Porto Alegre chegará a 143 novos leitos hospitalares em junho. A medida faz parte da mobilização do poder público para amenizar o que já é classificado como uma crise sanitária. As novidades foram anunciadas na tarde desta sexta-feira (26) após reunião entre o secretário municipal de Saúde, Fernando Ritter, e o diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Gilberto Barichello, no Centro Administrativo do GHC, no bairro Cristo Redentor.
A ampliação da estrutura contempla cem novos leitos clínicos no Hospital Vila Nova, dos quais 30 são pediátricos e 70, adultos, além de outros 10 leitos de UTI pediátrica, também no Vila Nova. Ambos começarão a funcionar a partir da primeira semana do próximo mês, segundo Ritter, a depender ainda da contratação de pessoal e da chegada de equipamentos.
Já no Hospital Conceição, serão 21 novos leitos clínicos no início de junho. Na semana passada, o GHC já colocou em funcionamento oito leitos de UTI pediátrica, passando de 16 para 24 unidades, com todas elas já ocupadas no momento.
Conforme Barichello, ainda existe a possibilidade de mais oito leitos clínicos serem abertos nas próximas semanas, mas, por enquanto, não há data para isso ocorrer. Além de acrescer unidades de internação, o GHC anunciou a suspensão das cirurgias eletivas do Hospital da Criança Conceição por tempo indeterminado. A medida visa liberar as salas de recuperação para servirem de retaguarda aos atendimentos pediátricos.
— Em 26 anos de experiência na área da saúde, ainda não tinha visto uma crise sanitária como essa antes do inverno — afirmou o diretor-presidente do GHC.
Postos de saúde darão suporte às emergências
Quatro unidades de saúde administradas pelo GHC, único complexo que atende 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS) da Capital, passarão a abrir aos sábados a partir de 3 de junho: Jardim Leopoldina, Parque dos Maias, Coinma, no Jardim Itu, e Unidade Conceição, no bairro Cristo Redentor. O funcionamento será das 10h às 16h. Os pacientes menos graves que chegarem à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Moacyr Scliar serão encaminhados para esses postos.
As unidades se somam a outras cinco, de gestão da prefeitura, que estão abrindo aos finais de semana. Os postos São Carlos, Bom Jesus, José Mauro Ceratti Lopes, Moab Caldas e Santa Marta, abrem neste sábado (27) e domingo (28), das 10h às 19h
Crise sanitária se instaurou
Gilberto Barichello iniciou o pronunciamento à imprensa com dados sobre a superlotação das estruturas do GHC. A UPA Moacyr Scliar está com 891% de ocupação: há 107 pessoas instaladas em um espaço com 12 leitos. A emergência do Hospital da Criança tem 192% de lotação, a UTI pediátrica com 104% e o Hospital Nossa Senhora Conceição com 176%, de acordo com o panorama desta sexta-feira.
A decisão de ampliar a estrutura de leitos se deu por conta da leitura dessa situação extrema, que se mantém há cerca de 15 dias. Três fisioterapeutas também serão contratados para viabilizar um melhor remanejamento das crianças dentro do setor de emergência.
— As medidas tradicionais que os gestores sempre adotaram serão insuficientes agora porque já estamos lotados. As medidas têm que ser mais eficientes do que foram antes — alerta Barichello.
Falta vacina no braço
As autoridades estão preocupadas com a quantidade de crianças internadas com quadros graves de saúde. É cada vez maior o número de pacientes com ventilação mecânica. A situação passa pelos baixos índices de vacinação. Segundo o secretário Fernando Ritter, apenas 15% das crianças com até nove anos estão vacinadas contra a gripe em Porto Alegre.
— Vamos fazer uma grande campanha de vacinação, vamos trabalhar diretamente com as escolas. A prioridade é fazer busca ativa e vacinar. Não vamos obrigar ninguém, mas vamos motivar — disse Ritter.
O secretário também reforçou a necessidade de busca pelo ciclo completo de vacinação contra a covid-19. Os dados da pasta apontam que 60% das pessoas que internam são idosos e estão positivos para o coronavírus.
Por outro lado, Gilberto Barichello observa que, agora, a estrutura de saúde pública enfrenta o “efeito rebote” da pandemia, período no qual pessoas deixaram de ter acesso a cirurgias eletivas, isto é, as de menos urgências, e até mesmo de realizar exames de rotina. Na avaliação dele, sem o devido acompanhado médico, as patologias se agravaram no período.
— Atualmente, 80% dos pacientes na emergência do Hospital Conceição são graves — comentou.
Ele também aponta que as restrições orçamentárias do Ministério da Saúde, motivadas pelo teto de gastos, em vigor desde 2016, contribuíram para as dificuldades enfrentadas. A crise em outros planos de saúde, como os privados e o IPE, na opinião de Barichello, tem, ao mesmo tempo, elevado a quantidade de pacientes atendidos nas estruturas do SUS.
O GHC entregou uma proposta de plano de contingência para a Secretaria de Saúde, que será avaliada por Fernando Ritter. O plano prevê restrição de atendimentos em caso de “risco assistencial” ser identificado. O secretário, por sua vez, diz que irá se reunir com outros hospitais de Porto Alegre nos próximos dias para montar os planos da Capital em casa de agravamento da crise.