O Uruguai ingressou em fase de "quarentena preventiva", a partir desta quarta-feira (25), para a população de 65 anos ou mais, anunciou o presidente Luis Lacalle Pou.
O país adotou, até o momento, medidas menos restritivas em comparação com o Brasil e, sobretudo, com a Argentina, que declarou quarentena total e obrigatória. Conforme o último boletim oficial do Ministério da Saúde do Uruguai, divulgado na noite de terça-feira (24), o país já registrou 189 casos de contaminação pela covid-19, sem óbitos até o momento. As autoridades admitem que, nos próximos dias, deverão ocorrer saltos nos contágios.
Apesar dos problemas fiscais, o país decidiu gastar para garantir que pessoas do grupo de risco possam cumprir o isolamento social. Cerca de 7,7 mil funcionários públicos foram mandados para casa. O governo adotou um mecanismo para permitir que os 17 mil trabalhadores da iniciativa privada com mais de 65 anos, além de empreendedores na mesma faixa etária, recebam remunerações do "subsídio doença", dinheiro que sairá dos cofres públicos. O Ministério do Trabalho uruguaio disse que a iniciativa privada não é obrigada a aceitar a proposta, mas fez o apelo para que acatem a política de subsídio e enviem os trabalhadores idosos para casa.
No Uruguai, as principais medidas de Lacalle Pou estão concentradas nos grupos de risco. No último censo do país, de 2011, o levantamento "ratificou a agudização do processo de envelhecimento da população". As estatísticas oficiais mostram que, dentre a população total de 3,2 milhões de uruguaios, 14,1% são do grupo dos 65 anos ou mais. Diante da crise que afeta mais drasticamente os idosos, há um grande contingente em situação de risco no país.
Lacalle Pou destacou ainda acordo feito com a Associação Uruguaia de Supermercados: ficou acertado que o horário entre 8h30min e 10h será reservado para compras de maiores de 65 anos. A tentativa é reduzir aglomerações e controlar a disseminação do coronavírus.
As fronteiras do país com Brasil e Argentina foram fechadas e cidadãos e residentes uruguaios estão proibidos de deixar o país para fazer turismo até 13 de abril. A chegada de voos da Europa está suspensa desde 15 de março.
Em entrevista coletiva, questionado sobre a necessidade de adoção de medidas mais duras, como o isolamento total, Lacalle Pou disse que a proposição, se efetivada, teria de ser acompanhada das previsões legais impostas a quem descumprir a quarentena, o que poderia gerar prisões. "Nós não estamos fazendo política", disse Lacalle Pou, em nota publicada no site oficial do governo do Uruguai.
Também em recente declaração registrada pela revista Búsqueda, o ex-presidente José Mujica disse que "as consequências econômicas serão muito importantes", avaliando que "não é hora de fazer oposição frontal".
Apesar do foco nos idosos, foram tomadas medidas em relação ao restante da população. As escolas de todos os níveis estão fechadas desde 14 de março, o comércio e os shoppings estão, em maioria, fechados, e as reuniões públicas, vedadas. Nestes casos, o governo Lacalle Pou tem incentivado as pessoas a fazer uma "quarentena voluntária", recomendando que fiquem em casa. Para ajudar nesse plano, a companhia pública de telecomunicações Antel irá acrescentar, durante o mês de abril, recargas gratuitas de 50 GB para os contratantes de planos básicos de internet. A intenção é incentivar o teletrabalho. No plano da assistência, o governo anunciou que irá dobrar o valor do cartão social. Cantinas municipais do interior serão reforçadas com mais alimentos.
As medidas não se limitam à capital Montevidéu, sendo estendidas para todo o país. Consultora da Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), Karla Mateluna relata que a população uruguaia tem cumprido as orientações de isolamento. Ela é baseada em Chuy, na fronteira com o Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil.
— No Chuy, estão cerradas as escolas e alguns comércios. Em geral, a população está seguindo as diretrizes do governo para que as pessoas fiquem em casa e só saiam quando realmente necessário, além de observar normas de higiene e distanciamento. A fronteira está fechada para estrangeiros — relata Karla.
A chegada do coronavírus no Uruguai teve vínculo com um caso exótico. A empresária Carmela Hontou contraiu o vírus após duas viagens à Europa. Ao voltar ao Uruguai, mesmo tendo os sintomas, compareceu a uma festa de casamento com 500 convidados. Da cerimônia, segundo autoridades locais, 44 pessoas teriam saído contaminadas pelo vetor Carmela. Depois da celebração, ela voltou a passar mal, procurou um hospital e foi diagnóstica com coronavírus.