Um estudo realizado pelo Biobank UK — um banco de dados ligado ao sistema público de saúde do Reino Unido revelou que as pessoas que adicionam porções extras de sal à comida na mesa aumentam em até 28% as chances de morrerem de forma prematura. A pesquisa contou com o acompanhamento de 501.379 voluntários, vindos de países como Inglaterra, País de Gales e Escócia e foi publicada em 30 de junho no European Heart Journal.
Para obter os dados sobre os participantes da pesquisa, foi aplicado um questionário sobre a frequência de adição de sal aos alimentos, desconsiderando o seu uso para temperar a comida durante o preparo. Após o preenchimento dessas informações, os pesquisadores realizaram o acompanhamento dessas pessoas durante nove anos, incluindo a solicitação de exames de sangue e urina.
Nesse período de convívio entre a equipe envolvida na pesquisa e os voluntários, foram constatadas 18.474 mortes prematuras (pessoas com idades inferiores a 75 anos). O estudo revelou que entre as principais causas para os óbitos estava a maior frequência de adição de sal aos alimentos, que agravaram o quadro de saúde dos pacientes que já apresentavam histórico de saúde comprometido por algumas doenças. Antes da morte dessas pessoas, os pesquisadores tinham solicitado exames que constataram que elas apresentavam grandes concentrações de sódio em um intervalo de 24 horas, que eram expelidas pela urina.
Com base no trabalho científico, a maior frequência de morte foi entre pessoas do sexo masculino, não brancos e indivíduos com índice de massa corporal (IMC) mais alto do que é considerado como normal. Além disso, a maioria desses pacientes apresentavam problemas de saúde como diabetes e doenças cardiovasculares.
Entre os voluntários com 50 anos ou mais, foi observada que a adição frequente de sal nas refeições pode reduzir a expectativa de vida desse grupo em 2,28 anos, no caso de homens, e 1,5 ano, em mulheres.
O estudo também demonstrou que existe uma forte relação entre os hábitos alimentares com a incidência de doenças e a morte prematura. No grupo de voluntários que havia maior consumo de frutas e vegetais, a expectativa de vida aumentou e a taxa de mortalidade diminuiu, mesmo nos casos em que as pessoas abusavam da quantidade de sal, e foi percebida uma presença menor de doenças ou maior estabilidade no quadro delas. Para Lu Qi, principal autor da pesquisa e professor da Escola de Saúde Pública e Medicina Tropical da Universidade de Tulane, nos Estados Unidos, isso se deve aos benefícios do potássio, encontrado nesses tipos de alimentos.
Entre o grupo de pessoas que não consumia com frequência frutas e vegetais e abusava da quantidade de carne vermelha e processada foi observada uma piora no quadro de saúde, além da diminuição da expectativa de vida e aumento de mortalidade.
Lu Qi afirmou, em nota, que a pesquisa fornece novas evidências que podem apoiar recomendações médicas sobre o consumo excessivo de sal a fim de que as pessoas modifiquem seus hábitos alimentares e passem a cuidar melhor da saúde.
"Mesmo uma redução modesta na ingestão de sódio, adicionando menos ou nenhum sal aos alimentos à mesa, provavelmente resultará em benefícios substanciais para a saúde, especialmente quando alcançado na população em geral", explicou Lu Qi.
Consumo de sal no Brasil
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que adultos consumam 5 gramas de sal por dia. No entanto, no Brasil, a ingestão diária é mais do que o dobro do indicado pelos especialistas.
O consumo excessivo de sal pode aumentar a retenção de líquido, o que gera o aumento do volume sanguíneo e faz com que o coração tenha mais dificuldade em bombear o sangue, além de contribuir com a elevação da pressão arterial. Como consequência, isso pode gerar doenças cardiovasculares e comprometer as atividades renais.
De acordo com Lu Qi, autor do estudo, o sal precisa ser reduzido entre 6% e 20% nas dietas ocidentais para que não comprometa a saúde da população.