Após queda acentuada nos últimos meses e leve crescimento em agosto, a ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) por pacientes com covid-19 em Porto Alegre estabilizou, mostram estatísticas da tarde desta terça-feira (7) da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
No fim de agosto, a situação piorou paulatinamente, mas melhorou neste início de setembro: nesta terça-feira, a média móvel de hospitalizados em leitos intensivos é de 163 por dia, 6% a menos do que duas semanas atrás. No pior momento da pandemia, Porto Alegre chegou a ter uma média de quase 850 pessoas por dia internadas com covid-19.
A estabilização indica que o cenário da pandemia em hospitais parou de melhorar ou piorar e estacionou. Em momentos passados, a estabilização se deu antes de tendências tanto de melhora quanto de piora.
Já os leitos clínicos, destinados a casos graves, mas de menor complexidade, seguem em queda, conforme dados da prefeitura. Na segunda-feira (6), dia com os dados mais recentes disponíveis, a média móvel era de 151,6 pessoas internadas, cerca de 21% a menos do que duas semanas atrás.
A cidade vive um cenário de estabilidade e controle, afirma o médico Marcius Prestes, gerente de fluxo do Hospital Mãe de Deus. Ele cita que, três semanas atrás, a instituição não tinha nenhum internado com covid-19 em UTI.
— Tivemos aumento de volume de atendimentos, mas isso não se reverte em volume de internações no hospital e na CTI. Não está tudo resolvido para voltar ao normal, mas está bem mais controlado. Temos uma vacinação muito boa em Porto Alegre, o que reduz a pressão por hospitais. Para além disso, a adesão ao uso de máscaras é boa. Só não dá para ter vida 100% normal — diz Prestes.
A situação está muito mais favorável do que entre março e maio, mas a estabilização atual nas UTIs não é sustentável a longo prazo, observa o médico Fabiano Nagel, chefe da unidade médica de gestão de paciente crítico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Ele destaca que a capital gaúcha oferece à população leitos adicionais, que são temporários.
— Não estamos em situação normal. No Clínicas, temos um prédio novo que funciona basicamente para atender pacientes com covid. E os leitos não são plenamente financiados. A diária paga pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para uma internação em UTI não paga sequer metade do valor. O financiamento depende de decreto federal. Quando o decreto for revogado, o financiamento desaparece, e os leitos, também — diz.
A variante Delta trouxe grande preocupação em virtude da piora gerada nos Estados Unidos, mas ambos os médicos entendem que o impacto não está sendo como o esperado. Dados do governo do Estado apontam que a nova cepa representa 38,2% dos casos.
Para Nagel, cada vez mais deve-se registrar surtos localizados, e não generalizados, devido à maior cobertura vacinal. Até esta terça-feira, a capital gaúcha havia vacinado 71,4% dos porto-alegrenses com a primeira dose ou a aplicação única e 45,5% com duas doses.
— Estamos mais parecidos com Israel, onde a taxa de vacinação é mais elevada e há casos endêmicos. Mas a variante Delta ainda pode se espraiar, à medida que o clima se tornar mais amigável e as pessoas ficarem com desejo maior de circulação. No Hemisfério Norte, estavam no verão quando a Delta chegou. Aqui, estamos no inverno e com perfil de vacinação mais favorável em relação ao resto do país, o que nos ajudou a sermos poupados da Delta. Mas é possível ter surtos de novos casos — diz o médico intensivista.