Cerca de 1,5 milhão de crianças de todo o mundo conviveram com a perda dos pais, dos avós ou dos cuidadores em decorrência da covid-19, revelou um estudo publicado no periódico The Lancet. No Brasil, estimaram os pesquisadores, o número de órfãos pode chegar a mais de 130,3 mil.
Conforme o levantamento, desse total, 1 milhão perderam um dos pais ou os dois durante os primeiros 14 meses da pandemia. Os outros 500 mil perderam avós e cuidadores.
— Para cada duas mortes por covid-19 em todo o mundo, uma criança é deixada para trás pela morte dos pais ou responsáveis. Nossas descobertas destacam a necessidade urgente de priorizar essas crianças e investir em programas e serviços para protegê-las e apoiá-las por muitos anos, pois a orfandade não acaba — sublinhou Susan Hillis, do Centers for Disease Control and Prevention COVID-19 Response Team dos Estados Unidos e uma das autoras do estudo.
Antes da pandemia, as estimativas indicavam que havia cerca de 140 milhões de órfãos no mundo. Essas crianças, afirma o trabalho, têm grandes riscos de terem problemas mentais, de sofrerem violência física, emocional e sexual, além de estarem mais suscetíveis a mortes por suicídio ou desenvolver doenças crônicas como as cardíacas, diabetes, câncer ou acidente vascular cerebral.
Os países com as taxas mais altas de crianças que perderam seus responsáveis incluem o Peru, em uma proporção de uma criança a cada 100, totalizando 98.975 crianças; África do Sul (cinco crianças em mil, somando 94,6 mil); México (três crianças em mil, chegando a 141,132), Brasil (duas crianças a cada mil, somando 130.363) e Estados Unidos (menos de uma criança por mil, totalizando 113.708).
Os resultados têm limitações, advertem os autores, pois o estudo se baseou nos dados disponíveis, no entanto, nem todos os países tinham informações robustas sobre mortes e fertilidade, bem como número de órfãos por nação.