capacidade é para 10 unidades.
Segundo o diretor, Cincinato Fernandes Neto, leitos extras têm sido improvisados para tentar suprir a demanda. Por conta do cenário extremo, são adotadas restrições nos atendimentos. Nos demais leitos, 49 pacientes estavam internados durante a noite, o que é considerado pelo diretor “praticamente a ocupação máxima”.
— Quando não tem mais leitos na emergência, a gente restringe as fichas azuis e verdes, que geralmente são atendidas nas unidades de saúde, que ficam abertas até as 22h. Mas qualquer criança grave que chegue no hospital é atendida — explica Neto.
Equipe esgotada
O médico pediatra da emergência do Hospital Presidente Vargas Alexandre Bublitz relata que, somente nesta segunda-feira, três colegas pediram exoneração por conta do esgotamento físico e mental relacionado à alta carga de trabalho. Ele estava no plantão na noite de quinta-feira (28) e conta que havia quatro pacientes com necessidade de internação em UTI alocados no setor de emergência, sem a infraestrutura adequada.
— Esses pacientes não estão tendo os cuidados adequados. São pacientes que precisam de ventilação mecânica, droga vasoativa, como adrenalina. Estamos verificando um aumento considerável nos casos graves — comenta Bublitz, que também é professor de pediatria na Unisinos.
Para o médico, a situação vivida hoje é uma “tragédia anunciada”. Ele sustenta que a gravidade dos casos é resultado da falta de qualidade da rede básica de atenção à saúde. Segundo Bublitz, vidas poderiam ser salvas se os diagnósticos tivessem sido feitos com antecedência e se houvesse acompanhamento adequado. Conforme o profissional, o panorama se repete tanto nos pacientes de Porto Alegre quanto naqueles que vêm do interior do Estado.
— Os leitos que estão sendo anunciados são bem-vindos, mas a minha crítica é o porquê não abriram antes (os leitos). A gente tem essa situação do inverno todos os anos. Pode ser muito bem planejado — argumenta.
Bublitz também alerta para a importância de a população saber diagnosticar quando a infecção respiratória – principal motivo das internações – começam a se agravar. Ele cobra uma campanha de divulgação mais efetiva e dá dicas para as famílias identificarem os sintomas.
A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre diz, por meio de nota que, “mantém o diálogo com os profissionais médicos pediatras que teriam solicitado desligamento das suas funções, a fim de tentar argumentar a favor do retorno dos mesmos”. A pasta ainda informa que novos profissionais estão sendo contratados para suprir a demanda. Na semana passada, o secretário de Saúde da Capital, Fernando Ritter, e o diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Gilberto Barichello, anunciaram 143 novos leitos hospitalares para Porto Alegre.
Nota da Secretaria de Saúde de Porto Alegre
"Inicialmente a Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre informa que mantém o diálogo com os profissionais médicos pediatras que teriam solicitado desligamento das suas funções, a fim de tentar argumentar a favor do retorno dos mesmos. Importante destacar que essa situação ocorre num momento sazonal de sobrecarga do sistema de saúde, ainda mais quando o número de crianças que tomaram a vacina contra a gripe é extremamente baixo: pouco mais de 20% foram imunizadas.
A SMS entende que há outro fator importante para a rotatividade desses importantes profissionais da área da pediatra, que é a redução do número de especialistas formados nos últimos anos e isso faz com que a demanda seja maior que a oferta e o setor privado, nesse momento, tem uma oferta de ganhos que compete de forma desigual com o poder público a curto prazo, o que pode desencadear situações como essa.
No pós-pandemia, o mercado das especializadas está se organizando de forma diferente. Diante disso, os profissionais podem optar.
Dentro da Operação Inverno, novos profissionais estão sendo contratados para podermos suprir a demanda.
Anunciamos a abertura de novos leitos clínicos e de UTI, tendo como principal objetivo desafogar as emergências em Porto Alegre. E, pelo segundo final de semana consecutivo, a SMS ofereceu atendimento em cinco unidades de saúde. Foram aplicadas cerca de 2,5 mil doses de vacina contra gripe e covd-19 e atualização do calendário vacinal de rotina. Foram realizadas, ainda, mais de 500 consultas médicas."
Como perceber o agravamento de sintomas da gripe
A gripe em crianças costuma ter febre que dura entre dois e três dias, com tosse, perda de apetite, nariz escorrendo e sensação de mal-estar. O quadro começa a se agravar quando:
- A febre dura mais que três dias
- É preciso ter cuidado especial com bebês: quadros de gripe podem evoluir para bronquiolite, que é uma infecção causada pelo mesmo vírus da gripe, mas que ultrapassa a garganta e o nariz e se instala dentro do pulmão.
- Crianças começam a respirar rápido e forte, afundando as costelas ao lado do abdômen
- Quando qualquer um desses sintomas for verificado, é importante procurar a emergência
Fonte: Alexandre Bublitz, médico pediatra do Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas e professor de pediatria da Unisinos