Uma pesquisa do Núcleo de Psiquiatria do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) avaliou a saúde mental de médicos e estudantes de Medicina durante a pandemia de coronavírus. O estudo entrevistou 647 pessoas e foi divulgado nesta segunda-feira (27), durante transmissão ao vivo com participação de representantes da entidade.
Entre os 401 médicos entrevistados, 51,1% responderam que a pandemia teve impacto forte ou muito forte em suas vidas. Outros 35,7% disseram que o efeito da crise na esfera pessoal foi moderado. Sobre cansaço, 50,9% avaliaram que sim, sentiam-se esgotados e sem prazer em suas atividades profissionais, e 43,6% informaram que fazem uso de algum tipo de medicamento psiquiátrico regularmente.
Já entre os 246 estudantes de Medicina que participaram da pesquisa, 67,1% responderam que o impacto da pandemia em suas vidas foi forte ou muito forte, enquanto 24% entenderam que foi moderado. O nível de cansaço entre os acadêmicos foi maior: 81,7% disseram sentir-se esgotados e sem prazer, e 50% informaram que usam alguma medicação psiquiátrica com regularidade.
Quem apresentou os dados da pesquisa foi o coordenador do Núcleo de Psiquiatria do Simers, Fernando Uberti, que observou que, muitas vezes, os médicos esquecem de preservar a própria saúde mental.
— Pensamos, como entidade representativa dos médicos, que é nosso papel não só defender o médico, mas também cuidar do médico. E aí entra o papel central da saúde mental, que é, talvez, um dos impactos mais latentes dessa pandemia. Sabemos que médicos e estudantes de Medicina têm uma elevada autoexigência, e uma exigência muito grande sobre eles por parte da sociedade. Isso muitas vezes faz com que haja uma negligência dos médicos em relação aos seus próprios cuidados com a saúde mental — disse.
Para a médica psiquiatra Gabriela Schuster da Rosa, o estudo do Simers ajuda na campanha de prevenção ao suicídio, tema antigamente tratado como tabu e pouco abordado pela mídia.
— Eu sou psiquiatra há mais de 20 anos, e não se falava sobre o tema como se fala agora. Hoje, nas redes sociais, se fala bastante sobre suicídio, que é um tema delicado, e se tenta trazer luz sobre a importância de falar. Ainda temos muito o que fazer, mas estamos no caminho certo — disse a médica.