Após um período de queda marcante, o número de pacientes com coronavírus voltou a subir em unidades de terapia intensiva (UTIs) de Porto Alegre, o que acendeu um alerta entre especialistas e na Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
Em duas semanas, a quantidade de doentes em UTI aumentou 12% na Capital e chegou a 180 na tarde desta terça-feira (24). Esse crescimento, porém, não foi acompanhado pelo aumento de demanda nos leitos clínicos, o que serve como indicador dos rumos da pandemia – essa ala apresentou um recuo de 28% no mesmo período. Uma das possíveis explicações para esse cenário divergente é a ocorrência de surtos da variante Delta em hospitais ao longo do mês.
A nova cepa, que afetou estabelecimentos como Clínicas, Vila Nova e Conceição, pode ter agravado o estado de saúde de pacientes, elevando a necessidade de terapia intensiva, sem ter provocado uma elevação generalizada na procura por atendimento em unidades de saúde, pronto atendimentos e emergências hospitalares, o que resultaria em mais doentes em alas de enfermagem.
— Por enquanto, não percebemos aumento de demanda por covid nas nossas emergências, nas UPAs ou nos serviços de saúde comunitária. Tivemos um aumento de casos na UTI em razão do surto da Delta, mas não vimos, até o momento, um crescimento sustentado da pandemia — observa o diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Cláudio Oliveira.
Dos 27 pacientes que estavam sob terapia intensiva nesta terça no Conceição nesta terça, 13 estavam vinculados ao recente surto da Delta. O monitoramento da situação hospitalar ganhou relevância, desde a semana passada, em razão de um ajuste em andamento na notificação de novas contaminações na Capital.
Após uma mudança de critério estabelecida pelo Piratini, a SMS passou a incluir no sistema de monitoramento casos antigos que estavam represados. Por isso, nos últimos dias, a média de novos registros diários saltou de cerca de cem para perto de mil. Até a situação normalizar, a demanda por leitos é uma das formas mais seguras de avaliar os rumos da covid.
No caso das alas de enfermaria, que recebem doentes menos graves e funcionam como portas de entrada para as UTIs, a quantidade de pacientes hospitalizados chegou a 250 na primeira quinzena do mês e, nas duas últimas semanas, passou a apresentar oscilações – mas com recuo de 28% até a segunda-feira (23), último dia com informação disponível, quando estava em 149.
— O pequeno aumento nas UTIs coincidiu com os surtos da Delta em alguns hospitais. Estamos atentos, em momento de observação. Os índices elevados de vacinação nos dão esperança de conter a pandemia nos próximos meses — avalia o secretário da Saúde da Capita, Mauro Sparta.
A Capital se aproxima de 70% da população com uma dose e de 40% com esquema vacinal completo. O doutor em matemática, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e autor de análises sobre a pandemia Álvaro Krüger Ramos afirma que os dados de internações por coronavírus devem servir de alerta.
O especialista afirma que, se for feito um recorte entre os dias 15 e 23 de agosto, a subida nas hospitalizações em UTIs chegou a 20% na Capital – período em que o universo de doentes saltou de 154 para 185.
— O patamar ainda não é alto, mas é a reversão de tendência que preocupa. Havia um decréscimo, que foi quebrado. Dizer que a situação piorou apenas por um surto é relativizar o fato consumado de que a pandemia piorou. A pandemia é feita de diversos surtos — observa Ramos.
Em relação ao cenário nos leitos clínicos, o professor da UFRGS entende que havia um declínio que foi substituído por estabilidade, com uma flutuação para cima que, agora, voltou a um padrão de estabilidade. O temor é de que a Delta favoreça um novo ciclo de crescimento.