São poucos os que se interessam por malhação e não conhecem o conceito do treino intervalado de alta intensidade, que intercala ciclos bem curtos de exercício intenso com períodos de descanso, mas muita gente se intimida ao pensar em experimentar esse tipo de programa.
Segundo a minha colega Tara Parker-Pope, o uso de um monitor dos batimentos cardíacos a ajudou a superar o medo do HIIT, porém, um novo estudo mostra que, para muitos, o fato de experimentar esse tipo de atividade pode ser crucial na decisão de mantê-lo como parte da rotina diária.
A análise desbanca conceitos bastante difundidos sobre os efeitos psicológicos do exercício intenso e indica que séries curtas e árduas podem ser uma alternativa prática a outras formas de exercício, em parte porque não as odiamos.
O conceito vem ganhando bastante atenção de uns anos para cá graças aos experimentos mostrando que mesmo uns poucos minutos por semana de intervalos extenuantes melhoram a boa forma aeróbica e outros aspectos da saúde tanto quanto horas de corrida ou bicicleta em velocidade moderada.
Há cientistas, porém, que alegam que o potencial de benefícios físicos desse treinamento intenso é ilusório se a pessoa não completar as sequências.
Suas observações são baseadas em pesquisas anteriores que afirmam que, se o exercício é intenso, a maioria afirma não gostar de fazê-lo. Acontece que eles basicamente examinaram a atividade intensa contínua, e não a espaçada, que alterna o esforço extremo com períodos de descanso.
Por isso, para a nova pesquisa, publicada em maio na Medicine & Science in Sports & Exercise, pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica em Kelowna e da Universidade McMaster de Hamilton, Ontário, decidiram pedir a um grupo de pessoas comuns que tentasse várias atividades físicas para ver se gostava de alguma.
E começaram reunindo 30 homens e mulheres, basicamente sedentários, que nunca tinham experimentado o HIIT antes, em laboratório; testaram sua capacidade física e explicaram as diferentes formas de mensuração e a avaliação que fariam durante a atividade. Uma delas pedia que calculassem a intensidade relativa do exercício em uma escala de um a 10, enquanto outra pedia a classificação da agradabilidade (se houvesse) na mesma proporção.
Depois, pediram que cada voluntário fizesse três sessões em dias diferentes. No primeiro, os participantes tiveram que usar uma bicicleta ergométrica durante 45 minutos, em ritmo moderado e constante.
No segundo, experimentaram o HIIT, pedalando forte durante um minuto, descansando outro, e repetindo a sequência 10 vezes.
No terceiro, foram apresentados ao treinamento de intensidade superalta, que consistia em pedalar o mais intensamente possível durante 30 segundos, três vezes, com dois minutos de descanso entre cada um.
Aproveitando esses períodos, os cientistas pediram aos voluntários que dissessem como se sentiam durante o intervalo de esforço e depois, avaliando cada opção de acordo com a mais e menos prazerosa.
Por fim, naquele que talvez tenha sido o elemento mais importante do estudo, os especialistas se despediram dos participantes, mas pediram que mantivessem um registro de suas atividades físicas pelo menos um mês, para ver se alguém optaria por dar prosseguimento ao programa físico por vontade própria.
E não houve surpresa alguma quando os cientistas obtiveram os resultados, com os ciclistas relatando unanimemente menos cansaço e mais satisfação durante as pedaladas moderadas, principalmente quando a avaliação foi feita perto do fim dos intervalos exaustivos.
Entretanto, depois de baixada a poeira, as opiniões mudaram, com quase todos os voluntários definindo, em retrospecto, que a parte mais extenuante foi tão agradável quanto a suave e, de fato, classificando o intervalo de HIIT padrão como o mais prazeroso.
Quase 80% deles também ensaiaram pelo menos uma sessão de treinamento intervalado no mês após o experimento, embora tenham completado programas mais moderados ao longo desse tempo.
— Essas conclusões revelam que os intervalos podem ser menos penosos do que a maioria imagina — afirma Matthew Stork, doutorando da Universidade da Colúmbia Britânica que liderou o estudo.
Ainda segundo ele, embora talvez não seja um aval indiscutível das alegrias do exercício extremo, o resultado também sugere que o que a pessoa sente durante o intervalo de atividade intensa nem sempre reflete como se sente depois, inclusive podendo fazê-la querer repetir a sequência extrema mais tarde.
Entretanto, o estudo foi pequeno, é claro, e envolveu apenas uma sessão supervisionada de cada modalidade – e, por isso, não pode dizer se todo mundo vai desenvolver reações emocionais semelhantes ao treinamento intenso, ou se nossos sentimentos em relação a ele podem mudar com experiência e/ou boa forma mais pronunciada.
A análise também reforça o fundamento do exercício intervalado, ou seja, é difícil e fisicamente exigente, o que faz com que certas pessoas jamais os apreciem.
Mesmo assim, de acordo com Stork, se você tiver pouco tempo, sessões de intervalo curto podem ser a solução para a inclusão dos exercícios físicos na sua vida.
— Mas só dá para saber se você vai gostar ou não se tentar — conclui.
Por Gretchen Reynolds