Manter a forma pode ser tão importante para atingir a longevidade quanto não fumar – é o que aponta um novo estudo sobre a relação entre corpo sarado e mortalidade, que também investigou se há limites saudáveis para a boa condição física, ou seja, se existe algo como estar em forma em excesso, e a resposta reconfortante é não.
Até aqui, nenhuma novidade; não é surpresa que pessoas que se exercitam regularmente e possuem alta resistência aeróbica tendem a viver mais do que sedentários e quem está fora de forma. Existe um número enorme de pesquisas indicando que quem faz exercícios vive uma vida mais longa e saudável, comprovando a relação entre exercício e longevidade. Entretanto, muitas dessas pesquisas se basearam nas respostas dos entrevistados sobre sua rotina de exercícios, o que, sabidamente, não é muito confiável.
Para o novo estudo, publicado mês passado no JAMA Network Open, um grupo de pesquisadores e médicos da Clínica Cleveland decidiu buscar meios mais objetivos para determinar a relação entre resistência e longevidade.
Além disso, visto que a maioria dos pesquisadores pratica regularmente atividades físicas e até mesmo compete em alguma modalidade, eles também queriam averiguar se era possível exagerar na dose e, com isso, acabar reduzindo a longevidade.
Para ajudá-los, eles tinham à mão o registro de informações de centenas de milhares de homens e mulheres que tinham realizado, na clínica, testes de esforço, corridas na esteira ergométrica em intensidade progressiva até o limite, ou como parte de um check-up anual ou por solicitação médica para investigar algum problema de saúde ou cardíaco. A condição aeróbica de uma pessoa é determinada tendo como base esses resultados.
Os pesquisadores puderam usar esses dados para acessar registros de 122.007 homens e mulheres acima de 50 anos. As pessoas foram agrupadas de acordo com a forma física individual: desde os 25% menos resistentes, passando pelo grupo dos abaixo e acima da média, até o grupo dos 25% que apresentaram condicionamento excelente. Além disso, isolaram um pequeno grupo de elite representado pelos 2% de vigor máximo.
Em seguida, foram analisados os registros de óbito após uma década da realização dos testes de esforço, chegando-se à conclusão de que algumas das mortes de homens e mulheres estavam intimamente ligadas à forma física. Os números mostraram que as chances de uma morte prematura eram menores entre pessoas com melhores condições físicas e vice-versa.
Os pesquisadores concluíram ainda que tal correlação permaneceu verdadeira em todos os níveis de resistência física, ou seja, as pessoas com valores menores morreram mais cedo do que aquelas com níveis abaixo da média, enquanto os que apresentaram condições físicas excelentes viveram mais do que aqueles posicionados no grupo acima da média.
A vantagem se manteve inclusive entre os níveis mais altos de resistência. Os 2% das pessoas com condição física considerada de elite viveram mais do que o grupo com condicionamento excelente, além de apresentarem aproximadamente 80% menos chance de morrer prematuramente do que os homens e mulheres situados no grupo mais baixo.
— Não encontramos qualquer indicação de que alguém possa estar excessivamente em forma — afirmou Wael Jaber, autor principal do estudo e cardiologista da Clínica Cleveland da Escola de Medicina de Lerner.
Ainda mais surpreendente foi a comparação entre os benefícios da resistência aeróbica aos de outros fatores de saúde. Como já era esperado, as pessoas do banco de dados que fumavam ou tinham doenças cardíacas tinham mais chances de morrer prematuramente do que quem não fumava ou tinha o coração saudável. Entretanto, os riscos numéricos eram parecidos àqueles associados ao estar fora de forma. Em outras palavras, estar fora de forma aumentou as chances de mortes prematuras tanto quanto fumar.
Jaber, entretanto, pede cautela para que os números não sejam mal interpretados. Os prontuários médicos da clínica relatavam apenas se o paciente tinha fumado alguma vez na vida, e não por quantos anos ou com que frequência, o que dificulta a análise dos riscos. As analogias também não pretendem sugerir que estar em forma anula ou reduz os riscos que o fumo traz à saúde, alerta Jaber.
— Praticar exercícios é muito bom, assim como, obviamente, não fumar — completa.
O estudo faz outras ressalvas, como o imprevisível papel dos genes, que influenciam significantemente a forma física. Alguns dos benefícios da boa forma considerados relevantes para garantir a longevidade podem ser consequência de ter os pais certos, segundo Jaber.
Além disso, questões socioeconômicas e outros fatores provavelmente também influenciam o quadro. As pessoas que procuraram pelo teste de esforço na Clínica Cleveland talvez contem com recursos e condições que outros não têm, o que inclui um bom plano de saúde e interesse pela própria saúde.
Talvez o mais fundamental seja apontar que o estudo não analisou o exercício propriamente dito, apenas as condições físicas e, por isso, não pode nos dizer o quanto precisamos nos mexer a fim de aumentar nossa expectativa de vida.
De qualquer maneira, as descobertas são empolgantes.
— Sabemos por outras pesquisas que é possível melhorar a forma física com exercício, por isso, baseado nesse estudo e nos demais, posso afirmar que fazer exercícios é uma excelente ideia se a intenção é viver uma vida longa e saudável — diz Jaber
Por Gretchen Reynolds