Um diagnóstico de câncer, mesmo um em estágio inicial e com grandes possibilidades de cura, pode deixar algumas pessoas com a sensação de que, de repente, perderam o controle de seu futuro e que precisam fazer o que puderem para recuperá-lo.
Elas buscam orientação na internet, com amigos e conhecidos, que rapidamente vão contar casos de curas milagrosas com remédios alternativos que afirmam poupar os pacientes dos desafios dos tratamentos estabelecidos, como cirurgias e radio e quimioterapias.
O grupo de internet Respostas Integrativas sobre o Câncer afirma que 83% dos doentes escolhem usar uma ou mais formas de medicina alternativa, desde acupuntura e ervas até vitaminas e ioga, na maioria das vezes em conjunto com terapias cuja eficácia foi comprovada clinicamente.
No entanto, um pequeno, mas significativo número de pacientes rejeita os tratamentos oferecidos por oncologistas tradicionais e, em vez disso, busca remédios alternativos que não têm suporte de pesquisas cientificamente válidas. Suas razões vão do desejo de se sentir mais fortes ao tomar suas próprias decisões sobre seu tratamento até evitar os efeitos colaterais tóxicos com a escolha de remédios que eles consideram inofensivos.
No entanto, será que esses remédios realmente são inofensivos? Quando os medicamentos que se provaram benéficos são substituídos por aqueles apoiados apenas na vontade de ver um resultado, em casos isolados ou em má ciência (se houver alguma ciência por trás deles), o resultado pode ser uma sentença de morte.
Em um estudo recente de pesquisadores da Escola de Medicina de Yale, nos Estados Unidos, com 281 pacientes com cânceres potencialmente curáveis de mama, pulmão, cólon, reto ou próstata que ainda não haviam se espalhado para além de seu local de origem, o uso de medicinas alternativas em vez de tratamentos convencionais contra o câncer resultou em uma taxa de mortalidade total 2,5 maior do que a experimentada por pacientes que receberam a terapia padrão.
Entre as mulheres com câncer de mama, escolher remédios alternativos resultou em um aumento de quase seis vezes na chance de morrer durante um período médio de acompanhamento de 5,5 anos. Para pacientes com câncer de cólon ou reto que escolheram esses tratamentos, a taxa de mortalidade foi 4,5 vezes mais alta. Para os com câncer no pulmão, duas vezes maior.
Apenas os homens com câncer de próstata que rejeitaram os tratamentos padrão não tiveram diferença no risco de morte durante o período de acompanhamento, um resultado que, segundo os pesquisadores, possivelmente reflete o crescimento lento típico desse tipo de tumor. As descobertas foram publicadas no periódico Journal of the National Cancer Institute.
A equipe de pesquisa, liderada pelo radiologista terapêutico Skyler B. Johnson, enfatizou um ponto muito importante: a medicina alternativa, que os autores definem como "uma terapia não comprovada aplicada no lugar do tratamento convencional", não é a mesma coisa do que tratamentos complementares ou integrativos, que são usados como acréscimos ou complementos do tratamento padrão.
Muitas vezes, quando a "medicina alternativa" é usada em vez de tratamentos médicos convencionais, ela atrasa o uso de medicamentos que têm eficiência reconhecida e dá tempo para um câncer que seria curável se tornar letal.
Em um relatório relacionado que saiu em JAMA Oncology, a equipe de Johnson escreveu que as taxas de mortalidade mais altas associadas aos tratamentos alternativos usados pelos pacientes em seu estudo provavelmente foram "mediadas pela recusa do tratamento convencional do câncer".
A diferença da medicina complementar
A medicina complementar, por outro lado, tem riscos menores, já que é usada com os remédios padrão, em geral para diminuir os efeitos colaterais e aumentar a sensação de bem estar. Se escolhidas adequadamente, as terapias complementares não devem interferir com os benefícios dos tratamentos estabelecidos.
A medicina integrativa se refere a uma abordagem combinada de remédios comprovados clinicamente com uma ou mais práticas usadas em medicinas complementares e alternativas reconhecidamente seguras e efetivas.
No entanto, nem todo tratamento alternativo aos quais os pacientes recorrem é seguro. Alguns podem interferir com a eficácia dos remédios estabelecidos ou causar reações adversas quando combinados com estes. É mais possível que isso aconteça quando os pacientes os usam sem conversar sobre as interações com os médicos.
A Sociedade Americana de Câncer reconhece que "muitos médicos podem não saber sobre o uso, os riscos e os benefícios potenciais desses tratamentos não convencionais". Ainda assim, a organização pede aos pacientes que conversem com seus médicos quando estiverem pensando em usar um medicamento complementar, para ter certeza que ele não vai interferir com o tratamento regular.
Eles pedem aos pacientes que façam uma lista de todos os suplementos que estão tomando ou planejam tomar e mostrem aos profissionais, que podem ajudar os pacientes a identificar quais produtos são fraudulentos ou perigosos. Segundo a sociedade, é provável que haja "métodos convencionais para tratar efeitos colaterais ou sintomas" associados com o câncer e seus tratamentos estabelecidos, e os médicos podem recomendá-los.
O mais importante, segundo a organização é: "Não atrase ou pule um tratamento regular sem avisar o profissional de saúde. Se você está pensando em parar ou não fazer mais o tratamento convencional, por favor, fale com o seu médico sobre o assunto".
De qualquer maneira, a sociedade afirma que as decisões sobre o tratamento, em última instância, são sempre do paciente. "Mesmo que você esteja desistindo do único tratamento comprovado para o seu câncer, essa ainda é uma escolha sua", esclarece a assessoria da instituição.
10 opções seguras
Se for usar um método alternativo como complemento, não um substituto para o tratamento convencional, a Clínica Mayo sugere 10 opções que são seguras e podem ajudar a lidar com sinais e sintomas causados pelo câncer e por seus tratamentos, como ansiedade, cansaço, náusea e vômitos, dores, dificuldade para dormir e estresse.
- A acupuntura pode aliviar náuseas e dores.
- A aromaterapia também pode ajudar a aliviar as náuseas, as dores e o estresse, mas os pacientes são advertidos contra o uso de grandes quantidades de óleo de lavanda e de melaleuca na pele.
- Os exercícios físicos podem funcionar contra o cansaço e o estresse e melhorar o sono.
- A hipnose pode controlar a dor e o estresse.
- As massagens podem aliviar a dor, a ansiedade, a fadiga e o estresse, embora não sejam totalmente seguras para pacientes com baixas contagens sanguíneas.
- A meditação pode diminuir a ansiedade e o estresse.
- Já foi provado que a terapia musical alivia a dor e controla as náuseas e o vômito.
- As técnicas de relaxamento, como o relaxamento progressivo dos músculos, podem melhorar o sono e diminuir a ansiedade e o cansaço.
- O tai chi chuan diminui o estresse e melhora a força e o equilíbrio.
- A ioga também alivia o estresse e o cansaço e melhora a qualidade do sono.
Por Jane E. Brody