A Secretaria Estadual da Saúde (SES) confirmou nesta sexta-feira (21) o registro de três casos da síndrome inflamatória multissistêmica (SIM-P). A doença afeta crianças e adolescentes e, segundo informações preliminares divulgadas pelo Ministério da Saúde em julho, pode estar associada às infecções pelo Sars-CoV-2, o coronavírus que transmite a covid-19.
A síndrome foi identificada em três meninas residentes nos municípios de Novo Hamburgo, Porto Alegre e Tenente Portela. De acordo com a SES, antes da pandemia, casos desta síndrome não tinham o registro compulsório junto à pasta. As primeiras notificações ocorreram no dia 8 de agosto.
Os casos registrados são:
- Menina, 6 anos, Novo Hamburgo, em 8 de agosto
- Menina, 2 anos, Tenente Portela (internada em Passo Fundo)
- Menina, 6 anos, Porto Alegre (internada desde o início de agosto)
A reportagem de GaúchaZH busca mais informações sobre o estado de saúde das crianças e se elas tiveram a confirmação para a covid-19.
Por enquanto, pouco se sabe sobre esse quadro clínico, que apresenta diversos sintomas, atinge vários órgãos do corpo e, se não tratado correta e precocemente, pode matar. Descrita como síndrome inflamatória multissistêmica (SIM-P), o quadro clínico é, possivelmente, uma reação grave e tardia à infecção pelo coronavírus. A condição pode afetar crianças e adolescentes de zero a 19 anos, mas há Estados brasileiros que monitoram o quadro até 21 anos.
No Brasil, o Ministério da Saúde publicou nota de alerta sobre a síndrome em maio e passou a fazer o monitoramento em julho.
É possível que haja subnotificação, pelo atraso no envio e atualização de dados ou pela dificuldade de diagnósticos. O ministério reconhece que "por se tratar de uma nova apresentação clínica, ainda pouco conhecida, e de características muito semelhantes à Síndrome rara de Kawasaki, é possível que se tenha subnotificações de casos relacionados temporalmente à infecção pelo Sars-CoV-2".
Segundo o jornal Estado de S.Paulo, há casos registrados dessa síndrome em ao menos 14 Estados e no Distrito Federal.
Os primeiros relatos da SIM-P foram registrados em países da Europa no final de abril, quando os serviços de saúde do Reino Unido e da França reportaram alguns casos. No começo de maio, foi noticiado um número de 15 crianças hospitalizadas em Nova York.
Sintomas
Geralmente, a febre é o primeiro indício da condição, que pode estar acompanhada de dor no corpo, fraqueza muscular, dor de garganta, de cabeça e abdominal, além de diferentes manifestações gastrointestinais. E como o próprio nome diz, a síndrome é multissistêmica é pode afetar vários órgãos e sistemas do organismo, como coração e sistema nervoso central.
— Como toda doença de notificação, tem delay entre a internação e o profissional de saúde fazer a notificação e coletar a notificação. É natural que tenha defasagem de números e podemos ter quadros que não foram identificados — diz Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
No dia 7 de agosto, a entidade publicou nota de alerta para a necessidade de notificação obrigatória da SIM-P em todo o Brasil.
— A covid, claramente, tem subnotificação porque alguns casos são leves, assintomáticos, ainda não há disponibilidade suficiente de teste. No caso da síndrome, são poucos casos e casos que precisam de hospitalização. A tendência é que a subnotificação seja branda.
Saulo Duarte Passos, professor titular de pediatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí, também prevê subnotificação de casos da SIM-P e reforça a necessidade de atenção e vigilância.
— O nosso sistema de notificação ainda é precário. Precisa de envolvimento maior das autoridades, dos profissionais de saúde, de sensibilização maior de todos.
Semelhança com outra doença
Um fator que pode comprometer a correta notificação dos casos é a semelhança que a SIM-P tem com a síndrome de Kawasaki. Sáfadi explica que ambas podem ser confundidas por apresentarem sintomas parecidos, mas a faixa etária acometida e as manifestações mais intensas na síndrome identificada após a covid-19 podem ajudar a diferenciar um quadro do outro. E como ela afeta vários órgãos e sistemas do corpo, pode ainda ser classificada como outra doença.
Passos destaca que o que pode distinguir as condições é a chamada tempestade de interleucina, substância que é a base da cadeia inflamatória na covid-19 e responsável pela inflamação nos pulmões.
— O ideal é que tivéssemos um marcador de diagnóstico (para a SIM-P), mas não tem um exame nem existirá. Depende da sensibilidade clínica do profissional de saúde — afirma Sáfadi.