Debaixo de bruta chuva, centenas de pessoas vestidas de azul correram na manhã deste domingo pelo Parque Farroupilha, em Porto Alegre.
Em um dia sem Brique por causa do mau tempo, elas compareceram à Redenção e se submeteram ao toró para dar um recado sobre a importância de prevenir o Acidente Vascular Cerebral (AVC), que atinge uma em cada quatro pessoas, é a segunda maior causa de mortes no mundo e a primeira causa de incapacidade. Nesta terça-feira (29), celebra-se o Dia Mundial do AVC.
— O pessoal é de fé. Apesar da chuva, tivemos cerca de 500 corredores e fizemos um trabalho com as crianças — comemorou a neurologista Sheila Martins, que preside a Rede Brasil AVC e é vice-presidente da Organização Mundial de AVC.
São 13,7 milhões de casos por ano no mundo, com 5,5 milhões de mortes. No Brasil, são 400 mil atingidos, 15 mil deles no Rio Grande do Sul. Com medidas simples de prevenção, alerta Sheila, 90% dos AVCs seriam evitados, poupando vidas e evitando sequelas. O caminho para prevenir passa por fazer atividade física, diminuir o consumo de sal, manter uma alimentação saudável, controlar a depressão e a ansiedade e tratar de condições de saúde associadas, como a pressão alta, o colesterol elevado e o diabetes.
Com promoção do Hospital Moinhos de Vento, que realiza a campanha em parceria com a Rede Brasil, com o Hospital de Clínicas e com a prefeitura da Capital, o evento de ontem contou com várias atividades. Depois da corrida e caminhada, houve avaliação do risco de desenvolver a doença (com verificação de pressão arterial, peso e altura), aulas de dança e palestras focadas na prevenção, nos sinais de alerta e na reabilitação.
Também ocorreu uma atividade especial com as crianças e o lançamento nacional da campanha FAST Heroes. Voltada à faixa etária dos quatro aos oito anos, a iniciativa tem como objetivo ensinar os pequenos a identificar os sinais de um AVC, para que possam chamar socorro e auxiliar familiares. Nesta segunda-feira, a Escola Municipal Vereador Carlos Pessoa de Brum, da Restinga, torna-se a primeira do Brasil a receber a Fast Heroes. Serão capacitadas 250 crianças, 125 da tarde e 125 da manhã.
A campanha busca que elas estejam atentas a três sinais básicos: o sorriso cair de repente para um lado, a pessoa não conseguir manter o braço para cima por nove segundos e os lábios tortos afetarem a fala. Os alunos serão orientados a chamar o 192 nessas situações.
— Quanto mais rápido é o atendimento, menor a chance de sequelas — alerta Sheila.
Cada escola que receber o programa terá cinco semanas de treinamento, uma vez por semana. O treinamento será feito com Sheila e 12 voluntários, entre enfermeiros e estudantes de medicina. Professores também participam dessas aulas.
Entre os participantes da corrida na chuva deste domingo esteve a auxiliar administrativa Luana Souza Machado, 29 anos, moradora de Guaíba. Em maio deste ano, ele começou a sentir dores de cabeça intensas. Depois de uma semana, buscou atendimento e recebeu remédio para enxaqueca. O médico disse que ela deveria procurar um neurologista se a dor não passasse. Dias depois, quando Luana estava no ônibus, a caminho do trabalho, sentiu a visão ziguezaguear e notou que a mão estava bamba. Desembarcou imediatamente e, com dificuldade para manusear o celular, chamou o marido. Depois de passar pelo Hospital de Guaíba e por uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), fez uma ressonância magnética no Hospital Cristo Redentor e teve o AVC constatado.
Luana teve sorte. O AVC foi leve e ela não demorou para buscar ajuda. Depois de uma semana, a visão voltou ao normal. Mais uma semana e teve alta. Não ficou com sequelas. O episódio, no entanto, assustou e provocou uma mudança de estilo de vida: agora a auxiliar administrativa corre com frequência e procura manter hábitos saudáveis. Ontem pela manhã, antes de ir a Porto Alegre, participou de uma prova de corrida de cinco quilômetros em São Leopoldo. Na Redenção, preferiu a caminhada.
— Achei importante participar, pela conscientização dos outros. Peço às pessoas que façam seus exames de rotina, que não deixem a saúde de lado como eu fazia e que deem mais importância à dor de cabeça. Eu sempre tive muita dor, mas nunca procurei um médico. Se tivesse ido, não tinha passado pelo que passei.
Porto Alegre é considerada referência em relação à doença. Dos 65 hospitais que têm centros de AVC no país, 16 estão na Região Metropolitana _ todos capacitados pelo Hospital Moinhos de Vento. A capital gaúcha foi indicada pela World Stroke Organization como referência para países em desenvolvimento. Em consequência disso, uma equipe da BBC, emissora pública britânica, acompanhou as atividades de ontem na Redenção para uma reportagem.
O que é AVC
- É quando ocorre uma súbita alteração na circulação cerebral.
- No AVC isquêmico, há o entupimento de um vaso e a falta de circulação no cérebro. No caso do AVC hemorrágico, rompe-se um vaso sanguíneo
- O cérebro coordena todas as funções do corpo. Quando há um AVC, parte dessas funções pode ficar comprometida. As sequelas dependem do local e da gravidade do AVC
- Muitas vezes, o AVC leva à morte
Sinais de alerta do AVC
1. Perda de força ou sensibilidade ("dormência"), geralmente em uma metade do corpo
2. Dificuldade para falar ou compreender a fala
3. Dificuldade de enxergar em um ou nos dois olhos
4. Tontura giratória associada a falta de equilíbrio e falta de coordenação
5. Dor de cabeça súbita, intensa, que o paciente descreve como "a pior da vida"
Escala SAMU
Para facilitar a compreensão da população, foi criada também a escala Samu, que chama atenção para os três sinais mais frequentes (desvio da comissura labial, perda de força e dificuldade de fala):
Sorriso: peça para dar um sorriso. Verifique se existe assimetria na face.
Abraço: peça para elevar os braços. Verifique se um lado está fraco
Música: Repita a frase como uma música ou uma mensagem. A pessoa consegue falar? A fala está embaralhada ou arrastada? Consegue compreender o que você fala?
Urgente: Aja rapidamente, ligue Samu 192. Se a sua cidade não tem Samu, vá para o Centro de AVC mais próximo.
A prevenção
90% dos AVCs estão ligados a 10 fatores que podem ser modificados. Veja o que fazer:
1. Controle a pressão alta
2. Faça exercícios físicos moderados cinco vezes na semana
3. Tenha uma dieta saudável e balanceada (mais frutas e verduras, menos sal)
4. Reduza seu colesterol
5. Mantenha um peso adequado
6. Pare de fumar e evite exposição passiva ao tabaco
7. Reduza a ingestão de álcool (duas doses ao dia para homens, uma dose para mulheres)
8. Identifique e trate a fibrilação atrial
9. Reduza seu risco de diabetes, converse com seu médicos
10. Reduza o stress e a depressão