A farmacêutica Pfizer protocolou junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na quarta-feira (16), os resultados de testes da fase 3 da sua vacina contra a covid-19, que é produzida em parceria com a BioNTech. O passo dado é adotado quando a companhia deseja acelerar os trâmites legais para, futuramente, solicitar o pedido de uso emergencial do imunizante.
Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências das Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que essa etapa não corresponde ao pedido de uso ou registro da vacina. O trâmite faz parte do processo de submissão contínua que é exigido pela Anvisa:
— Geralmente, a empresa faz o estudo sobre a eficácia e o submete à publicação. Como estamos em uma pandemia, as companhias compartilham esses dados diretamente com os órgãos regulatórios, que contam com cientistas muito qualificados, para que as agências façam a análise de eficácia e deem seu parecer. Porque, para aprovar um medicamento, ele não precisa, necessariamente, ter seus resultados publicados em revistas. Em resumo, é isso. A análise será feita, não sei se ela será a principal aposta do Brasil como imunizante, mas estou esperançosa de que os resultados serão bons.
Ou seja, de acordo com a especialista, neste momento, os dados foram submetidos aos cientistas da Anvisa para que eles avaliem a segurança e a eficácia da vacina. O pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), celebra esta etapa por aproximar o Brasil da uma vacina que já teve autorização de uso emergencial em países como Inglaterra, Canadá e Estados Unidos.
— Com informações mais robustas sobre a eficácia e a segurança da vacina, inclusive a partir da experiência em outros países, sua liberação para uso no Brasil pode ser acelerada —afirma Cunha.
Após a aprovação do órgão regulatório cairá nas mãos do governo federal a responsabilidade que lhe cabe: a de negociação e de distribuição do imunizante da Pfizer no país.
— O governo (federal) precisará elaborar a compra, o armazenamento e a distribuição do imunizante. Temos em pauta a questão dos ultrafreezers que precisa ser resolvida. Uma vez que esse estudo for aprovado pela Anvisa, esses deverão ser os próximos passos do Ministério da Saúde — pontua a professora da UFCSPA.
A conservação da vacina da Pfizer é um tópico que preocupa algumas autoridades em saúde, isso porque o produto exige abrigo em temperaturas na casa dos -70°C. Os laboratórios envolvidos no desenvolvimento do imunizante afirmam que já estão cuidando dos preparativos logísticos para distribuição do imunizante, entre eles uma caixa especial que utiliza gelo seco para manter a vacina na temperatura ideal por até 15 dias.
Recentemente, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) revelou que a instituição tem, pelo menos, 20 ultrafreezers, com capacidade para armazenar substâncias a até -80ºC.
Juarez Cunha avalia que, como a primeira leva de vacinas da Pfizer que devem chegar ao Brasil é pequena, isso dará mais tempo para que o país forme uma estrutura adequada para armazenagem e distribuição. De acordo com o Plano Nacional de Vacinação, apresentado nesta quarta-feira (16) pelo governo Federal, a entrega da primeira remessa do produto da Pfizer ocorreria no primeiro trimestre de 2021 em uma parcela de 2 milhões de doses. Será distribuída entre os grupos prioritários.
—É uma quantidade inicial baixa e poderá dar a oportunidade para que se prepare a logística de distribuição e estoque nas capitais — avalia.
Cristina faz coro a essa preocupação. Ela ressalta que recentemente o país sofreu com quase três semanas de apagão no Amapá e aponta a escassez de ultrafreezers no Brasil. Contudo, ela aponta uma solução:
— Se o Brasil fizer uma boa negociação com a Pfizer, pode conseguir o uso temporário de geladeiras. As universidades poderiam fazer um levantamento do espaço que elas têm em seus freezers para abrigar doses da vacina, e o governo federal poderia conseguir, com a própria farmacêutica, por meio de doação, novos ultrafreezers para as universidades. Algo que eles poderiam até abater do Imposto de Renda. Todos sairiam ganhando.