A morte de um bebê de sete meses do Amazonas, confirmada nesta quinta-feira (5), e a divulgação, nesta semana, do sétimo caso de sarampo no Rio Grande do Sul em 2018, acende um alerta e faz as autoridades de saúde reforçarem a necessidade de vacinação, forma mais efetiva de se proteger e de evitar a disseminação da enfermidade. Outras duas mortes já foram registradas no país neste ano, em Roraima.
A última vez em que o Estado teve notificações de sarampo foi em 2011, com sete casos importados. Neste ano, notou-se dois tipos de vírus entre os infectados no Estado, um observado na Venezuela e no Norte do Brasil, e outro que tem circulado na Europa nas zonas com surto da doença, o que preocupa autoridades e especialistas com a proximidade do fim da Copa da Rússia e o retorno de torcedores em viagem.
Para o pediatra integrante do Comitê de Infectologia da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul Juarez Cunha, é possível que mais pessoas venham contaminadas do continente europeu, ajudando a ampliar o surto local. Antes do Mundial, o Ministério da Saúde, com o mesmo receio, havia recomendado que os torcedores que embarcassem para a Europa atualizassem a vacinação.
— O vírus tem uma fase de incubação de uma a três semanas, então, pode ser que tenhamos mais casos a partir destes que já registramos. Mas mesmo depois de três a cinco dias do contato com o vírus, a pessoa pode se vacinar e conseguir a proteção. Melhor se for três dias depois — adianta o pediatra.
O caso mais recente em território gaúcho, segundo o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), envolve uma mulher de 29 anos, moradora de Vacaria, na Serra, que teve contato com algum dos outros casos confirmados em Porto Alegre. Todos são importados ou relacionados à importação. Mas, para Cunha, o fato de os primeiros registros terem sido de contaminação fora do Estado não afasta o rigor com que a prevenção precisa ser tratada, mesmo porque esses casos indicam que o vírus está circulando por aqui e já permitem configurar a situação como um surto.
— Surto é quando temos uma mudança do quadro epidemiológico de um lugar. No ano passado, não tivemos nenhum caso, agora temos sete — explica Cunha.
A Secretaria Estadual da Saúde também está alerta sobre a questão e também sugere aos viajantes em retorno da Rússia, onde há registro de casos da doença, que tenham atenção redobrada em caso de sintomas como febre alta, manchas pelo corpo e coriza. O órgão garante que os serviços de vigilância epidemiológica estão preparados para investigação de casos suspeitos e para tomar as medidas de controle. Em 2018, o Rio Grande do Sul já recebeu 251.592 doses da vacina tríplice viral, contra o sarampo, mas a cobertura tem apresentado queda ano a ano.
Quem já tomou (vacina), mas não tem como comprovar, deve se vacinar e não há problema de receber a dose se já se vacinou e não lembra.
JUAREZ CUNHA
Pediatra integrante do Comitê de Infectologia da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul
Cunha também faz um alerta para que a preocupação de prevenir não recaia somente no público infantil. O sarampo é uma doença grave em qualquer idade e as complicações – basicamente de ordem respiratória – podem levar à morte. Na França, por exemplo, entre os casos fatais estão duas mulheres não vacinadas, uma de 26 e outra de 32 anos.
O público adulto, comenta o médico, também fica mais vulnerável porque costuma considerar a vacina feita antigamente aos nove meses de vida como garantia. Essa dose não é mais contabilizada no esquema de imunização, somente as aplicadas após um ano de idade. Outro ponto é que a memória pode estar dando uma forcinha ao inimigo, já que muita gente confunde a doença com outras viroses de sintomas semelhantes.
— Quem já tomou, mas não tem como comprovar, deve se vacinar e não há problema de receber a dose se já se vacinou e não lembra — esclarece.
Histórico do surto
De acordo com dados divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde, a primeira notificação no Rio Grande do Sul ocorreu em março, em São Luiz Gonzaga, na região das Missões. Tratava-se de uma criança de um ano, não vacinada, que havia se contaminado durante viagem à Europa, onde há um surto da doença. A segunda confirmação foi de uma estudante de 25 anos, de Porto Alegre, que esteve em Manaus, onde também ocorre surto de sarampo. Os quatro casos registrados na sequência também são de moradores da Capital que tiveram contato com a estudante. O sétimo caso confirmado se trata de uma mulher de 29 anos, moradora de Vacaria que esteve vinculada a algum dos casos de Porto Alegre.
Antes de ocorrer o processo de eliminação do vírus, o último caso confirmado no Estado foi em 1999. Em 2010, houve oito casos importados e, em 2011, sete. Desde então, não havia registro da circulação do vírus em território gaúcho.
Erradicação
As Américas foram consideradas livres de sarampo em setembro de 2016, após a ausência da circulação do vírus por 12 meses.
Casos confirmados em 2018
Rio Grande do Sul - 7 importados ou relacionados à importação
Mortes no Brasil - 3
O sarampo no mundo
- Em 2016, ano que o Brasil havia ganhado certificado de livre do sarampo, registraram-se 89.780 mortes pela doença no mundo. Foi a primeira vez em que o número de óbitos pela enfermidade ficou abaixo dos 100 mil notificados a cada ano.
- A vacinação contra o sarampo levou a uma queda de 84% nas mortes pela doença no mundo entre 2000 e 2016.
- Estima-se que, entre 2000 e 2016, a vacina contra o sarampo tenha evitado 20,4 milhões de mortes, tornando-se um dos melhores investimentos em saúde pública.
Sintomas e vacinação
- Qualquer indivíduo que apresentar febre e manchas no corpo acompanhado de tosse, coriza ou conjuntivite deve procurar os serviços de saúde para a investigação, principalmente aqueles que estiveram recentemente em locais com circulação do vírus.
- A vacinação não é aconselhada para mulheres grávidas.
- Quem já teve a doença já está imunizado para a vida toda.
Quem pode se considerar vacinado
- Pessoas de um a 29 anos que comprovem duas doses de vacina com componente sarampo/caxumba/rubéola.
- Pessoas de 30 a 49 anos que comprovem uma dose de Tríplice Viral.
- Profissionais de saúde independentemente da idade que comprovem duas doses de Tríplice Viral.
Qualquer dúvida, dirija-se ao posto de saúde com sua caderneta de vacinação ou entre em contato com o Disque Vigilância pelo número 150.
Em uma série histórica, a cobertura de tríplice viral no RS:
- 2014 = 107.7 %
- 2015 = 87,8 %
- 2016 = 90,4 %
- 2017 = 83,14 %
- 2018 = 81,05 **
** Em 2018 são dados preliminares.
Fonte: Programa Nacional de Imunizações