Familiares das duas meninas que morreram de meningite em São Leopoldo acreditam que falhas nos serviços de saúde podem ter contribuído para o desfecho dos casos. Segundo relato do pai de Luísa da Silva Dias, dois anos, que morreu em 12 de março, a criança recebeu apenas medicação para febre no hospital e ficou mais de quatro horas sem supervisão de um médico, morrendo pouco depois. Parentes da outra vítima, a adolescente Eduarda Herbstrith, contam ter procurado um posto de saúde em busca de vacina, mas foram informados de que a funcionária responsável estava em férias.
Jaime Silveira Dias, 25 anos, diz que entrou com Luísa no Hospital Centenário às 4h do dia 12. Ela tremia, tinha febre e reclamava de dores de cabeça. Conforme o relato do vendedor, os sinais eram tão preocupantes que ela foi encaminhada rapidamente para o atendimento com uma pediatra:
— Ela examinou em menos de dois minutos, só olhou o ouvido e a garganta e disse para a enfermeira dar um remédio para a febre, que ela tremia por causa da febre.
Segundo o relato do pai, a médica afirmou que voltaria em breve, mas não apareceu mais. Luísa só voltou a ser vista por um médico às 8h30min:
— A minha esposa pedia insistentemente à enfermeira: “Minha filha está piorando. Não tem como chamar a médica?”. A enfermeira respondia: “Já chamei, mãe. Tem de esperar”. Foi outro médico quem atendeu ela. Mas aí já não tinha mais o que fazer. Logo ela faleceu, às 9h30min.
Luísa morreu de meningite meningocócica B (ela tinha apenas a vacina da meningite C, que é oferecida na rede pública, diferentemente da B). Jaime acredita que houve negligência e critica a falta de manifestação das autoridades:
— É por isso que estamos indignados. Faz 22 dias que minha filha faleceu e até agora não nos deram respostas. Só dizem que estão apurando os fatos.
O Hospital Centenário informou ter instaurado sindicância administrativa para apurar responsabilidades a respeito do atendimento à menina. O procedimento foi aberto na mesma semana da morte, mas ainda não foi encerrado. Também foi divulgada nota conjunta com a Secretaria Municipal de Saúde, na qual informam que o prontuário médico foi encaminhado ao Ministério Público.
Paciente liberada com diagnóstico de virose
No dia 20 de março, quando esteve no posto de saúde Cohab Duque para uma consulta odontológica, Roberta Martins, 28 anos, encontrou várias pessoas em busca de vacina. Preocupou-se com a filha, Stefany, 13 anos, e com a sobrinha, Eduarda Herbstrith, a adolescente que morreu na terça-feira (2) de meningite C.
— Aquele óbito foi um alerta. Sempre levo as duas para vacinar. No posto de saúde, ouvi que a funcionária responsável havia entrado em férias e que viria outra pessoa. Voltei no dia seguinte, mas disseram para esperar, que precisavam de resposta da Secretaria da Saúde.
Na sexta-feira à tarde, Eduarda foi levada ao Hospital Regina. Conforme a família, recebeu um diagnóstico de virose, tomou medicação e teve alta por volta das 23h. Às 5h30min, despertou, ainda com febre e fortes dores abdominais. Tomou remédios e vomitou, às 6h30min. Pouco tempo depois, estava desacordada e rígida.
Eduarda morava com a avó paterna. Roberta, que mora a dois minutos de distância, foi chamada por telefone e seguiu com Eduarda, em ambulância do Samu, para o Hospital Centenário. De imediato, foi levantada a suspeita de meningite, e a adolescente recebeu antibióticos. Foi transferida para a UTI do Hospital Regina, para atendimento via plano de saúde, mas nunca mais acordou.
Roberta mostrou a GaúchaZH a carteira de vacinação de Eduarda, completa, desde o primeiro mês de vida, e com a indicação de que deveria voltar a um posto em 2019.
O prefeito Vanazzi disse ontem que não havia registro de comparecimento da família de Eduarda à rede de saúde para vacinação:
— Não temos registro de procura de vacina dessa menina nos postos. Mesmo que não tenha funcionário para aplicar, a orientação é que se faça o registro. Não podemos afirmar que ela procurou o posto.
Em nota, o Hospital Regina informou que “no primeiro atendimento a paciente apresentava quadro inespecífico e sem sinais de meningite”. Disse ainda que o quadro apresentado no retorno da paciente “era de meningococcemia, causado pelo meningococo tipo C, doença que apresenta evolução grave, súbita e rápida, não apresentando sinais e sintomas típicos da meningite. Conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP, a doença meningocócica pode variar desde um quadro de febre transitória até doença fulminante, que pode levar a morte em poucas horas.”.