Com a desobrigação do uso de máscara em locais abertos e fechados, há quem defenda que o acessório poderia ser mantido em algumas situações. Uma delas é o bufê de restaurantes e refeitórios. GZH ouviu especialistas para entender se é benéfico que as máscaras sigam sendo utilizadas nesses ambientes e se há risco de as gotículas de saliva expelidas na comida provocarem contaminação por covid-19.
Professora de Biossegurança da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Melissa Markoski lembra que os perdigotos que saem da boca, mesmo que não sejam vistos a olho nu, têm alcance considerável. As gotículas maiores de saliva podem se depositar até dois metros à nossa volta. Já os aerossóis, bem menores, que voam quando a gente fala ou tosse, vão mais longe e podem se espalhar por até oito metros.
Nesse sentido, defende ela, seria interessante que a população adotasse o hábito de colocar a máscara no rosto quando for para a fila da comida.
— Esse senso de proteção ao próximo deveria ser bem trabalhado no pós-pandemia. Assim como os orientais já vêm fazendo desde a gripe aviária. Quando estão gripados, eles usam máscara, ou até mesmo quando vão visitar alguém doente — diz a professora.
É verdade que a máscara deveria se tornar um hábito dos brasileiros toda vez que apresentarmos sintomas gripais, observa a médica infectologista Andréa Dal Bó, do Hospital Virvi Ramos, de Caxias do Sul. Isso evita a transmissão da gripe e da própria covid-19. Mas, segundo ela, não há comprovação de que a saliva que entra em contato com a comida tenha potencial de infectar alguém.
— Não há risco de transmissibilidade significativa. O que vemos são muitos restaurantes adotando protetores salivares, o que é mais higiênico mesmo. Sobre a transmissão da covid-19 pelos alimentos, não há estudos que comprovem — frisa.
Para a infectologista Caroline Deutschendorf, coordenadora da Comissão de Controle de Infecções Hospitalares do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a máscara no bufê é necessária para evitar contágios na fila, quando uma pessoa fica tão perto da outra que pode transmitir doenças pelas vias aéreas.
— Em um bufê com muita gente na fila, sem distanciamento, o risco de contágio aumenta. Em se tratando de gotículas na comida, o risco de transmissão é ínfimo. Seria mais pela questão de ser nojento mesmo — diz.
Já os enterovírus, causadores de problemas gastrointestinais, como vômito e diarreia, também têm baixo risco de contaminação quando se trata das gotículas em alimentos. Muito pior é quando esses vírus se depositam em superfícies mais sólidas, observa a infectologista.
— Os enterovírus podem ser transmitidos pelo contato, mas basicamente pelo contato da mão com colheres e superfícies contaminadas. Teria que ser uma partícula muito grande de saliva para contaminar uma comida — acrescenta.
O infectologista Alessandro Pasqualotto, chefe da Infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, faz coro com as colegas. Na avaliação dele, não há motivo para que as pessoas se preocupem em manter a máscara quando estiverem se servindo no bufê por medo da contaminação da comida - a não ser que seja uma medida de higiene adotada por motivos pessoais.
— É um risco baixo o suficiente para não ser uma preocupação da sociedade. Mas vai ter gente que vai querer usar máscara por esse motivo ou por outro, porque vai se sentir mais seguro. É um direito de cada um — conclui o médico.