Após anunciar, na última terça-feira (2), mais uma suspeita de meningite em São Leopoldo, no Vale do Sinos, a prefeitura da cidade descartou nesta quarta-feira (3) a doença em uma menina que estava internada no Hospital Centenário. Em entrevista ao programa Timeline, na Rádio Gaúcha, o prefeito Ary Vanazzi disse que ficou sabendo do resultado negativo por intermédio de uma postagem que a mãe da paciente fez em uma rede social. A assessoria de imprensa da casa de saúde confirmou à reportagem que os exames foram negativos para a doença. Também foi informado que a menina recebeu alta na manhã de quarta-feira.
Ainda que este possível terceiro caso não tenha se confirmado e que, segundo a prefeitura, não esteja configurado um surto de meningite na cidade, as duas mortes recentes pela doença – de uma jovem de 14 anos, nesta semana, e de uma criança de dois, no dia 12 de março – alarmaram as famílias de São Leopoldo, provocando noites maldormidas e gerando uma peregrinação aos postos de saúde, que tiveram uma quarta-feira marcada pelas filas.
Os mais assustados são os pais que têm crianças na Escola Estadual Amadeo Rossi, onde estudava a adolescente Eduarda Andrade Herbstrith, que morreu na terça-feira, de meningite C.
No começo da tarde de quarta, Carina Marcelino Ribeiro, 37 anos, aguardava diante do colégio, com a carteira de vacinação da filha, Ana Clara, 11 anos, em mãos. A menina é aluna de 6º ano, era amiga de Eduarda e estudava na sala de aula em frente à dela.
Desde a manhã, Carina ia de um lado para o outro. Primeiro, foi com a filha até a escola, porque havia recebido a informação de que haveria uma vacinação de alunos no local pela manhã. Quando chegou, deparou com os portões trancados – os professores resolveram suspender as aulas na quarta, por receio de circulação da bactéria.
Depois, foi para um posto de saúde. Na unidade básica, encontrou uma fila enorme e disseram-lhe que, como a filha era da instituição de ensino Amadeo Rossi, teria de buscar o atendimento na escola. Carina voltou ao colégio e ficou à espera:
— Estou bastante assustada. Além da Ana Clara, tenho em casa mais três sobrinhos. A gente não sabe para que lado correr. Estou com muito medo, apavorada. Estou desde cedo nessa função. Só espero que, nesta noite, possa deitar tranquila, sabendo que as crianças estão imunizadas.
Claudiomiro de Araújo, 47 anos, tem dois filhos no colégio e também se assustou. Resolveu a situação levando as crianças a um posto de saúde de outro bairro, o Feitoria, onde conseguiu vaciná-las na tarde de terça-feira.
— Quem é que não fica preocupado, com dois filhos na mesma escola da menina? — questionou.
Simone Regina Borges dos Santos, 36 anos, estava numa situação que exigia mais cuidado. O filho dela, Matheus Santos Nunes, 13 anos, era colega de turma de Eduarda. Para quem se encontra nesse grupo, está sendo prometida uma medicação preventiva. À espera do remédio para o filho, e também da vacina, ela vinha dormindo mal e sentia dores de cabeça.
— Prometeram isso para nós, já fomos em vários lugares, mas até agora não tivemos respostas. Queremos fazer essa medicação o quanto antes. A impressão é de que estamos perdendo tempo. Com doença não se brinca — criticou.
Na tarde de quarta, a medicação foi oferecida para os colegas de turma no colégio. Mas não a vacina, segundo Simone:
— É um descaso. Amanhã (nesta quinta-feira, 4) vou para o posto de saúde às 5h.
Conforme a prefeitura, na quarta-feira, foi ministrado antibiótico para os 22 colegas de turma da Eduarda.
A partir desta quinta, a prefeitura analisará as carteiras de vacinação de todos estudantes da Escola Estadual Amadeo Rossi e providenciará a vacinação para aqueles que não tenham sido imunizadas, mas que façam parte do público-alvo das campanhas da rede pública.
Secretário municipal de Saúde de São Leopoldo, Ricardo Brasil Charão afirmou que está descartada a possibilidade de surto da doença na cidade:
— São dois casos que estão separados por mais de 20 dias, são de lugares diferentes da cidade e com diagnósticos diferentes.
O prefeito Ary Vanazzi faz coro:
— Estou afirmando que não temos surto de meningite em São Leopoldo.
Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai esclarece que, para ser considerado surto, deve haver uma grande quantidade de casos de uma mesma doença, no mesmo local. O padrão é seguido pela Organização Mundial da Saúde, bem como pelo Ministério da Saúde:
— Em São Leopoldo, foram constatados os tipos de meningite C e B (no caso da menina de dois anos), ou seja, dois casos diferentes.
Para que seja considerado um surto, deve haver um caso que leve a outro, secundário, e assim por diante, sempre da mesma doença. Conforme a especialista, a cidade da Região Metropolitana não foge aos parâmetros de ocorrências da doença no país:
— A taxa de incidência de meningite no Brasil está entre dois a três casos por cem mil habitantes. É uma infeliz realidade, mas São Leopoldo está dentro da normalidade nacional.