Depois da confirmação da segunda morte por meningite em 21 dias em São Leopoldo aumenta a preocupação com um possível surto no município do Vale do Sinos. O primeiro caso foi de uma criança de dois anos, vítima do sorotipo B. O segundo, de uma adolescente de 14 anos, identificada com o tipo C.
Apesar dos registros terem ocorrido no mesmo município, os casos não caracterizam um surto, conforme explica Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm):
— São dois casos não relacionados, embora sejam do mesmo município e causados pela bactéria meningococo. Porém, uma é a sorotipo B e outra C. Meningite é uma doença que ocorre endemicamente, tem casos que ocorrem todo ano. É preciso tranquilizar as pessoas. Coincidentemente, houveram dois casos em um espaço de tempo curto.
O infectologista Claudio Stadnik, do Controle de Infecção da Santa Casa de Porto Alegre, reforça:
— Teoricamente, como são diferentes, diminui a preocupação de que haja surto, que é quando há repetição do mesmo tipo. Se não soubéssemos o sorotipo, poderíamos dizer que é um surto de meningococo. Não há surto de meningite.
Stadnik afirma que, historicamente, não se tem dois casos no mesmo mês — se eles fossem do mesmo sorotipo, poderiam indicar o início de um surto.
— O importante é detectar a indicação de surto para tomar medidas antes que ele se desenvolva — completa o médico da Santa Casa.
Já o médico Márcio Doernte, responsável técnico pela MDC Vacinas, vê com preocupação qualquer registro, pois significa que o germe já circulou pela região e pode haver aumento de casos:
— Qualquer óbito assusta, pois é uma doença muito agressiva e com um comportamento muito rápido.
Saiba mais sobre a doença:
O que é a meningite?
É uma inflamação nas meninges, membranas que recobrem o cérebro e a espinha.
Quais são as causas?
As causas mais comuns são os vírus e bactérias, sendo que as últimas são as mais graves.
— A diferença é que as virais têm baixa mortalidade e as bacterianas são mais fatais, independente da rapidez com que se atue — explica Stadnik.
Dentre as bactérias, a mais comum é a meningococo (Neisseria meningitidis), que apresenta cinco sorotipos: A, B, C, Y e W.
Qual é a diferença dos sorotipos?
Os sorotipos são uma espécie de "subdivisão" das bactérias. No Brasil, o sorotipo mais prevalente é o C, cuja vacina está disponível na rede pública e é parte do calendário vacinal preconizado pelo Ministério da Saúde. O sorotipo B também é comum no país, contudo, a vacinação só é oferecida na rede privada. Ela deve ser administrada em quatro doses, diz Doernte:
— Se seguir o calendário, deve ser dada no terceiro, quinto e sétimo meses de vida com um reforço após um ano. O preço de cada dose varia entre R$ 500 e R$ 600.
Para as demais cepas, a vacina ACWY é oferecida em clínicas particulares. Ela é dividida entre duas doses no primeiro ano de vida e mais uma após um ano. O custo oscila entre R$ 300 e R$ 400 a dose.
O sorotipo A não circula no país. Ele foi mais comum na África, porém, com um esforço de imunização, os números caíram. Por outro lado, o sorotipo W tem registros em Santa Catarina e países como Chile e Argentina.
Como é a prevenção?
A vacina oferecida na rede pública é uma das maiores armas contra o sorotipo mais comum no país, que é o C. Cunha lembra que seguir o calendário vacinal é fundamental para garantir a imunização. Já a vacina contra o sorotipo B é preconizada pelas principais sociedades científicas do ponto de vista da saúde individual. No entanto, o óbito de São Leopoldo não justificaria uma corrida às clínicas.
— Não se justifica em termos de saúde pública. Não tem por que ter pânico. Mas, sob o aspecto individual, há recomendação — destaca o presidente da SBIm.
Medidas práticas do dia a dia também podem evitar a circulação das bactérias: manter os ambientes arejados, evitar aglomeração e visitar pessoas com sintomas respiratórios.
Alunos da escola onde estudava a adolescente que morreu em decorrência da doença não devem entrar em pânico, pois o contágio ocorre com o contato íntimo, ressalta Stadnik:
— Quem morava com ela, dormia com ela ou convivia por mais de seis horas está mais suscetível. Como a transmissão é por gotículas respiratórias, precisa uma proximidade muito grande. Não é só cruzar no corredor.