O mais recente boletim InfoGripe Fiocruz, divulgado na quinta-feira (10), sinaliza para um aumento nos casos de covid-19 na população adulta do Rio Grande do Sul e outros três Estados brasileiros: Amazonas, Rio de Janeiro e São Paulo, que têm elevação mais clara nas faixas etárias a partir de 18 anos. No território gaúcho, entretanto, a tendência de crescimento é observada apenas na população acima dos 60 anos, conforme a Agência Fiocruz de Notícias. Para especialistas, é preciso que principalmente as pessoas mais velhas e com comorbidades busquem completar seu esquema vacinal contra a doença.
O InfoGripe reúne dados inseridos no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) até 7 de novembro. De acordo com o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes, ainda não é possível afirmar que esse crescimento nos quatro Estados esteja relacionado especificamente com as novas sublinhagens recentemente identificadas em alguns locais do país. O pesquisador destaca ainda que, como os dados laboratoriais demoram a entrar no sistema, “é esperado que os números de casos das semanas recentes sejam maiores do que o observado nesta atualização, podendo inclusive aumentar os Estados em tal situação”.
Segundo o boletim, no Rio Grande do Sul, ainda não se observa tendência de aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG). O mesmo pode ser dito de Porto Alegre, diferentemente das capitais do Amazonas, Rio de Janeiro e São Paulo, que registram essa tendência na população adulta.
Ana Gorini da Veiga, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e pesquisadora de infecções virais, aponta que uma significativa porcentagem da população gaúcha apresenta doenças cardiovasculares e crônicas, que são fatores de risco para desenvolver um quadro mais grave de covid-19. Essas enfermidades também são mais comuns na população idosa, o que poderia ser uma das explicações para que gaúchos com faixa etária acima de 60 anos apresentem mais positividade do que em outras regiões do país. Há, ainda, a questão da maior longevidade no Sul, que pode contribuir.
Ela também destaca que, mesmo que esses casos possam estar relacionados à nova variante e que ocorra o chamado escape vacinal (quando alterações do vírus não são reconhecidas pelos anticorpos que a gente produz após tomar o imunizante), é importante manter as vacinas atualizadas, porque, de qualquer forma, elas conferem uma certa proteção.
A importância da cobertura vacinal
De acordo com a última atualização do painel da Secretaria Estadual de Saúde (SES), nesta sexta-feira (11), 82% das pessoas entre 60 e 69 anos estão com esquema vacinal completo, enquanto 90% dos idosos de 70 a 79 tomaram todas as doses disponíveis para sua faixa etária. Já em relação ao grupo de 80 anos ou mais, somente 80% completou o esquema de imunização. A pasta considera a população residente do RS na casa dos 11,4 milhões e o esquema vacinal é reconhecido como completo apenas quando o indivíduo recebeu todas as doses previstas para sua idade.
O infectologista do Hospital Moinhos de Vento e coordenador-médico das unidades externas da instituição Paulo Ernesto Gewehr Filho enfatiza a importância das vacinas e das doses de reforço, comentando que outros Estados brasileiros já implementaram inclusive a quinta dose. Ele ressalta que não se vacinar de forma adequada expõe as pessoas à nova variante e a uma chance maior de desenvolver um quadro grave da doença:
— Acho que a quinta dose tem que ser implementada de uma forma mais rápida neste momento e para populações selecionadas primeiro, como os imunodeprimidos, idosos, pacientes que estão fazendo tratamento com quimioterapia, doentes crônicos. Vemos desde o início da pandemia que o vírus vai se tornando mais transmissível e escapando da proteção das vacinas, mas elas continuam protegendo contra as doenças mais graves, então, o importante é manter a vacinação atualizada e encaminharmos para a quinta dose.
Gewehr Filho comenta ainda que a grande maioria dos pacientes que internam com quadros graves são aqueles com doses atrasadas ou não vacinados. Neste grupo, aqueles com fatores de risco e idade avançada são os que mais adoecem. Por isso, os especialistas reafirmam a necessidade de que essa população com comorbidades mantenha os cuidados, como uso de máscara em situações de risco e higienização constante das mãos com água e sabão ou álcool gel.
— A pandemia ainda não terminou, embora o impacto dela tenha diminuído bastante. Então para pessoas de grupos de risco, em situações com ambientes fechados, mal ventilados, com pessoas não vacinadas ou que apresentem sintomas respiratórios, recomendamos que essas situações sejam evitadas ou que se utilize máscara cirúrgica, no mínimo, ou uma N95 — diz Gewehr Filho.
Questionada sobre a necessidade de reduzir saídas, a professora da UFCSPA considera não ser necessário e ressalta que é preciso pensar também na saúde mental das pessoas, que foi muito afetada durante os períodos mais críticos da pandemia:
— Mantendo os cuidados, utilizando a máscara de forma adequada, o risco é extremamente reduzido e dá para manter a alegria deles.