Érika Rocha, 41 anos, tem no braço direito a tatuagem de um quebra-cabeça colorido. As quatro peças, em tons de azul, verde, amarelo e vermelho circunscrevem um coração ao centro. O símbolo é reconhecido internacionalmente por representar a complexidade do autismo. Para Érika, significa uma forma de mostrar o amor pela filha, Angelina.
— Sentir na pele a exclusão de um filho é muito triste. Ela ouvindo as crianças brincarem, batendo no portão e dizendo "amiguinho, amiguinho, amiguinho", e não ter a interação, dói muito — conta a professora, que deixou de lecionar para se dedicar aos cuidados com a filha.
O muro da casa em que vivem na zona leste de Porto Alegre ganhou as inscrições “empatia, respeito e inclusão”. A pintura foi feita por ela como forma de chamar atenção para o preconceito sofrido pelas pessoas com o transtorno genético.
Aos quatro anos, Angelina está desenhada na mesma parede. A garota inspira o projeto Angelina Luz, lançado por sua mãe na última sexta-feira (2), Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Através da iniciativa, ela pretende levar ao público o conhecimento sobre o espectro e as peculiaridades de quem tem o distúrbio.
— A falta de informação é o que faz não existir inclusão, empatia e respeito. Quero levar nossa mensagem ao maior número de pessoas, para que sejamos vistos — resume.
Na garagem, o Corsa ano 1995 foi personalizado, com o capô coberto pelo mesmo quebra-cabeça de muitos tons. No alto do para-brisa está a inscrição “autistas diferentes, não incapazes”.
O trabalho pode ser acompanhado pelo perfil do Instagram.
Também com objetivo de ampliar a rede de apoio, o governador Eduardo Leite assinou, nesta segunda-feira (5), o decreto que autoriza a criação de 30 centros regionais de referência e sete centros macrorregionais. O objetivo é organizar e fortalecer as redes municipais de saúde, de educação e de assistência social no atendimento às pessoas com autismo e suas famílias.
— As pessoas precisam ter mais amor no coração. Enxergar o outro apesar da diferença. Mais acolhimento, amor e respeito — defende a mãe de Angelina.
Érika compôs ainda a canção Meu Mundo Azul, em parceria com Gustavo Quadros. A interpretação ficou por conta de Serginho Moah, Tonho Crocco, Tom Rezende, Gustavo Quadros e Marcos Jobim.
Ela reforça a participação voluntária de todos os artistas: nenhum deles cobrou cachê. O trabalho também contou com pós-produção gratuita, pela Produtora Suminsky (Tiago Sumisnk), do Bloco Cinco Um (produção vídeo/imagem) e da Ramma Records.
A gravação nos estúdios obedeceu o distanciamento, segundo o líder da banda Ultramen, Tonho Crocco.
— Entrou um músico por vez, o estúdio era todo higienizado, e depois entrava o outro — explicou o músico.
Tonho Crocco mora na mesma rua de Erika e acompanha a luta da vizinha diariamente. Ele reitera a importância de apoio do meio artístico em causas sociais.
— Usar a música com viés social, se não transforma o mundo, ajuda na transformação — vislumbra uma das vozes na canção.
Desde a composição até a finalização, o processo levou cerca de um mês. Meu Mundo Azul pode ser ouvida no YouTube, Spotify entre outras plataformas.