A decisão do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) de fechar definitivamente oito das 14 comportas do sistema de proteção contra cheias de Porto Alegre passa por falhas identificadas pelas equipes do órgão e da prefeitura na função de algumas delas durante a enchente de maio.
As comportas de número 3, 5, 7, 8, 9, 10, 13 e 14 serão construídas em concreto com ferro. O portão 11 será concretado de forma parcial, ficando um vão de quatro metros de largura para acesso de veículos e pedestres.
Um projeto com os detalhes deverá ser apresentado em até 30 dias. A empresa responsável pela construção será contratada depois disso. A ideia da prefeitura é começar o serviço no máximo em 60 dias. O custo da obra deve ficar perto dos R$ 10 milhões.
Segundo o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, as comportas localizadas na Avenida Castello Branco são muito antigas e se mostraram "insuficientes" durante o evento recente.
— Muitas delas já estavam permanentemente fechadas há muitos anos. Antigamente, o Cais era muito mais movimentado e tinha a funcionalidade dos armazéns, coisa que hoje não existe mais — afirma Loss.
Duas comportas ainda estão em processo de análise para ver se serão de fato concretadas. Uma delas é a 10, que fica na Rua da Consolação, no bairro São Geraldo. O motivo é que a Ambev a utiliza como acesso e a deseja aberta. Se a empresa não ceder à sugestão do Dmae, ficará responsável pela manutenção e terá o compromisso de fechá-la em caso de inundação.
A outra é a comporta 14, situada sob o viaduto da Sertório, perto do DC Navegantes. Fica na Avenida João Moreira Maciel e tem função de entrada e saída de veículos para a cidade. Ou seja, diz respeito à mobilidade urbana da Capital. A alternativa seria direcionar o trânsito para a comporta 12, na Rua Voluntários da Pátria. A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana já teria sinalizado para o Dmae que pode fechar a 14.
A medida de concretar as comportas poderá ser modificada mais adiante. Conforme Loss, se o projeto do governo do Estado em relação à concessão do Cais Mauá avançar no futuro, a decisão poderá ser revertida.
— Entendemos por bem fechá-las para não termos que nos preocupar com comporta, se tem de botar saco de areia ou fazer manutenção. Fecha com parede, com concreto e ferro e blinda bem essa parede para ter robustez e aguentar a força da água — detalha o diretor-geral.
Durante a enchente do mês passado, a comporta 14 rompeu com o aumento do nível do Guaíba. A comporta 3 foi aberta pela prefeitura para, além de aumentar o ritmo de escoamento, facilitar o acesso a duas casas de bombas localizadas nas proximidades. E a 12 foi aberta para ajudar na saída da água represada de volta para o Guaíba.
A comporta 4 fica em frente ao pórtico do Cais Mauá e permanecerá com a função atual. Outras que não sofrerão alteração serão a 6, junto à estação Trensurb no Mercado Público e que dá acesso ao catamarã, e as 1 e 2 (principais acessos ao Cais Embarcadero), além da 12, localizada na Rua Voluntários da Pátria e próxima à Avenida Cairú.
IPH considera positiva concretagem das comportas
O professor Fernando Fan, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), menciona que do ponto de vista hidrológico a substituição das comportas móveis por uma proteção fixa é algo positivo.
— Representa mais proteção, porque agora tendo previsão de chuva ou subida (do Guaíba), tu não precisa mais agir rapidamente para fechar esta comporta ou se preocupar com o risco de ela não vedar ou ceder à pressão da água como aconteceu durante a enchente — ilustra o docente.
O muro de proteção possui três metros para cima e outros três para baixo do solo. Nos pontos dessas comportas não há os três metros para baixo construídos. Ou seja, isso precisará ser feito, alerta Fernando Fan.
— Onde as comportas foram construídas não tem esses três metros para baixo. Terão de fazer alguma vedação para evitar que a água passe por baixo. Mas as técnicas construtivas que serão adotadas, acredito que serão suficientes para vedar por completo aquele vão — pondera.
Portos RS não enxerga problemas na medida
A Portos RS também não vê problemas em relação ao fechamento das oito comportas previstas no plano do Dmae. Responsável por organizar, gerenciar e fiscalizar todo o sistema hidroportuário do Estado, a empresa pública lembra que utiliza apenas as de acesso ao porto.
— Existem comportas que o porto não utiliza como acesso e por nós não há problema algum de serem fechadas, desde que isso esteja dentro do projeto definitivo do Dmae — diz o presidente da Portos RS, Cristiano Klinger.
— Tratam-se de comportas que a gente não utiliza hoje em dia e que ficam permanentemente fechadas. A única relação que possuímos são os usos daquelas que dão acesso ao porto, mas o projeto em si é com o Dmae — conclui o dirigente.