Angústias, turnos estendidos de trabalho, poucas horas de sono, falta de tempo para as refeições, novas e rígidas rotinas de higiene para preservar a família, consternação diante de quadros graves e alegria pelos pacientes que apresentam melhora.
Médicos e enfermeiros envolvidos no combate à pandemia de coronavírus estão tendo de adaptar jornadas e aprender a lidar com um turbilhão de sentimentos muito mais intenso do que o exigido em plantões habituais. GaúchaZH convidou três profissionais de diferentes hospitais de Porto Alegre para que compartilhem experiências no Diário do Front, a ser publicado no site e também na versão impressa de Zero Hora.
André Luiz Machado da Silva, 43 anos, é infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição. Médica intensivista, Roselaine Pinheiro de Oliveira, 53 anos, atua como chefe do Serviço de Medicina Intensiva Adulto do Hospital Moinhos de Vento. Isis Marques Severo, 40 anos, trabalha como enfermeira do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital de Clínicas.
– Um dia muito difícil, um dia muito estressante, um dia muito cansativo. A sensação é de que o dia começa, mas não termina, e isso realmente é muito desgastante – contou Roselaine ao final da última quarta-feira (1º).
Nos textos, os médicos e a enfermeira relatam não apenas situações do dia a dia na linha de frente, acolhendo, diagnosticando e internando pacientes com confirmação ou suspeita de covid-19, mas também episódios da vida em família.
André estabeleceu regras rígidas de higiene para quando volta do hospital para casa, na tentativa de proteger a esposa, a médica do trabalho Alexandra Tanski, 36 anos, e o filho, Bernardo, dois anos. Roselaine intercala a leitura de O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel García Márquez, com recentes estudos científicos que demandam sua atenção.
Isis teve de passar pela aflitiva experiência de um isolamento, enquanto aguardava o resultado de seu exame para coronavírus, que acabou dando negativo. Na quinta-feira, depois de encerrar o expediente no Clínicas, a enfermeira tomou banho no hospital e foi para casa. Lavou as mãos com álcool gel antes de abraçar o filho, João Miguel, três anos.
– Mamãe, como você está cheirosa! – elogiou o menino.