Dois gêmeos brasileiros de três anos, unidos pelo crânio, foram separados em uma intervenção que os médicos descreveram como a cirurgia mais complexa desse tipo. Depois de uma série de nove procedimentos, que culminaram em uma intervenção de 23 horas, os irmãos puderam olhar para o rosto um do outro pela primeira vez.
Arthur e Bernardo Lima, filho de um casal de Roraima, passaram grande parte da vida em um hospital no Rio de Janeiro e outros institutos médicos, bancados pelo SUS. Eles foram operados pela nona vez, em um procedimento que foi simulado antes com auxílio de realidade virtual.
A organização médica que ajudou a realizar o procedimento beneficente, Gemini Untwined, com sede em Londres, na Inglaterra, descreveu a operação como "a separação mais desafiante e complexa até hoje". A razão disso é que os irmãos dividiam várias veias e artérias vitais.
Os gêmeos compartilhavam cerca de 15% de cérebro e também uma grande veia importante para o funcionamento mental, que conduzia o sangue de retorno aos corações de ambos.
O neurocirurgião Gabriel Mufarrej, do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, onde foi realizada a intervenção, disse que a cirurgia foi a "mais difícil" de sua carreira e que estava muito satisfeito com o resultado.
— Esses gêmeos se enquadraram na classificação mais grave, mais difícil e com mais risco de morte para os dois. Quando você tem 1% de chance, você tem 99% de fé — detalhou o neurocirurgião ao Fantástico, da TV Globo.
A equipe médica, que incluiu quase cem profissionais, se preparou para as delicadas etapas finais da cirurgia, em 7 e 9 de junho, com ajuda da realidade virtual.
Usando imagens de tomografia e ressonância magnética para criar um mapa digital do crânio compartilhado e dos cérebros dos irmãos, os cirurgiões treinaram conjuntamente, no Rio e em Londres, com uma operação de teste realizada por meio da realidade virtual.
Ao Fantástico, os pais de Arthur e Bernardo, Adriely e Antônio, descreveram a batalha que seus filhos precisaram passar, contando com os nove procedimentos cirúrgicos. A mãe dos gêmeos disse que "eles já passaram por tanta coisa, já sofreram tanto. Eles são muito guerreiros". O pai afirmou que o seu maior sonho é "ver eles recuperados, com saúde e até com uma vida social como as outras crianças".