Referência para casos graves de coronavírus, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) encara dificuldades com efeitos coletivos para manter o atendimento na pandemia. Isso porque, enquanto o hospital continua o trabalho para a expansão de leitos de UTI, a demanda por vagas e a falta de médicos intensivistas aumentam paralelamente.
Nesta terça-feira (23), o hospital registra 50 pacientes no CTI, onde ficam casos graves de coronavírus. Destes, 44 são confirmados e seis suspeitos. A capacidade de leitos na unidade é de 56 leitos.
— Deveríamos trabalhar com uma folga um pouco maior. Houve um aumento de demanda. Nas últimas três semanas, nós dobramos o número de pacientes do nosso CTI Covid. Hoje tem 50 pacientes. Isso sem dúvida se reflete também nas medidas que foram tomadas pelas entidades políticas no sentido de restringir a mobilidade das pessoas. Tomara que possa refletir numa estabilização dessa demanda — avaliou Milton Berger, diretor médico do HCPA, em entrevista ao Gaúcha Atualidade.
De acordo com Berger, o hospital vai disponibilizar mais 10 leitos no CTI Covid até o final desta semana. Essa folga de leitos é necessária, explica, em qualquer operação complexa. Não se trata de ter leitos sobrando, mas sim, de haver segurança para picos de demanda, como a ocorreu na última semana em Porto Alegre:
— Se eu ocupar todos os lotes cirúrgicos, por exemplo, e surge uma cirurgia de urgência, eu não tenho onde colocar. Isso (a folga de leitos) faz com que pequenas variações que são pontuais possam ser atendidas e contempladas. O mesmo ocorre na internação normal. Se trabalhássemos lotados sempre, não podemos contemplar o aumento de demanda.
Ao todo, devem ser implementados 105 leitos até o final de julho no HCPA. A incumbência, no entanto, esbarra também na dificuldade de contratação de profissionais capacitados para operar nos leitos de UTI. Segundo o diretor médico, o hospital "não tem conseguido compor todas as vagas que foram liberadas para médicos intensivistas por problemas de ofertas de mercado".
Além disso, há os profissionais que estão afastados do HCPA por testarem positivo para coronavírus. O hospital já testou 1,6 mil colaboradores com sintomas sugestivos de covid. Desses, 175 deram positivo, dos quais 48 já retornaram ao trabalho. Mas existe um contingente maior que está afastado. A falta de profissionais gera uma necessidade de logística hospitalar, ao passo que o vírus circula na comunidade:
— Talvez tenhamos que deslocar profissionais de não covid para a covid. E intensivistas para dar suporte em leitos covid. Tem algumas dificuldades de pessoal. Um bom número de profissionais já foi contratado por esse modelo de contratação temporária. Quando eles entram, eles tem que ser capacitados, principalmente na área de enfermagem. — afirma — o fato de ser (vaga) temporária talvez possa explicar o fato da dificuldade dessa contratação —completa.
Porto Alegre registra, desde o início da pandemia, 2.927 casos de coronavírus. Há também 68 óbitos devido a doença na Capital. Há 6.068 casos estão em análise. O sucessivo aumento de internações por coronavírus nas UTIs de Porto Alegre atingiu, na sexta-feira (19), um novo recorde, acendendo o alerta de autoridades de saúde.
O número de pacientes de covid-19 hospitalizados chegou a 89, superando em 10% a marca mais alta anterior, de 81 doentes, registrada na quarta-feira (17). Verificado diariamente ao longo das últimas duas semanas, esse crescimento na demanda de leitos de terapia intensiva levou a prefeitura da Capital a discutir novamente medidas de distanciamento social.