A funcionária pública Adriane da Silva Carvalho, 34 anos, aprendeu a tratar-se com mais delicadeza, dominou em parte a ansiedade que a levava a exageros à mesa e doutrinou o comportamento diante dos desafios. Há anos fazendo um tratamento psicoterapêutico, ela resolveu incluir a meditação na rotina por sugestão de seu psiquiatra, o médico Leandro Pizutti, pesquisador do Laboratório de Cronobiologia e Sono do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e membro do Núcleo de Psiquiatria e Espiritualidade da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (Nupe/APRS). Adriane ganhou novo ânimo para encarar a compulsão alimentar e a ansiedade que a levaram aos 138 quilos – há seis anos, submeteu-se a uma cirurgia bariátrica e perdeu 65 quilos. Aos poucos, tem abandonado hábitos nocivos, como tomar café da manhã consultando o celular e se auto-ofender quando toma uma atitude que julga equivocada.
– A meditação ajuda você a se acolher, aceitar-se como é e a ver o que fazer para melhorar. Eu sempre fui muito ansiosa, ainda sou, mas acho que estou muito melhor, e ainda quero que a meditação seja algo diário. Essa prática me deu outro olhar sobre o meu tratamento e também sobre mim – diz Adriane.
A meditação tão elogiada pela funcionária pública deixou de ser uma terapia complementar somente ao alcance de quem pode pagar por ela. No final de março, o Ministério da Saúde incorporou mais 14 tratamentos desse tipo ao Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de uma portaria que amplia a oferta da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PICs). A medida, além de aproximar os pacientes que dependem do sistema público dessas terapias, é uma espécie de chancela a práticas que há muito vêm sendo utilizadas na busca de saúde e bem-estar e que cada vez mais encontram acolhimento dentro da medicina convencional, como ioga, reiki e musicoterapia.
Os médicos reforçam que essas terapias não são alternativas a tratamentos convencionais, mas complementares. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS), que estimula a oferta dessas práticas nas redes de saúde mundo afora, descreve a terapia complementar como aquela que é associada a medicina convencional, mas não a substitui. Já o termo alternativa refere-se à prática utilizada substituição ao convencional. No SUS, o encaminhamento do paciente para tratamento com essas técnicas deverá ser via indicação médica após consulta na unidade básica de saúde.
O psiquiatra Lendro Pezutti é um simpatizante desses métodos, mas entende que se apoiar nesses tratamentos não deve ser uma decisão unicamente do médico, ainda que parte dessas terapias já conte com evidências científicas de eficácia – como é o caso da acupuntura e da própria meditação – que deixam os profissionais mais à vontade em sugeri-los.
– A indicação de terapias complementares deve ser fruto de um acordo entre médico e paciente. Para que realmente tenham sucesso, elas precisam fazer sentido para quem vai praticar. A pessoa precisa se permitir a experiência – avalia.