A dificuldade financeira e o acúmulo de dívidas foram as principais causas de problemas mentais na população brasileira durante a pandemia, indica uma pesquisa feita pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), a pedido da Pfizer Brasil. O levantamento foi apresentado na manhã desta quarta-feira (1º), durante coletiva de imprensa virtual, e faz parte de uma das ações do laboratório em alusão ao Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio.
Realizada em São Paulo e nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Salvador, a pesquisa ouviu 2 mil pessoas com 18 anos ou mais ao longo de agosto. As entrevistas mostram que 23% dos entrevistados afirmaram que tiveram a saúde mental impactada em razão da situação financeira difícil e do acúmulo de dívidas. Em Curitiba, capital do Paraná, esse índice chegou a 26%. No recorte por sexo, a repercussão foi maior entre as mulheres, com 26% versus 20% dos homens.
Também teve impacto direto na saúde mental dos entrevistados o medo de pegar covid-19, que foi citado por 18%, e a morte de alguém próximo, mencionado por 12%.
Outro aspecto evidenciado pelo levantamento traz preocupação: o pouco conhecimento da população sobre os sinais que podem indicar a necessidade da busca por ajuda. Quando questionados se buscaram ajuda profissional, 63% dos respondentes disseram que não. Em contrapartida, uma parcela significativa dos entrevistados relatou algum sintoma indicativo durante a pandemia, sendo os mais referidos a tristeza (42%), a insônia e a irritação (38%, cada).
— Chama a atenção aqui que pessoas que se dizem normais talvez não estejam realmente se atentando para alguns sinais de alerta. Se a gente olha os sintomas, vê que são muito frequentes como indicativos de má saúde mental. E 63% não identificou que precisava de ajuda. É algo que precisamos pensar — avaliou Márjori Dulcine, diretora Médica da Pfizer Brasil.
Saúde mental dos jovens no sinal amarelo
Ao responderam à questão: "como você classifica sua saúde mental durante a pandemia?", 25% disse que ela estava ruim e 5% avaliou como muito ruim. Essa percepção foi maior nas mulheres (38%, somando ruim e muito ruim) do que entre os homens (21%, na soma dos dois). O que chama a atenção, assinala Márjori, é proporção de jovens, de 18 a 24 anos, que avaliaram a própria saúde mental como ruim (39%) ou muito ruim (11%).
— Estamos falando que a metade classificou como ruim ou muito ruim. Precisamos olhar para esses jovens com mais atenção — argumenta.
O psiquiatra Michel Haddad, médico do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e pesquisador do departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), defendeu que a escalada da prevalência de transtornos mentais já ocorre há, pelo menos, duas décadas. Contudo, a pandemia surgiu para escancarar essa realidade.
— Avançamos na terapêutica do câncer e das doenças cardiovasculares, mas, na contramão, as doenças mentais aumentaram — diz, acrescentando que os números, especialmente entre os jovens, estão em ascensão.
— Vemos uma alta incidência em adolescentes e jovens e temos observado um aumento nessa faixa na comparação com as demais — completa.
Multifatorial, um problema como a depressão — que é intimamente ligada ao suicídio — vai muito além de questões biológicas ou genéticas. Fatores ambientais e socioeconômicos impactam bastante no quadro. Países mais pobres são os mais afetados e aqueles que têm uma rede pior de tratamento, exemplifica o psiquiatra. Além disso, afirma Haddad, a solidão é um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais.
— Temos que sair deste mês propondo estratégias para o ano inteiro. Na pandemia, isso foi alavancado, os jovens foram os mais afetados e cresceram os relatos de estresse e solidão.
Neste ano, a Pfizer Brasil, em parceria com a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), criou a campanha Na Direção da Vida, que promove ações em setembro, conhecido como o mês de prevenção ao suicídio. A iniciativa integra o movimento mundial Setembro Amarelo para dar mais visibilidade aos transtornos mentais, como a depressão e a ansiedade.