Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta segunda-feira (17), o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, disse não ter um prazo para a conclusão do serviço de limpeza da cidade, mas garantiu que a prefeitura tem um cronograma e que a força de trabalho está atuando em vários turnos:
— Estamos trabalhando em todos os bairros atingidos. A força de 1,5 mil pessoas e maquinários foi dividida. Zona Sul e Extremo Sul continuam com problemas, em volumes menores; na Cidade Baixa, Menino Deus e Centro a limpeza está bem avançada. O Sarandi foi o último local em que água baixou. Ele sofre duplamente, porque a água saiu por último e porque é um bairro muito grande, então nossa força de trabalho está proporcional aos bairros — afirmou.
Milhares de toneladas já foram retiradas das ruas, mas alguns bairros, sobretudo da zona norte da Capital, seguem com vias intransitáveis em razão do lixo acumulado.
O prefeito voltou a falar das manifestações e frisou que isto não irá alterar a ordem de atendimento:
— As pessoas estão fazendo protestos, botando fogo na rua, mas isso não vai mudar nosso cronograma. Compreendo e respeito a indignação, mas não posso desarranjar o sistema em função de manifestações, algo como quem protesta leva primeiro. Vamos manter o cronograma e vamos chegar também na porta de quem está protestando.
Crise financeira
O prefeito estipula em mais de R$ 400 milhões o montante necessário para as obras emergenciais da cidade. De acordo com Melo, é importante a União e o Estado rediscutirem a compensação de receitas.
— Se não tiver uma compensação de receitas dos municípios e do Estado do Rio Grande do Sul, a gente não tem como segurar isso, porque você aumenta enormemente os gastos e você perde enormemente as receitas, então essa equação não tem como fechar — afirmou o prefeito, mencionando que parte da receita do Estado, que vem do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), é distribuída para os municípios.
A prefeitura segue aguardando uma resposta definitiva por parte dos bancos a respeito da suspensão de pagamentos de financiamentos da Capital:
— Partiram ofícios nossos para todos os bancos pedindo a suspensão por dois anos: daria R$ 560 milhões se aceitassem nossos pedidos. A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil suspenderam nossos pagamentos até dezembro, já fui comunicado disso e falei que temos que voltar a falar disso. O Banrisul, se não me engano, suspendeu por dois anos, o BNDES ainda não tinha se manifestado, e os bancos internacionais já se disseram informalmente que não vão fazer isso porque tem regras internacionais que complicariam a governança deles. A gente vai continuar trabalhando para sensibilizar a Caixa e o Banco do Brasil para que volte a analisar a possibilidade de estender um pouco mais.
Áreas de risco
Além de ressaltar a importância de um trabalho conjunto para reorganizar as áreas de risco, Melo falou sobre a necessidade de um plano seguro para convencer os moradores a saírem desses locais:
— Essa transição de quem está morando em abrigo ou em casa de familiares, se o governo não oferecer uma transição e um plano seguro, dificilmente essas pessoas aceitam sair. Não há outro caminho para retirada das pessoas que não seja pelo convencimento. Você não acolhe uma pessoa numa comunidade sem analisar a questão social. A maioria dessas pessoas nunca pagou água, luz, taxa de lixo. Tem que ser levado em conta a renda delas também.
Sistema de proteção
O sistema de proteção da cidade precisará de reformas. De acordo com ele, novas contratações devem ser feitas em caráter emergencial e as primeiras obras devem ocorrer nos diques e comportas da Capital:
— Vamos usar o modelo da MP.1221 que encurtou alguns prazos. As comportas precisam ser refeitas, isso está decidido. Se vai demorar, temos que refazer precariamente até que cheguem as comportas novas. Em relação ao Trensurb, as casas de bombas precisam ser modernizadas, e tem portões que não têm nenhuma utilidade: a engenharia precisa decidir se vamos ter comportas ou se vamos fechar os locais.
O Rio Grande do Sul deve receber até terça-feira (18), cerca de 150 milímetros de chuva. Os rios que deságuam no Guaíba, como Taquari e Caí, já estão em cota de inundação. De acordo com Melo, haverá alterações no nível do Guaíba, mas sem grandes preocupações:
— Até agora não chegou a quantidade de chuva que havia sido anunciado, mas vai chover mais. Os rios estão subindo e vai ter alteração do Guaíba. Estamos atentos. Nossas 22 casas de bomba funcionaram no fim de semana, tivemos 14 geradores (nas casas de bomba) caso houvesse a necessidade e continuamos recolhendo lixo e hidrojateando nossas redes.