O pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marcelo Gomes comemorou a nova versão do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19, apresentada nesta quarta-feira (16) pelo Ministério da Saúde. O cientista é um dos integrantes do grupo técnico do Eixo Epidemiológico do Plano Operacional da Vacinação contra COVID-19 que teve o nome citado no planejamento enviado pela pasta ao Supremo Tribunal Federal (STF). No sábado (12), o grupo emitiu nota assinada por 36 pesquisadores, que informaram que não haviam sido consultados previamente sobre o documento.
Graduado e doutor em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Gomes participou da reunião realizada na manhã desta quarta entre o grupo de cientistas e a Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis (CTAIDT) do Ministério da Saúde. Ele não quis entrar em detalhes, mas comenta ter sido um encontro rápido para esclarecer dúvidas e sinalizar alterações em relação à versão preliminar, como ele identifica o documento enviado ao STF.
— A reunião de hoje foi importante para apararmos as arestas dos eventos que ocorreram no final de semana, e foi extremamente positiva. Ambas as partes não têm interesse em romper a colaboração. Nós entendemos essa tarefa como uma responsabilidade, enquanto pesquisadores de saúde pública. Da mesma forma, a área técnica do Ministério da Saúde também enxerga que é fundamental esta parceria entre as áreas técnicas do ministério com os especialistas em saúde pública das diferentes instituições e conselhos do país para que, justamente, essas decisões de fundamental importância sejam tomadas em cima do que há de mais relevante e mais avançado do conhecimento científico e das boas práticas em saúde pública — esclarece o cientista gaúcho.
Sobre o plano apresentado nesta quarta pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, Gomes destaca a inserção de pontos considerados por ele como extremamente importantes. Entre eles, a definição dos grupos prioritários, um planejamento de imunização a partir de um conjunto específico de doses que será disponibilizado com certo fluxo e a menção a outros fornecedores, como o Instituto Butantan, responsável pela produção da vacina CoronaVac, em parceria com a fabricante chinesa Sinovac.
— Foi um avanço fenomenal porque permite que, à medida que sejam buscadas essas outras doses de outros fornecedores para poder atender todos os grupos prioritários, vai se redefinindo a logística de aplicação em si — pontua.
O pesquisador vê que o passo atrás dado pelo laboratório AstraZeneca, único em tratativas oficiais com o Ministério da Saúde até agora, é mais um motivo para que o governo tenha uma gama de possibilidades de vacinas porque todas estão em fase de testes. O AstraZeneca decidiu refazer as avaliações da vacina de Oxford para ter um dado mais sólido em termos de eficácia.
— É preferível ter várias opções na mesa do que estarmos ligados a uma ou outra e essas apostas sofrerem algum revés que cause atraso. É bastante positivo ver que as conversas (com outros fornecedores, incluindo o Instituto Butantan) foram retomadas e estão contempladas no plano — explica.
Gomes salienta também a inclusão de indígenas, quilombolas, ribeirinhos, população de rua, todos os funcionários de instituições de ensino, pessoas com deficiência, trabalhadores do transporte coletivo, transportadores rodoviários de carga, população privada de liberdade nos grupos prioritários para vacinação.
— A gente fica muito feliz e satisfeito com as alterações e honrado em ver que, de fato, estamos avançando. Obviamente, ainda não é o melhor plano possível imaginado, mas é assim que a gente vai. Vamos aperfeiçoando para chegarmos ao plano desejado — analisa.
Apesar de estar animado com o avanço, o cientista alerta que o plano ainda está em construção, com pontos a serem melhorados. Por exemplo, ter algo mais sólido, abrangente e claro sobre a distribuição em si:
— Infelizmente, dado o que se tem hoje, não teria como ser diferente no documento apresentado. Precisamos ter dados mais concretos e garantias em relação ao volume maior de doses já para o primeiro semestre de 2021, o que depende das tratativas que estão ocorrendo com os diversos fornecedores.